"Quando tinha oito anos [em 1922], minha turma recebeu a visita de um ex-combatente da Guerra de Secessão", lembra Joe Simon.
"O idoso apertou a mão de cada criança no local e disse: 'Deem a mão a quem a estendeu a Abraham Lincoln'. Isto me marcou para o resto da minha vida e foi assim que empreendi a busca por um super-herói para os Estados Unidos".
Toda lenda tem seu começo, e o Capitão América, logo denominado "O Sentinela da Liberdade" não foi diferente.
Joe Simon agora tem 97 anos, e contou à AFP sobre o nascimento de um dos super-heróis americanos mais populares do viveiro da Marvel.
Em 1941 criou com Jack Kirby o Capitão América "representando-o como um de nós, um jovem do Brooklin - Nova York - que termina representando tudo o que faz com que os Estados Unidos sejam o melhor lugar do mundo para se viver".
Arquivos do Klau
Arte conceitual do herói
"Nossos pais eram alfaiates imigrantes, sempre fomos muito patriotas e penso que isto se fez notar em nosso trabalho", acrescentou.
O componente político, embora tenha desaparecido com o passar dos anos, era muito forte nas primeiras aventuras do personagem.
"Como o primeiro inimigo do Capitão América era Hitler, isso nos forçava nos anos 1940 a cultivar o lado político das histórias", explicou. "Mas curiosamente, a maioria das aventuras que produzimos (mais à frente), Kirby e eu, não eram fundamentalmente patrióticas. Os heróis combatiam vilões e monstros."
Divulgação/Paramount Pictures
Pôster Retrô do filme, onde o Capita soca Hitler
O Capitão América "foi criado para divertir, não era propaganda, embora isso não tenha impedido que os simpatizantes nazistas nos Estados Unidos nos criticassem".
Joe Simon lembra aquela idade de ouro na qual os Estados Unidos, em um período de alguns anos, dotou-se através da história em quadrinhos de todos os super-heróis possíveis e imagináveis, inclusive até em excesso.
"A indústria das histórias em quadrinhos começou com o Superman e, quando os super-heróis começaram a ter sucesso, todas as editoras quiseram subir nesse trem", disse.
Mas, segundo ele, depois da Segunda Guerra Mundial muitos dos novos personagens não conseguiram mercado porque havia uma saturação de super-herois nas bancas.
Se os super-heróis ainda têm sucesso hoje em dia - em grande parte graças a sua exploração industrial no cinema - isso ocorre porque combinam "poder e diversão", segundo Simon.
"Se você tem superpoderes, pode enfrentar o mundo que te rodeia".
"Capitão América é outra vez popular porque o mundo está em um lugar muito perigoso, e é um herói que pode nos ajudar a atravessar momentos difíceis", disse.
Após a desastrada adaptação de seu herói - realizada em 1990, em um filme de baixo orçamento do americano Albert Pyun, frequentemente comparado a Ed Wood por sua grande contribuição à cultura trash -, Joe Simon se alegra e seus olhinhos muito vivos brilham de ver finalmente na grande tela um Capitão América mais parecido com sua criação original.
AFP
Joe Simon posa com bonecos de sua maior criação
"Reconheço o personagem que Jack Kirby e eu criamos há 70 anos. Por um lado porque um filme ocorre durante a Segunda Guerra Mundial, mas sobretudo porque volta à história original", observou, felicíssimo, o quase centenário roteirista.
"É um dos motivos pelos quais este filme se parece com o que esperei durante décadas. Já era a hora!".
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Desde sexta passada, e depois de uma carreira cheia de altos e baixos, o - bom - ator americano Chris Evans tornou-se um nome conhecido por todos, ao interpretar uma das maiores lendas do seu país, o Capitão América, no longa-metragem do estúdio Marvel, Capitão América - O Primeiro Vingador - no Brasil, o filme estreia hoje.
Evans recusou a proposta várias vezes antes de aceitar o papel de um órfão dos anos 1940, magro e vítima de assédio, chamado Steve Rogers, que se transforma no musculoso Capitão América, graças a um soro supersecreto desenvolvido pelo governo, e que acaba por liderar o exército norte-americano numa batalha vitoriosa contra os nazistas.
Aos 30 anos, Evans conversou com a Reuters sobre sua apreensão inicial e porque o papel o levou a fazer terapia.
Reuters
O ator Chris Evans
Reuters: A maioria dos atores faria tudo para conseguir um papel de super-herói, mas você inicialmente o recusou. Por que?
Chris Evans: O problema para mim foi uma potencial mudança de estilo de vida. Nos últimos dez anos eu pude fazer filmes e ainda conservar meu anonimato. "Capitão América" mudaria tudo isso, e, se eu não gostasse, eu não teria a possibilidade de desistir, porque me comprometi a fazer seis filmes. Era assustador.
Você assumiu um compromisso semelhante quando aceitou representar o Tocha Humana em "Quarteto Fantástico", da Marvel.
Sejamos realistas: os filmes "Quarteto Fantástico" não foram tão bons assim. E havia quatro de nós (Evans, Jessica Alba, Ioan Gruffudd e Michael Chiklis) para dividir o peso - eu não estava sozinho. Já o sucesso de "Capitão América" depende de mim. Isso intimida.
Assim que aceitou o papel, você começou a fazer terapia. Por que?
Fui porque tenho dificuldade em ficar sob a luz dos holofotes. Esse era meu problema. Eu só conseguia pensar na quantidade de responsabilidade pela divulgação que o filme exigiria de mim - e eu odeio fazer divulgação. E se eu não conseguisse lidar bem com as opiniões das pessoas a meu respeito? Eu sei que isso não deve determinar o grau de paz ou felicidade da pessoa com a vida, mas o problema é que eu optei por trabalhar em uma área onde você é sujeito a julgamentos.
Há algo em comum entre você e seu personagem?
Foi legal representar alguém que foge da atenção pública. Havia um paralelo interessante entre o que estava acontecendo na vida do personagem e na minha: uma grande oportunidade, uma transformação radical, mas uma hesitação em aceitar toda a responsabilidade que lhe é entregue.
Seu próximo filme é o independente "Puncture", que será lançado em setembro. Você faz o papel de um dependente de drogas que trabalha como advogado. É uma guinada de 180 graus em relação aos super-heróis.
Fiz "Puncture" no início do ano passado. Foi no final desse filme que recebi a oferta de fazer "Capitão América". Gostei tanto de fazer "Puncture". Eu dizia a mim mesmo: 'Por que não continuo apenas a fazer esses ótimos filmes indienpendentes pequenos? Eles não chamam muita atenção, posso ser respeitado em minha profissão, me sentir criativamente satisfeito e conservar meu anonimato'. Não fazia sentido mudar essa situação.
Mas você mudou.
Num primeiro momento, achei que "Capitão América" poderia ser uma questão de perder ou perder. Mas, obviamente, não foi o caso. Foi a coisa certa a fazer, e fico feliz porque fiz.
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