A beleza transformada em arte de viver na Inglaterra vitoriana, contraída em seus princípios morais e rígidos, é o que o Museu d'Orsay - Paris - apresenta, numa uma exposição dedicada ao movimento estético inglês da segunda metade do século XIX.
Uma efervescence mostra, sem doutrina preestabelecida, inclui pintores pré-rafaelitas como Dante Gabriel Rossetti e Edward Burne-Jones, além do americano James McNeill Whistler, do design Edward Godwin e Christopher Dresser, com peças palpitantes de modernidade.
Isso, sem esquecer o escritor irlandês Oscar Wilde, cujos aforismos pontuam a exposição.
Intitulada Beleza, moral e voluptuosidade na Inglaterra de Oscar Wilde, apresenta 250 obras, entre elas 40 pinturas, 50 peças gráficas, esculturas, móveis, objetos, roupas e desenhos criados por esses artistas.
Reprodução/National Portrait Gallery - UK
O poeta Oscar Wilde
É a primeira vez que o Aesthetic Movement, que se estende de 1860 a 1900 na Grã-Bretanha, torna-se objeto de exposição específica na França.
Apresentada, primeiro, no Victoria & Albert Museum de Londres, poderá ser vista até 15 de janeiro no Museu d'Orsay, seguindo, depois para o Fine Arts Museum de São Francisco - California.
A cenografia de Nathalie Crinière recria a atmosfera de uma dessas belas casas, onde tudo torna-se estético - as legendas ficam aos pés das obras, para evitar perturbar o encanto.
"O movimento estético é o movimento da emoção, da sensibilidade que ousa fixar-se na Inglaterra vitoriana", declarou à AFP o curador francês da exposição, Yves Badetz.
Os artistas partilham "a mesma vontade, afirmativa e revolucionária: de fugir à feiura e ao materialismo vulgar da época, criando um novo ideal de beleza", escreve o curador britânico Stephen Calloway, no catálogo editado pelo Museu d'Orsay e Skira Flammarion.
A Royal Academy é vista em sua totalidade, com horizontes diversos, mas ligados; estes estetas são influenciados pelos estilos gótico, grego, egípcio, japonês.
A porcelana azul e branca da China, que todos apreciavam, decora os quadros.
O lírio, os girassóis, os pavões são motivos recorrentes não apenas nas telas, mas nos tecidos e papéis.
Os modelos femininos não são as mulheres louras de tez rosada dos cânones da época.
São ruivas vulcânicas, morenas fatais.
Suas vestimentas se liberam.
"Os quadros não têm um tema, uma moral, apenas muita sensibilidade seguida, às vezes de sensualidade", revela Badetz.
As telas de Whistler, chegado a Londres em 1859, após uma formação em Paris, são "sinfonias em branco", como ele mesmo as chamou.
"A burguesia emergente, que encontrou seu lugar com dificuldade entre a aristocracia potente e o mundo operário, em plena expansão, vai tentar se aliar a este movimento estético", sublinha Badetz.
Isso não se faz sem choques.
Como exemplo disso, conta-se que, após ter realizado A Sala dos Pavões (1876-1877), para a casa londrina do armador Frederick Leyland - que não ficou contente com o quadro - Whistler não recebeu nenhum pagamento.
Irado e arruinado, o pintor caricaturou seu devedor como um horrível pavão nos escombros da casa do artista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário