sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"MIRAL", "MACHETE", O LISTÃO DA "VARIETY" E FILMES ITALIANOS CLÁSSICOS SÃO DESTAQUES EM VENEZA

O cineasta americano Julian Schnabel - judeu nova-iorquino - filmou com olhar palestino "Miral", filme apresentado no Festival de Veneza nesta quinta-feira.

Baseado no romance autobiográfico homônimo da jornalista palestina Rula Jebreal, o filme acompanha mais de quatro décadas desde a criação do Estado de Israel até a assinatura dos acordos de Oslo, em 1993, momento de grandes esperanças para o conflito.

Como Jebreal, Miral cresceu em um orfanato em Jerusalém Oriental.
O abrigo é mantido por uma palestina rica, que, em um dia do ano de 1948, encontrou um grupo de crianças árabes que haviam sobrevivido ao massacre de Deir Yassin, um vilarejo próximo, atacado por militantes judeus ortodoxos.

"Sinto uma grande responsabilidade em relação ao tema", afirmou Schnabel - seu filme "O Escafandro e a Borboleta" lhe valeu o prêmio de melhor diretor em Cannes 2007, assim como várias indicações ao Oscar.

"Este conflito deve acabar o mais rápido possível. Toda vez que uma criança morre em cada um dos lados vemos o quanto desnecessário é", disse o diretor.

Jebreal afirma ter decidido escrever o livro devido ao "grande amor pelo professor que me colocou no caminho certo. É a história de uma grande terra e de uma pequena garotinha que sobreviveu simplesmente porque havia alguém para ajudá-la".

Em entrevista à AFP sobre seu filme - um dos 24 na competição pelo Leão de Ouro - Schnabel, de 58 anos, estimou: "obviamente é uma história palestina, mas é muito importante que um judeu americano conte uma história palestina".

O cineasta escalou a atriz indiana Freida Pinto - a Latika do megassucesso "Quem quer ser um milionário" (2008), de Dany Boyle - para viver Miral.
Já Hind Husseini, o elegante diretor do orfanato, é interpretado pelo israelense Hiam Abass.

Foto: Alessandro Bianchi/Reuters - Arte: Cláudio Nóvoa
A atriz Hiam Abbass, ontem em Veneza

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Também na quinta, o diretor Robert Rodriguez apresentou em Veneza o provocativo "Machete", filme de ação que mistura sangue, comédia e questões migratórias.

O longa conta a história de Machete (Danny Trejo), um matador de aluguel com o dom de retalhar suas vítimas, que ataca agentes corruptos dos dois lados da fronteira entre Estados Unidos e México.

Trejo divide a cena com Robert de Niro, Steven Seagal, Don Johnson e Lindsay Lohan.

"Atualmente, a imigração tornou-se de fato um assunto enorme aqui nos EUA, então eu quis fazer algo que realmente olhasse para a corrupção que existe no sistema além do que vemos nos noticiários", explicou Rodriguez.

Divulgação
A atriz Lindsay Lohan, em foto promocional de "Machete"


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Numa edição especial que circula no Festival de Veneza, a revista norte-americana "Variety" - considerada a "bíblia" de Hollywood - traz uma pesquisa realizada com os responsáveis por 17 festivais para saber qual seria o "dream team" de cada um deles - no caso dos festivais, a moeda mais valiosa não é a da bilheteria, mas sim a do prestígio.

Basicamente, o que os diretores dos festivais querem é reunir nomes que chamem a atenção, que tornem o festival um assunto obrigatório e que mostrem seu cacife para atrair os "grandes".

A lista da "Variety":

1- Martin Scorsese (EUA)
2- Gus Van Sant (EUA) e Wong Kar-Wai (Hong Kong) - empatados
3- Pedro Almodóvar (Espanha)
4- Alain Resnais
5- Quentin Tarantino (EUA) e David Cronenberg (Canadá) - empatados

Arquivos do Klau - Arte: Cláudio Nóvoa
O diretor norte americano Martin Scorsese

Veneza só tem bola dentro este ano.

Tarantino não tem filme, mas está na presidência do júri.
De Scorsese, o Festival conseguiu trazer um documentário codirigido por ele e por Kent Jones, chamado "Uma Carta para Elia".

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Gianlucca Farinelli, diretor da Cinemateca de Bologna, é um dos responsáveis pela mostra "La Zituazione Comica (1934-1988)", que apresentará 30 filmes durante o Festival de Veneza.

A retrospectiva recoloca nas telonas as expressões e os gestos de Vittorio De Sica, Totó, Aldo Fabrizi, Alberto Sordi, Nino Manfredi, Ugo Tognazzi e Vittorio Gassman.

São filmes dirigidos por Mario Monicelli, Mario Mattoli e Dino Risi, entre outros.
"Eles representavam a Itália com muito amor e, ao mesmo tempo, eram absolutamente críticos", afirma Farinelli.

"Eles riam das nossas mazelas e os italianos gostavam de se ver assim representados. Toda contradição da sociedade estava posta ali."

Mas eis que a sociedade começou a mudar e, em meados dos anos 1960, chegou ao fim essa idade de ouro.

"Nessa época, surge com força a TV e com ela, um novo modelo de representação", diz Farinelli.
Para o diretor da Cinemateca, é "Um Burguês Pequeno, Pequeno" (1977), de Monicelli, que prega a placa "fim" a essa época.
"Aí vem o cine panetone."

Farinelli refere-se às comédias natalinas da série "Vacanze di Natale", que batem recordes de bilheteria no final do ano no país, superando até mesmo os blockbusters de Hollywood.

O primeiro filme da série será exibido na mostra "La Zituazione Comica".
Ironicamente, eles são estrelados por Christian De Sica, filho de Vittorio De Sica.
A produção atual conhece, ainda, uma série adolescente e uma porção de filmes derivados de personagens televisivos.

Trata-se, porém, de uma produção para consumo local que, exceção feita a Roberto Begnini e Carlo Vardoni, não desperta interesse no exterior.
"A estrutura narrativa não tem nenhuma importância. São só esquetes", afirma Farinelli.

Para ele, as novas comédias refletem a Itália de hoje: uma sociedade fechada.
Os filmes feitos entre 1940 e 1970, por outro lado, eram fruto de um país aberto para o mundo.

"Eram as comédias de uma Itália que exportou o neorrealismo, 'A Doce Vida' e os carros da Fiat. Hoje, somos o contrário disso. Estamos fechados num sistema de comunicação controlado por um grupo financeiro e político", completa, deixando no ar o controle exercido em todo o país pelo primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi.

O festival de cinema mais antigo do mundo começou na quarta-feira e exibirá filmes até o dia 11 de setembro.




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