Antes dos 30 anos, muitos homens conseguem seguir à risca o script heterossexual: namoram mulheres, casam e até viram pais.
Alguns se definem como bissexuais: às escondidas, gozam com outros caras, mas voltam para casa e curtem a rotina familiar tradicional, a afetividade com a companheira e os filhos.
Após anos de convivência nesse modelo seguro, com a eclosão dos desgastes comuns aos relacionamentos, é possível que se exploda uma crise existencial sem precedentes.
Os balzaquianos surtam.
Dá para jogar tudo para cima e recomeçar, desta vez ao lado de um homem?
Sim, muitos tentam.
Poucos conseguem preservar o respeito da ex-mulher, que se sente humilhada por ter subido ao altar com um "gay" enrustido, enganada em seus sentimentos.
Pior para esse homem que teve a coragem de zerar sua vida e buscar ser fiel a seus desejos mais profundos, é descobrir as agruras de se relacionar com alguém do mesmo sexo.
Aqui, os problemas são em dobro: nem sempre há churrasco no domingo na casa dos sogros, não há conta conjunta para multiplicar patrimônio, nem direito a dividir plano de saúde e outros benefícios materiais que tornam o casamento hétero uma boa garantia de um futuro confortável, dentro dos trilhos sociais.
Não existe "piloto automático" nem apoio do meio externo para que fiquem juntos.
Como construir um relacionamento gay às escuras, sem ter sido "adestrado" desde criança sobre os papéis de cada um, sem o reforço de livros, filmes, novelas, contos de fadas sobre como agir e sentir?
Os rapazes sofrem um bocado para aprender como fazer durar um "casamento gay" efetivo, sem imitar estereótipos, sem brincar de casinha hétero e nem cair nas armadilhas do romantismo fajuto e hipócrita.
"Apartamento 41" é um dos bons livros que retratam bem o drama de um homem que decide, aos 35 anos, trocar a mulher e o filho pela experiência homossexual às claras.
O romance do empresário Nelson Luiz de Carvalh - de "O Terceiro Travesseiro" - é uma história verídica, se passa em points famosos do centro de São Paulo, e abrange situações comuns ao cotidiano de um homem em busca da autoaceitação.
Leonardo é o personagem principal, trabalha numa editora de revistas, e é o queridinho do dono da empresa, até o momento em que a homossexualidade de Leonardo vem à tona.
Muitos héteros nunca atentam que esconder um namorado da família, dos amigos e dos colegas de trabalho acaba fragilizando a própria relação gay.
Afinal, viver a dois é compartilhar momentos, criar redes de apoio, divertir-se em grupo. Privado disso, um casamento dura?
"É impressionante como as dúvidas se multiplicam em minha cabeça. Acredito fielmente que a falta de experiência em avaliar o novo pode realmente destruir uma pessoa. Eu sou uma dessas; acostumado ao cabresto social, nunca sei se estou mais próximo de Deus ou do Diabo", desabafa a personagem.
Há instantes em que Leonardo sofre também com as desilusões com o gueto homossexual, com a falta de compromisso de parceiros.
Muitos acusam o mundo gay de promíscuo, marginal, reduto de sexo bizarro e drogas.
Leonardo se envolve nesse submundo, ora por depressão ou desilusão, e chega ao ponto de se questionar se fez bem em largar sua mulher e seu filho de 5 anos para embarcar numa ciranda de sexo casual, parceiros egoístas, vazios, sem projetos de vida, baladas decadentes.
A ficha caiu depois de Leonardo se apaixonar por um rapaz.
"Naquele momento, fizemos um pacto de vida e morte. Não usaríamos camisinha e teríamos de confiar plenamente um no outro. Não sei exatamente o que nos fez agir com tamanha imprudência, mas, com certeza, um desejo muito maior, e que poderia nos custar bem caro no futuro, deixou para trás todos os limites de segurança", diz o protagonista, ainda fantasiando um amor perfeito.
As reflexões de Leonardo coincidem com dramas comuns no universo gay, como as dúvidas na descoberta da orientação sexual.
"Certo de que havia um desvio moral em meu caráter, passei da infância à adolescência aprendendo a mentir, como na vez em que comecei a namorar Berta só para ficar próximo do irmão dela, meu querido Dori."
Há também descrições cruas sobre relações sexuais entre homens, que encanam também sobre algumas práticas, como a transa a três, fetiches como sadomasoquismo, podolatria, "barebacking" - sexo sem camisinha - , entre outras, além das dificuldades de se definir ativo, passivo ou versátil, dominador ou dominado.
"Seu comportamento na cama era bem feminino; entregando-se como uma mulher, contorcia-se por inteiro embaixo de mim ao sentir-se violado com força. Sem tirar de dentro, e ao som de Ray of Light, de Madonna, inundei de esperma por duas vezes a mesma camisinha", conta Leonardo, numa das transas importantes da trama.
O autor também cria personagens secundários interessantes, em diálogos que expõem o dilema da sociedade de aceitar o mundo homossexual e também os pontos em comum entre casais gays e héteros, como o ciúme, infidelidade, a busca por soluções mágicas - como a macumba - para eliminar conflitos.
"O seu moço sai com qualquer um! Não importa se é velho, novo, gordo ou magro! O que importa é aquilo que os moços têm no meio das pernas! Quanto maior, melhor! É disso que ele gosta!", diz uma impagável Pombajira na parte mais engraçada do romance.
"Apartamento 41" é como o dono do hotel/motel chama o quarto usado por Leonardo em sua viagem de autoconhecimento.
Todo homem com vida dupla e secreta tem um lugar assim escondido em sua memória, em seus sonhos e pesadelos.
Alguns se definem como bissexuais: às escondidas, gozam com outros caras, mas voltam para casa e curtem a rotina familiar tradicional, a afetividade com a companheira e os filhos.
Após anos de convivência nesse modelo seguro, com a eclosão dos desgastes comuns aos relacionamentos, é possível que se exploda uma crise existencial sem precedentes.
Os balzaquianos surtam.
Dá para jogar tudo para cima e recomeçar, desta vez ao lado de um homem?
Sim, muitos tentam.
Poucos conseguem preservar o respeito da ex-mulher, que se sente humilhada por ter subido ao altar com um "gay" enrustido, enganada em seus sentimentos.
Pior para esse homem que teve a coragem de zerar sua vida e buscar ser fiel a seus desejos mais profundos, é descobrir as agruras de se relacionar com alguém do mesmo sexo.
Aqui, os problemas são em dobro: nem sempre há churrasco no domingo na casa dos sogros, não há conta conjunta para multiplicar patrimônio, nem direito a dividir plano de saúde e outros benefícios materiais que tornam o casamento hétero uma boa garantia de um futuro confortável, dentro dos trilhos sociais.
Não existe "piloto automático" nem apoio do meio externo para que fiquem juntos.
Como construir um relacionamento gay às escuras, sem ter sido "adestrado" desde criança sobre os papéis de cada um, sem o reforço de livros, filmes, novelas, contos de fadas sobre como agir e sentir?
Os rapazes sofrem um bocado para aprender como fazer durar um "casamento gay" efetivo, sem imitar estereótipos, sem brincar de casinha hétero e nem cair nas armadilhas do romantismo fajuto e hipócrita.
"Apartamento 41" é um dos bons livros que retratam bem o drama de um homem que decide, aos 35 anos, trocar a mulher e o filho pela experiência homossexual às claras.
O romance do empresário Nelson Luiz de Carvalh - de "O Terceiro Travesseiro" - é uma história verídica, se passa em points famosos do centro de São Paulo, e abrange situações comuns ao cotidiano de um homem em busca da autoaceitação.
Leonardo é o personagem principal, trabalha numa editora de revistas, e é o queridinho do dono da empresa, até o momento em que a homossexualidade de Leonardo vem à tona.
Muitos héteros nunca atentam que esconder um namorado da família, dos amigos e dos colegas de trabalho acaba fragilizando a própria relação gay.
Afinal, viver a dois é compartilhar momentos, criar redes de apoio, divertir-se em grupo. Privado disso, um casamento dura?
"É impressionante como as dúvidas se multiplicam em minha cabeça. Acredito fielmente que a falta de experiência em avaliar o novo pode realmente destruir uma pessoa. Eu sou uma dessas; acostumado ao cabresto social, nunca sei se estou mais próximo de Deus ou do Diabo", desabafa a personagem.
Há instantes em que Leonardo sofre também com as desilusões com o gueto homossexual, com a falta de compromisso de parceiros.
Muitos acusam o mundo gay de promíscuo, marginal, reduto de sexo bizarro e drogas.
Leonardo se envolve nesse submundo, ora por depressão ou desilusão, e chega ao ponto de se questionar se fez bem em largar sua mulher e seu filho de 5 anos para embarcar numa ciranda de sexo casual, parceiros egoístas, vazios, sem projetos de vida, baladas decadentes.
A ficha caiu depois de Leonardo se apaixonar por um rapaz.
"Naquele momento, fizemos um pacto de vida e morte. Não usaríamos camisinha e teríamos de confiar plenamente um no outro. Não sei exatamente o que nos fez agir com tamanha imprudência, mas, com certeza, um desejo muito maior, e que poderia nos custar bem caro no futuro, deixou para trás todos os limites de segurança", diz o protagonista, ainda fantasiando um amor perfeito.
As reflexões de Leonardo coincidem com dramas comuns no universo gay, como as dúvidas na descoberta da orientação sexual.
"Certo de que havia um desvio moral em meu caráter, passei da infância à adolescência aprendendo a mentir, como na vez em que comecei a namorar Berta só para ficar próximo do irmão dela, meu querido Dori."
Há também descrições cruas sobre relações sexuais entre homens, que encanam também sobre algumas práticas, como a transa a três, fetiches como sadomasoquismo, podolatria, "barebacking" - sexo sem camisinha - , entre outras, além das dificuldades de se definir ativo, passivo ou versátil, dominador ou dominado.
"Seu comportamento na cama era bem feminino; entregando-se como uma mulher, contorcia-se por inteiro embaixo de mim ao sentir-se violado com força. Sem tirar de dentro, e ao som de Ray of Light, de Madonna, inundei de esperma por duas vezes a mesma camisinha", conta Leonardo, numa das transas importantes da trama.
O autor também cria personagens secundários interessantes, em diálogos que expõem o dilema da sociedade de aceitar o mundo homossexual e também os pontos em comum entre casais gays e héteros, como o ciúme, infidelidade, a busca por soluções mágicas - como a macumba - para eliminar conflitos.
"O seu moço sai com qualquer um! Não importa se é velho, novo, gordo ou magro! O que importa é aquilo que os moços têm no meio das pernas! Quanto maior, melhor! É disso que ele gosta!", diz uma impagável Pombajira na parte mais engraçada do romance.
"Apartamento 41" é como o dono do hotel/motel chama o quarto usado por Leonardo em sua viagem de autoconhecimento.
Todo homem com vida dupla e secreta tem um lugar assim escondido em sua memória, em seus sonhos e pesadelos.
Capa do livro
"Apartamento 41"
Autor: Nelson Luiz de Carvalho
Editora: Edições GLS
Páginas: 152
Quanto: R$ 27,90(preço promocional)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha
COTAÇÃO DO KLAU:
"Apartamento 41"
Autor: Nelson Luiz de Carvalho
Editora: Edições GLS
Páginas: 152
Quanto: R$ 27,90(preço promocional)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha
COTAÇÃO DO KLAU:
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