"Em breve, num cinema perto de você."
A expressão vai se tornar cada vez mais recorrente no Rio e em Niterói pois, em pouco mais de um ano e meio, seis tradicionais cinemas de rua terão voltado a funcionar nas duas cidades.
Quem começou esse boom foi o cine Joia, uma sala que não fica na rua, mas tem o espírito - fica dentro de uma galeria de Copacabana (zona sul) e fechou as portas em 2005.
Em abril, o Joia foi reaberto por empresários e cineastas, com melhorias na estrutura, mas o charme da acanhada sala de 87 lugares foi mantido.
"A nossa programação é de clássicos e obras de novos diretores. E em toda estreia fazemos debate com os realizadores", diz Carol Ficheira, gerente operacional do espaço, também usado para eventos literários e artísticos.
Outro cinema que vai reabrir nesse formato de muitos usos é o Paissandu, no Flamengo (zona sul): o empresário Léo Feijó alugou o local por dez anos para que ele volte a funcionar, após três anos fechado.
Arquivo/ O Globo
O cine Paissandu, no Flamengo, antigo templo da cinefilia que será reaberto em junho
Templo da cinefilia, o Paissandu exibia filmes da nouvelle vague e do cinema novo.
Com a reabertura, em junho próximo, terá sala de exibição e salão para shows, peças e eventos.
"Em respeito à tradição, vamos exibir filmes mais autorais", diz Feijó.
A aura em torno do Paissandu se deve muito ao programador da sala nos anos 1960, Fabiano Canosa: ele planeja reativar no primeiro semestre de 2012 o Tijuca Palace, fechado desde 1982.
Professor de cinema da PUC-Rio e conservador-chefe da Cinemateca do MAM, Hernani Heffner exalta a revalorização desses espaços.
"Ali há uma relação artística e mais ampla com o cinema do que nas salas do shopping. São locais de arquitetura particular, nos quais o público está realmente interessado no espetáculo cinematográfico. Fazem parte da identidade cultural e memória afetiva da cidade", diz ele - e eu concordo.
O governo do Rio quer reativar o cine Olaria (zona norte), fechado há 15 anos, transformando-o em 2012 em centro cultural, como a prefeitura fará com o ex-cine Imperator, no Meier (zona norte) - aberta em 1954, a sala transformou-se em 1993 em uma casa de shows, já fechada, e no primeiro semestre de 2012 passará a abrigar filmes, shows e peças.
Responsável pelo mais antigo curso de cinema do país, a Universidade Federal Fluminense, em Niterói, já recebeu da CEF R$ 10 milhões para a compra do cine Icaraí, fechado desde 2006.
Futuro palco da Orquestra Sinfônica Nacional, mantida pela UFF, o espaço também exibirá produções de alunos e ex-alunos, além de filmes de arte.
Enquanto isso, aqui em São Paulo, só o Cine Marabá, no centro - restaurado pela Playarte e agora com cinco salas -, o Cinesesc e o Espaço Unibanco - ambos na Rua Augusta - são exemplares dos cinemas de rua.
É triste para mim, cinéfilo inveterado, ver o Cine Ipiranga fechado - foi lá que vi José Mojica Marins, o Zé do Caixão, vibrar assistindo a um filme da saga James Bond - e o Windsor e o Arouche, que exibiam filmes de arte europeus, serem hoje pardieiros imundos, exibindo pornôs.
Sem contar o Cairo, no Vale do Anhangabaú, derrubado recentemente para dar lugar - felizmente - a uma "praça de Artes", o Marrocos, com sua imponente arquitetura arábica e seus imensos sofás de couro - fechado faz tempo -, o Paissandú - no largo do mesmo nome e que tinha um foyer e uma projeção maravilhosos -, o Art-Palácio - das estreias de Hollywood com a presença do elenco e das premiéres dos filmes de Mazzaroppi, outro atual pornô -, e o Cine Barão, no subsolo da galeria Califórnia, uma das obras de arte de Oscar Niemeyer em na cidade - onde trabalhei no oitavo andar por três anos e onde vi muitos e muitos filmes, como Scarface (1983), Um Dia de Cão (1975), Tootsie (1982) e O Franco Atirador (1978).
Saudades.
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