sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"A GUERRA DOS VIZINHOS": COMÉDIA NACIONAL QUE O PÚBLICO VAI AMAR, E A CRÍTICA, ODIAR

Aos 76 anos – quase 60 deles em cima de palcos ou na frente de câmeras de cinema e televisão – a atriz
Eva Wilma defende a necessidade do humor:
“É preciso ter humor em tudo, até no drama. Há sofrimento nas lágrimas, mas é preciso ter o riso também, para a vida ser melhor”.

Foto: Divulgação/TV Cultura

a Atriz Eva Wilma


A receita, além do riso, também inclui trabalho, muito trabalho.
Nesta sexta, ela chega aos cinemas na comédia “A guerra dos vizinhos”, e na próxima segunda, volta à televisão na novela “Araguaia”, na Globo.

A atriz conta que não importa onde seja o trabalho – ela gosta mesmo é de representar e fica feliz com o reconhecimento do público.

Eva e a comédia se dão bem há muito tempo, e um dos maiores sucessos de sua carreira na televisão foi o seriado “Alô, Doçura”, criado nos anos de 1950, no qual trabalhou com seu marido na época, o ator John Herbert.
“O programa tinha um tempo de comédia muito peculiar, isso por conta da genialidade do Cassiano [Gabus Mendes, criador do televisivo]”.
A atriz acredita que atualmente, o mesmo tipo de comédia ainda faz bastante sucesso.
“Há muito disso nas personagens que faço em ‘A guerra dos vizinhos’ e ‘Araguaia’”.

No filme, Eva é Adélia que, ao lado de duas irmãs, todas solteironas, atormentam a vida da vizinhança, levando uma vida solitária.
Embora elas pareçam frustradas, a atriz defende as personagens.
“Para mim, elas são velhinhas muito felizes, que levam suas vidinhas e ficam danadas com os vizinhos que as infernizam.”

Eva foi convidada para atuar ao lado de Karin Rodrigues e Vera Mancini – que interpretam suas irmãs.
“O convite surgiu do Rubens [Xavier, diretor e roteirista], quando ele foi assistente num filme em que trabalhei, “Veias e Vinhos” [de João Batista de Andrade]. A trama parte de uma história real, mas junta-se a isso a fantasia do Rubens, que criou o filme”.

A briga na vizinhança rende cenas de troca de farpas entre personagens, mas, para Eva, tudo é diversão. “Precisei usar muito bom humor para fazer minhas cenas, especialmente quando as personagens ficam xingando e fazendo gestos quase obscenos. Precisei fazer tudo de forma divertida para não ficar pesado”.

Na televisão também não é diferente – o humor impera.
Em “Araguaia”, Eva é uma ex-garota de programa que agora tem um salão de beleza, e a atriz comemora o fato de, pela primeira vez em sua carreira, estar contracenando com a amiga Laura Cardoso.
“É um encontro histórico”, comemora.

Apesar de todo esse apego pelos personagens cômicos, Eva conta que considera seus trabalhos mais queridos dois dramas, e bem sérios: “São Paulo Sociedade Anônima” (1965), de Luis Sérgio Person, e “Cidade Ameaçada” (1960), de Roberto Farias.
“São dois filmes muito importantes na cinematografia do Brasil. Tenho muito orgulho deles”.

Do trabalho com Person, Eva conta ter “lembranças muito intensas”.
“A nossa amizade foi muito forte. Ele tinha muito talento e muito humor. No sítio dele havia uma placa escrito ‘cachorro bravo e dono louco’”, lembra rindo.
Ela também aponta que a receptividade do cineasta facilitava o trabalho.
“Ele gostava muito de que déssemos sugestões. Havia uma cena que estava no final do filme, era bem dramática, de uma briga, uma separação. E ele mudou para o começo. Fiquei feliz com isso”.

Na televisão, Eva destaca a primeira versão de “Mulheres de Areia”, exibida na TV Tupi, em 1973.
”Nós batemos a Globo em índice de audiência na época. A Regina Duarte recebeu um prêmio de melhor atriz naquele ano, mas disse que a premiada deveria ser eu. Ela foi muito modesta me oferecendo o prêmio”, conta a atriz, que fez as gêmeas Ruth e Raquel, reprisadas duas décadas depois na Globo por Gloria Pires.

Outro papel marcante de Eva na televisão foi na primeira versão de “A Viagem” (1975), uma das obras pioneiras a abordar o tema do espiritismo na televisão brasileira.
Hoje, cinema e tevê se renderam ao poder do assunto para atrair o público. “Lembro-me de que, na época, antes mesmo de começarmos a gravar a novela, tivemos uma palestra com o Chico Xavier”.

*****

Três idosas, Adélia - Eva Wilma- Dircinha - Vera Mancini - e Beatriz - Karin Rodrigues -, as irmãs Coleratti, depois de tanto incomodarem seus vizinhos com calúnias e ofensas, são condenadas pela Justiça à prestação de serviços comunitários.

E não só: são obrigadas a ficar em silêncio, sem poderem conversar durante o cumprimento da pena - para isso devem usar máscaras cirúrgicas que tampem suas bocas.

Foto: DivulgaçãoEva Wilma, Vera Mancini e Karin Rodrigues

O diretor estreante Rubens Xavier conseguiu fazer uma comédia de linguagem bem popular, de humor raso e escrachado, e sem apelar para baixarias desagradáveis ou escatológicas, que imperam nas telonas de hoje

A ação é ambientada nos anos 80, num bairro de classe média qualquer, de uma cidade brasileira qualquer.
De um lado do muro, Nenê - o ator português Tony Correia - e a esposa Marysa - Angela Dip - abrem uma pequena oficina mecânica na garagem de casa.

As vizinhas – três solteironas mal humoradas capitaneadas pela intolerante personagem de Eva Wilma – não suportam o barulho causado pela oficina e partem para a retaliação.
Aos poucos, outros elementos vão se incorporando à trama, para tornar a relação entre os vizinhos totalmente insustentável.

O humor visto aqui busca a identificação popular, um caminho traiçoeiro que esbarra no popularesco, trabalha com atuações no registro da caricatura, e isola a sutileza a quilômetros de distância, do jeito que o povo gosta e a crítica detesta.

Afinal, o casal protagonista só consegue o auge do desempenho sexual ao som de partidas de futebol narradas pelo locutor Sílvio Luiz. Sen-sa-cio-nal!
No subtexto está a eterna busca – típica do nosso povo – pela independência econômica sem a incômoda presença de patrões, e a incurável inveja - não menos típica - contra o semelhante que o consegue.

O diretor Rubens Xavier foi assistente de produção em " O Homem Que Virou Suco", e assistente de direção de "Veias e Vinhos" e "O Tronco", todos do mesmo diretor, João Baptista de Andrade.

Talvez no próximo, consiga filmar um roteiro melhor.

No mais, para mim foi um prazer ver na telona Eva Wilma e Karin Rodrigues juntas.
Já vale o filme.

Confira o trailer do filme:

*****

"A GUERRA DOS VIZINHOS"
Título original:
A Guerra dos Vizinhos
Diretor: Rubens Xavier
Produção: Cine Vídeo/Andrade Produções
Distribuição: Poli Filmes
Elenco:
Eva Wilma
Karin Rodrigues
Vera Mancine
Angela Dip
Tony Correia
Fabiula Nascimento
Gero Pestalozzi
Arlete Montenegro
Wandi Doratiotto
Natan Vargas
Gênero: Comédia
Duração: 84 mins.
Ano: 2009
Data da Estreia: 24/09/2010
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
País: Brasil, Portugal
COTAÇÃO DO KLAU:

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