Foi assim, com essa frase, que no dia 18 de setembro de 1950 o Brasil conheceu o veículo que se tornaria, em longo prazo, o mais importante em todo o país.
Isso significa que, em questão de bens presentes na maioria das casas, a TV fica atrás apenas do fogão, que domina 98,2% dos lares.
Fotos: Internet
O "índiozinho" símbolo da TV Tupi, a primeira TV do Brasil
Na estréia da TV Tupi, fundada por Assis Chateaubriand - a frase acima é dele - Lolita Rodrigues cantou o “Hino da TV” - em substituição à Hebe Camargo, que faltou para dar uma "ficada" com o namorado de plantão - e uma câmera foi avariada pela garrafa de champanhe, usada nela como um navio lançado ao mar.
A atriz Vida Alves
Para Vida Alves, que viveu esses 60 anos da televisão brasileira, é difícil dizer qual foi o momento mais marcante desses anos.
O homem pisando na lua foi a primeira transmissão "ao vivo" da TV brasileira
“Posso dizer que foi a chegada do homem a Lua, mas seria injusto, pois existiram tantos outros. Os programas do Chacrinha, por exemplo, marcaram toda uma época”, disse.
O incomparável Abelardo "Chacrinha" Barbosa
A televisão não só entreteu , mas criou moda e influenciou comportamentos.
Para Vida, é impossível falar de televisão sem citar alguns nomes como Cassiano Gabos Mendes - diretor artístico que deu os principais rumos para a televisão -, Walter George Durst - responsável pela influência do cinema na televisão e adaptador de "Gabriela" para a TV -, Paulinho de Machado de Carvalho Filho - dos grandes festivais de música - , e o time de novelistas composto por Dias Gomes, Janete Clair e Benedito Ruy Barbosa - autores de obras tão geniais como "O Grito", "Selva de Pedra" e "O Rei do Gado", respectivamente.
Para ela, o grande sucesso das telenovelas foi “Beto Rockfeller”, idealizada por Cassiano Gabos Mendes, em 1968, a primeira novela a usar a realidade como pano de fundo e apresentar o “anti-herói”, interpretado pelo ator Luiz Gustavo, o que, para ela, explica o segredo do sucesso das novelas:
“Elas popularizaram-se por tratarem de assuntos do dia-a-dia, de uma forma clara e simples para atrair um número maior de pessoas”, diz Vida.
A primeira cidade cenográfica foi construída para contar a história dos “Irmãos Coragem”, vividos por Tarcísio Meira, Claudio Cavalcanti e Cláudio Marzo, em 1970, outra novela que abusava da linguagem coloquial para aproximar o público.
Um faroeste romântico, que servia pra prender a atenção das mulheres noveleiras e seus maridos, fanáticos por bang-bang.
Outro sucessos inesquecíveis são “Escrava Isaura” (1976) - a novela brasileira mais vista no mundo, a moda disco de “Dancing Day’s” (1978) - que lançou a Diva Sônia Braga ao estrelato, “Guerra dos Sexos” (1983) - uma das melhores das 19h, “Vale Tudo” (1989) - com desempenhos excepcionais de Regina Duarte e Glória Pires, “Pantanal” (1990) - que deu a liderança à Manchete por meses, “Éramos Seis” (1994) - o maior sucesso do SBT e “Xica da Silva” (1996) - outro megassucesso da Manchete e que lançou Thaís Araújo.
Os programas de humor também foram importantíssimos para a consolidação do veículo.
“Os Trapalhões” - Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias, que vieram da Tupi para a Globo e lideravam no começo das noites de domingo; “A Grande Família” - primeira versão nos 70, a última, ainda no ar - ; “A Praça É Nossa” - que começou como "Praça da Alegria" na TV Excelsior", passando por Record, Globo e agora, no SBT -; os programas de Jô Soares e Chico Anysio - responsáveis por tipos lembrados até hoje; e até o mexicano “Chaves” - reprisado até hoje.
Roberto Carlos com os Trapalhões nos anos 70
Qual bixitta nunca quis ser uma das paquitas - ou paquitos - da “rainha dos baixinhos” Xuxa Meneghel?
Anos antes, todas cantavam com Simony e sua trupe de “Balão Mágico”.
Do "Repórter Esso" - importado do rádio, ao primeiro telejornal transmitido em rede - o "Jornal nacional", que em 1969 inaugurou a maneira brasileira de se fazer telejornalismo - passaram pela telinha nomes que deixaram saudade, como Márcia Mendes - jornal "Hoje" e Eron Domingues - "Jornal da Globo".
Márcia Mendes, a jornalista mais linda que a tela da Globo já viu
Nessa incrível história, seria injusto não citar Flávio Cavalcanti, Silvio Santos, Fausto Silva e Gugu Liberato com seus programas dos domingos.
Excepcionais comunicadores, sabem comandar um programa de auditório como ninguém, e que agora, tem em Rodrigo Faro uma ótima - e rejuvenescida - companhia.
As novelas e os programas jogam para o espaço público questões como o aborto, a pedofilia, a violência doméstica e encorajam a população a desenvolver uma opinião própria, vital para uma democracia forte e perene.
“Há vários países votando no casamento gay. Acho que o tal beijo não está longe de acontecer. E deveras, por que não?”, completa Vida Alves, que hoje recebe no Memorial da América Latina, aqui em SP nomes como Lima Duarte, Eva Wilma, Tony Ramos e muitos outros que fizeram da TV brasileira uma das melhores do mundo.
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A televisão do Brasil faz hoje 60 anos
Flávio Ricco
Um dia especial para todos nós.
Exatamente em 18 de setembro de 1950, às 17h30, Assis Chateaubriand inaugurou a TV Tupi de São Paulo.
Foi a sua primeira transmissão oficial, mas existiram duas anteriores em caráter experimental e em circuito interno: uma apenas para o saguão dos Diários Associados em 3 de abril do mesmo ano -apresentação do frade cantor José Mojica e outra em 10 de setembro, um filme com Getúlio Vargas falando do seu retorno à vida política.
Mas pra valer, tudo começou a partir de um 18 de setembro.
Poucos privilegiados tinham televisores -fala-se em torno de cinco pessoas.
Outros 200 aparelhos foram distribuídos pelo próprio Chateaubriand em pontos estratégicos da cidade.
Até deve existir, mas é difícil imaginar alguém, nos tempos atuais, capaz de viver sem ela.
Muitas histórias
Ainda nos tempos da Tupi, Geraldo Vietri foi um dos seus autores e diretores mais importantes de teleteatros antes e novelas depois.
Sempre ali, na frente na sua possante Olivetti, rindo e chorando -reagindo a tudo, conforme a cena que ia escrevendo.
Fez trabalhos maravilhosos.
A propósito
Num determinado dia, hora do almoço, vários atores dividindo a mesma mesa num restaurante próximo à Tupi e chega o Claudio Correa de Castro.
Ao vê-lo, Vietri provoca: "finalmente chegou um ator".
Flávio Galvão, no bate pronto, emendou: "É. Tá certo. Agora só falta um diretor".
Tem outra
Os teleteatros eram realizados ao vivo e os atores Alberto Maduar e Nelson Coelho, num deles, tiveram que encenar uma briga.
Mas levaram a coisa tão a sério, com tamanho realismo, que todo cenário veio abaixo.
O câmera, tentando salvar alguma coisa, fechou no rosto dos dois artistas, naquela altura abraçados e morrendo de rir.
Acabou ali.
Mais uma
Num outro "TV de Vanguarda", sempre ao vivo, em cena uma peça de Dostoiévski.
Era época de Natal, mas o texto não se referia nada a respeito.
Eis que, senão quando, o comediante Walter Stuart, que morava ao lado da Tupi no Sumaré, invadiu os estúdios vestido de Papai Noel e estourou uma champagne, desejando a todos eufóricos votos de Feliz Natal.
Teve artista que se enfiou debaixo da mesa.
Também acabou por ali.
Uma última
No "Esta Noite se Improvisa" da Record, os seis ou sete participantes no palco, ao vivo, tinham que lembrar uma música que tivesse determinada palavra na letra.
Ela era anunciada através de uma plaquinha sorteada pelo Blota Junior.
Aquele que apertasse o botão ia para o microfone e cantava.
Diante de determinada palavra só Chico Buarque se apresentou e pediu um lá maior ao Caçulinha.
Cantou do começo ao fim.
E a tal palavra no meio.
Só que ninguém conhecia aquela música, nem o juri que ficou de resolver no programa seguinte.
Realizadas as pesquisas e ninguém encontrou nada parecido, até o Chico revelar que até então não ela existia mesmo.
Ele compôs ali, na hora, a partir do lá maior do Caçulinha.
E, como fazia Júlio Gouveia no encerramento do primeiro "Sítio" na Tupi, "existem outras histórias, mas que ficam para uma próxima vez".
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O texto acima - sobre os 60 anos da TV no Brasil - foi escrito por Flávio Ricco,colunista do UOL e um dos melhores textos que eu tenho o prazer de ler, diáriamente.
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