A pesquisa feita para o livro Cine Arco-Íris é dedicada, extensa e abrange 115 anos de filmes com personagens homossexuais, bissexuais ou transexuais, onde não faltam exemplares de cinematografias diversas, do predomínio de produções americanas ao cinema tailandês - do diretor Apichatpong Weerasethakul, passando por alguns argentinos - dirigidos por Lucía Puenzo e Marcelo Piñeyro, alemães - Fassbinder - e portugueses - João Pedro Rodrigues - , muitos italianos - especialmente Pasolini -, franceses e brasileiros.
Também não faltam escolhas corajosas, como incluir os filmes de Hitchcock - Festim Diabólico e Rebecca – A Mulher Inesquecível , onde o tema é apenas insinuado - ou Spartacus - de Kubrick -, e Conta Comigo, de Rob Reiner - onde o homoerotismo é subliminar.
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Cena de "Spartacus", de Stanley Kubrick
A escolha dos cerca de 270 filmes que integram o livro é muito interessante e tem mínima sofisticação de olhar, e, dividindo as produções por décadas, permite ao leitor perceber a evolução da liberdade homossexual no cinema.
Se a pesquisa é bem feita, não se pode dizer o mesmo quanto aos textos.
Autor do livro, o jornalista Stevan Lekitsch tem uma predileção pelo cinema clássico e seus filhotes, opção que, por si só, não implicaria problema algum, só aparece quando o texto torce o nariz para quem foge do padrão.
Matou a Mulher e Foi ao Cinema, de Bressane, recebe um comentário: “O filme é estranho, meio sem pé nem cabeça” e se encerra com “Mas fica só nisso, porque o filme é completamente bagunçado” - parece que ele nem viu o filme.
Sobre Amarelo Manga, um anti-cartão-postal de Recife, sobre o qual Lekitsch diz: “Se não fosse brasileiro, poderíamos jurar que se tratava de um filme de Almodóvar”. (!)
Sobre O Menino e O Vento, de Carlos Hugo Christensen: “De beleza plástica incomparável (mesmo em preto e branco)”, o que dá a entender que, antes do advento do cinema colorido não houve filmes de “beleza plástica incomparável”?
No prefácio, o jornalista Marcos Brandão tenta defender que “o maior mérito deste livro não está no que se diz sobre este ou aquele filme, e sim em sua declarada intenção de seduzir o leitor a conhecer, ou rever, o maior número possível deles e, assim, elaborar e emitir seu próprio julgamento de valor”.
Estranha argumentação, já que uma das funções da crítica, como define Michel Ciment, é justamente "compartilhar filmes e leituras".
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"O Segredo de Brokeback Mountain" - de Ang Lee - recebe no livro um comentário raso sobre a trama e fofocas dos bastidores
Em Cine Arco-Íris, Lekitsch parece, na maioria das vezes, encher linguiça para cada produção com comentários supérfluos - se ganhou Oscar, se o ator ou atriz era lindo, conta-se muito do enredo, valor do orçamento etc - e fica num meio termo entre guia com informações técnicas, com curiosidades e texto superficialmente opinativo.
No mais, o livro é uma compilação de lugares-comuns: “direção firme”, “filme forte”, “boas interpretações”, “denso”.
Um cinema como o de John Walters, por exemplo, é para Lekitsch "bizarro e esquisito", sem se cogitar que, naquele momento, seu grande desejo era cutucar o establishment.
O livro também perde muito com a ausência de três filmes e de um cineasta em especial: Good Bye, Dragon Inn, de Tsai Ming-Liang, Romance, de Sérgio Bianchi - melhor filme brasileiro sobre o ser gay nos anos 80 - e Onde Andará Dulce Veiga, de Guilherme de Almeida Prado, limados por absoluta falta de espaço.
Mas uma ausência imperdoável é ao menos uma menção ao cinema de Jacques Nolot, de Avant que J’oublie e La Chatte a Deux Têtes, filmes do mais agressivo cineasta homossexual da atualidade, que trata o sexo de maneira delirante e mercantilizada, ao mesmo tempo.
Talvez fique para a próxima edição.
Título: Cine Arco-Íris
Autor: Stevan Lekitsch
Editora: Edições GLS
Edição: 1
Ano: 2011
Idioma: Português
Especificações: Brochura, 272 páginas
Autor: Stevan Lekitsch
Editora: Edições GLS
Edição: 1
Ano: 2011
Idioma: Português
Especificações: Brochura, 272 páginas
Quanto: R$ 65,90
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