quarta-feira, 13 de julho de 2011

A SEMANA NA DIVERSIDADE

Nova lei carioca dá o direito de travestis e transexuais usarem seu nome social, projeto contra a intolerância e a homofobia lança vídeo muito legal, e o cartunista Laerte dá um show na Flip, feira de livros em Paraty (RJ).

São as notícias da Diversidade, que você acompanha agora.

TRAVESTIS E TRANSEXUAIS PODEM USAR NOME SOCIAL NO RJ
Os travestis e os transexuais do Estado do Rio de Janeiro poderão usar nome social - o modo como as pessoas são identificados na sua comunidade e em seu meio social - para fazer matrículas em escolas, prestar queixa em delegacia e fazer cadastros públicos. 
Decreto do governador Sérgio Cabral, publicado nesta segunda (11) no Diário Oficial do Estado, determina que o nome social seja aceito em todos os atos e procedimentos da administração direta e indireta . 

 denúncias de recusa devem ser encaminhadas para a Secretaria Estadual de Assistência Social.

A medida atende a principal reivindicação da classe, segundo a presidenta licenciada da Associação das Travestis e Transexuais (Astra-Rio), Marjorie Marchi.
De acordo com ela, o foco prioritário é assegurar a matrícula de travestis e de transexuais em escolas da rede pública.
"A não possibilidade de as pessoas frequentarem aquele ambiente de acordo com o que são de verdade, com sua identidade respeitada, acarretava grande evasão escolar de travestis, altos índices de analfabetismo e despreparo técnico para o mercado de trabalho", disse ela.
Marjorie Marchi declarou ainda que o nome social representa para os travestis o "mesmo que o nome representa para todo mundo"
Como a classe tem uma "discordância" com o gênero biológico, a identidade passa a ser representada pelo nome em acordo com a nova expressão, explicou. 
"É a mesma coisa com o artigo 'a' ou 'o', que deveria conjugar com o nome social da travesti e não com um órgão pseudobiológico que se carrega entre as pernas", completou.
Para evitar problemas com documentos oficiais, o decreto do governo do Rio também esclarece que em casos de interesse público, o nome civil do travesti ou do transexual deverá constar de documentos, podendo estar acompanhado do nome social.
PROJETO CONTRA A INTOLERÂNCIA E HOMOFOBIA LANÇA VÍDEO COLABORATIVO

O projeto #EuSouGay , que visa mobilizar a sociedade para combater a homofobia e a intolerância contra minorias sociais, concluiu seu vídeo colaborativo com a mensagem que dá nome à iniciativa. 
De abril até julho deste ano, internautas anônimos e famosos enviaram voluntariamente fotos suas exibindo a hashtag #eusougay para a realização do vídeo.
Os organizadores do projeto - a jornalista Carol Almeida e o diretor de curtas Daniel Ribeiro - começaram a causa inspirados por um caso de assassinato ocorrido neste ano em Itarumã (GO): Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta e o crime foi analisado como homofobia pelo delegado local - a garota era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas.
O vídeo traz a mensagem  #EuSouGay de diversas formas e a participação de famosos e apoiadores dos direitos dos homossexuais, como a política Soninha Francine, as apresentadoras MariMoon e Sarah Oliveira e  a banda Cansei de Ser Sexy e outros.
Além da direção de Daniel Ribeiro, o vídeo contou com a trilha sonora da canção Itarumã, composta por Gustavo Galo e Tatá Aeroplano,  e cantada por eles, Márcia Castro e Hélio Flanders, vocalista do Vanguart - o vídeo também recebeu financiamento de forma colaborativa, pelo site Catarse.

 #EuSouGay - que em junho levou o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade, da Associação da Parada LGBT em São Paulo, na categoria internet - continua recebendo fotos do público para postá-las em seu Tumblr.
Confira o vídeo:



LAERTE: "SENTA AQUI, BOLSONARO!"
Para combater a homofobia, o  cartunista Laerte 60, participou na quinta (7) de um debate sobre cross-dressing e homofobia na Casa Folha, espaço do jornal Folha de S.Paulo na Flip, em Paraty (RJ).


A plateia lotada e as pessoas que se aglomeravam do lado de fora da Casa, na rua da Matriz, ouviram por mais de uma hora o depoimento de um dos maiores quadrinistas da atualidade sobre o impulso de se vestir de mulher, a reação da família e de amigos, orientação sexual, humor e preconceito.

"Eu mesmo, quando jovem, pratiquei bullying contra gays. Costumava hostilizar um primo meu que dizia 'Ave!' no lugar de 'porra!'", revelou, explicando como reprimia sua bissexualidade.


Para combater a homofobia, Laerte defendeu que os crimes contra homossexuais sejam classificados da mesma maneira que o crime de racismo e que o movimento LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros - lute contra a guetificação. "Você tem que sair das trincheiras e lamber o pescoço. Tipo: 'Senta aqui, Bolsonaro!'", brincou, arrancando gargalhadas do público.

Letícia Moreira/Folhapress
Laerte participa da conversa sobre cross-dressing e homofobia na Casa Folha, em Paraty
Laerte na Flip, na última quinta



FOFURA

"O medo das pessoas de perder o emprego, de perder o amor da família e o respeito dos amigos as torna muito conservadoras e tímidas em relação a sua sexualidade. Eu não vou apenas a lugares GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Eu vou a qualquer lugar, a qualquer bar e a qualquer restaurante e sou sempre bem recebido."


Laerte admitiu, no entanto, que sua experiência como bissexual assumido e cross-dresser - prática em que homens se vestem de mulheres e vice-versa independentemente de sua orientação sexual - é muito "fofa"."Tudo aconteceu de forma muito fofa comigo em relação ao fato de eu me vestir de mulher. Mas sei que existem crimes de ódio ocorrendo contra homossexuais no Brasil todo."

FAMÍLIA

O cartunista relatou a reação de seus filhos e pais à revelação de suas "montagens" femininas, com direito a brincos, maquiagem, unhas vermelhas e salto alto."Meus filhos já haviam se chocado quando disse que era bissexual, e reagiram bem quando disse que estava me vestindo de mulher. Meus pais se acostumara porque são pessoas do caralho", disse.

"Minha mãe nunca foi muito de usar maquiagem e acessórios. Gosta de futebol, é torcedora fervorosa. Minha irmã é campeã brasileira de supino [levantamento de peso] e usou o esporte como forma de superar sua condição bipolar. Minha namorada me apoia. Então, a dondoca de casa sou eu!", riu, referindo-se a si próprio ora no masculino ora no feminino.


ESPELHO

Laerte  falou também sobre sua passagem pelo Partido Comunista - "Homossexualidade não era uma questão ali. Estávamos mais preocupados com o proletariado" - e sobre a HQ Muchacha  - Companhia das Letras -, que tem como personagem principal um ator que se traveste de cantora cubana: "Não ter que fazer piadas trouxe meu trabalho para uma relação mais íntima comigo mesmo, como se fosse um espelho. O humor muitas vezes funciona como escape e escamoteamento de questões mais profundas".

PIADA EM DEBATE 


Questionado sobre o atual debate sobre os limites do humor e do politicamente correto, o cartunista disse que o humor deve ser livre, mas que nem por isso deve estar acima da crítica. "Quando o Rafinha Bastos tuíta que mulher feia tem de agradecer se for estuprada, não tem como ele não ser criticado. Ele falou merda sob qualquer ponto de vista", criticou.

"Dizer uma coisa dessas num país que ainda trata mal suas mulheres, muitas vezes com violência, especialmente aquelas que não estão no padrão das capas de revista, é de uma crueldade sem tamanho. O humor trabalha com o preconceito, mas ele extrapolou todos os limites com isso e é natural que haja reação."

É por tudo isso que eu cada vez mais admiro o Laerte.

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