A polêmica persegue Marta Suplicy.
Psicóloga de formação, ela começou a aparecer para o grande público num quadro de cinco minutos, nos anos 80, no programa "TV Mulher" da Globo, onde, às onze e quinze da matina, abordava temas como orgasmo feminino, masturbação, sexo na terceira idade e homossexualidade.
Seu quadro fez tanto sucesso, e recebia tantas cartas - nessa época não tinha e-mail - que a Globo, em plena ditadura militar, aumentou seu tempo para dez minutos diários.
Lógico, os pseudo moralistas de plantão começaram a persegui-la, adjetivando a psicóloga - casada com um descendente da ilustre família Matarazzo - com toda sorte de maldades.
Prostituta, devassa, sem vergonha...
Determinada, Marta não só passou por tudo, como aproveitou a polêmica para se lançar na política, seguindo os passos do marido.
Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, e foi eleita deputada federal com uma das maiores votações que esse país já viu, com votos vindos, principalmente, das mulheres, de quem sempre defendeu os direitos, e dos gays, de quem comprou brigas históricas.
Em plenos anos 80, final do período militar, Marta foi o sopro de ar fresco que a Câmara presisava para renascer, a mesma Câmara que teve destacados parlamentares cassados pela ditadura.
De cara, apresentou um projeto polêmico: o que permitia a união jurídica entre pessoas do mesmo sexo.
Numa época em que pouco se falava do tema, o projeto provocou toda uma onda fascista contrária, tamanha, que até hoje permanece em alguma gaveta da Câmara, à espera de aprovação.
Depois dessa experiência legislativa, Marta voltou a ocupar espaços na televisão, com programas vanguardistas, polêmicos, e, acima de tudo, inteligentes.
Televisão que faz pensar, entre outros temas importantes, é tudo o que se espera de um país e de um povo que querem tomar para si a condução de seus próprios destinos.
Aproveitando o naufrágio do malufismo pós Pitta, Marta foi eleita prefeita da maior cidade do país, também com votação recorde.
Aproveitou os primeiros dias na prefeitura para finalmente encerrar um casamento que tinha acabado fazia tempo, e passou a circular em público com um novo amor, depois transformado em segundo marido.
As mal amadas e os hipócritas de plantão não perdoaram, e quem saia pelas ruas da cidade, ouvia até os seus eleitores a chamarem de "vagabunda", só por ter tido a coragem e honestidade de acabar um casamento com um dos políticos mais queridos deste país.
Marta só quis ser feliz e verdadeira, nada mais.
O mesmo público que quase a apedrejou em praça pública foi o mesmo que foi beneficiado por dois dos mais importantes projetos de um político, em todos os tempos:
Os CEUs - Centro de Educação Unificados - , que nem apareciam nas suas promessas de campanha, foram responsáveis por levar arte, cultura, educação e esporte a áreas da periferia, não só para quem neles estudava, mas para toda a população do entorno.
Já o Bilhete Único - que permite ao passageiro usar até 4 conduções em duas horas pagando o valor de uma só passagem -, permitiu que os brasileiros de São Paulo, finalmente, pudessem desfrutar plenamente do direito constitucional de ir e vir.
Se não fôsse por dois túneis - mal - construídos na região da Avenida Faria Lima, e de um certo descontrole nos meses finais de governo, seu mandato como prefeita teria sido irretocável.
Mesmo assim, pagou o preço por ter sido honesta consigo mesma, e de ter ouvido o chamado da paixão após os cinquenta anos.
Não foi reeleita.
Nessa eleição, é candidata ao senado,apontada pelas pesquisas como já eleita, e pode vir a ser uma excelente líder do governo de Dona Dilma no Congresso.
Só que, na ânsia de voltar ao mundo político pelo voto, tomou uma decisão temerária, e difícil de engolir: aceitou para compor sua chapa nada menos que Netinho de Paula, pagodeiro, empresário, apresentador de TV e uma das personalidades mais obtusas dos últimos tempos.
Em 2005, Netinho espancou sua então esposa, até sangrar.
Fez o mesmo com humoristas e desafetos.
É um homem iletrado, tacanho, preconceituoso, despreparado e violento, exatamente o contrário que Marta pregou durante toda a sua vida.
Na ânsia de ser eleita, de ser querida novamente pelo eleitores, e ao aceitar fazer acordo com essa figura, Marta Suplicy iguala-se em tamanho a ele.
É triste, muito triste ver que, assim, a defensora das mulheres e das minorias joga sua biografia na lata do lixo.
*****
Você pode acompanhar essa coluna no YouTube, onde ela já está postada:
Psicóloga de formação, ela começou a aparecer para o grande público num quadro de cinco minutos, nos anos 80, no programa "TV Mulher" da Globo, onde, às onze e quinze da matina, abordava temas como orgasmo feminino, masturbação, sexo na terceira idade e homossexualidade.
Seu quadro fez tanto sucesso, e recebia tantas cartas - nessa época não tinha e-mail - que a Globo, em plena ditadura militar, aumentou seu tempo para dez minutos diários.
Lógico, os pseudo moralistas de plantão começaram a persegui-la, adjetivando a psicóloga - casada com um descendente da ilustre família Matarazzo - com toda sorte de maldades.
Prostituta, devassa, sem vergonha...
Determinada, Marta não só passou por tudo, como aproveitou a polêmica para se lançar na política, seguindo os passos do marido.
Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, e foi eleita deputada federal com uma das maiores votações que esse país já viu, com votos vindos, principalmente, das mulheres, de quem sempre defendeu os direitos, e dos gays, de quem comprou brigas históricas.
Em plenos anos 80, final do período militar, Marta foi o sopro de ar fresco que a Câmara presisava para renascer, a mesma Câmara que teve destacados parlamentares cassados pela ditadura.
De cara, apresentou um projeto polêmico: o que permitia a união jurídica entre pessoas do mesmo sexo.
Numa época em que pouco se falava do tema, o projeto provocou toda uma onda fascista contrária, tamanha, que até hoje permanece em alguma gaveta da Câmara, à espera de aprovação.
Depois dessa experiência legislativa, Marta voltou a ocupar espaços na televisão, com programas vanguardistas, polêmicos, e, acima de tudo, inteligentes.
Televisão que faz pensar, entre outros temas importantes, é tudo o que se espera de um país e de um povo que querem tomar para si a condução de seus próprios destinos.
Aproveitando o naufrágio do malufismo pós Pitta, Marta foi eleita prefeita da maior cidade do país, também com votação recorde.
Aproveitou os primeiros dias na prefeitura para finalmente encerrar um casamento que tinha acabado fazia tempo, e passou a circular em público com um novo amor, depois transformado em segundo marido.
As mal amadas e os hipócritas de plantão não perdoaram, e quem saia pelas ruas da cidade, ouvia até os seus eleitores a chamarem de "vagabunda", só por ter tido a coragem e honestidade de acabar um casamento com um dos políticos mais queridos deste país.
Marta só quis ser feliz e verdadeira, nada mais.
O mesmo público que quase a apedrejou em praça pública foi o mesmo que foi beneficiado por dois dos mais importantes projetos de um político, em todos os tempos:
Os CEUs - Centro de Educação Unificados - , que nem apareciam nas suas promessas de campanha, foram responsáveis por levar arte, cultura, educação e esporte a áreas da periferia, não só para quem neles estudava, mas para toda a população do entorno.
Já o Bilhete Único - que permite ao passageiro usar até 4 conduções em duas horas pagando o valor de uma só passagem -, permitiu que os brasileiros de São Paulo, finalmente, pudessem desfrutar plenamente do direito constitucional de ir e vir.
Se não fôsse por dois túneis - mal - construídos na região da Avenida Faria Lima, e de um certo descontrole nos meses finais de governo, seu mandato como prefeita teria sido irretocável.
Mesmo assim, pagou o preço por ter sido honesta consigo mesma, e de ter ouvido o chamado da paixão após os cinquenta anos.
Não foi reeleita.
Nessa eleição, é candidata ao senado,apontada pelas pesquisas como já eleita, e pode vir a ser uma excelente líder do governo de Dona Dilma no Congresso.
Só que, na ânsia de voltar ao mundo político pelo voto, tomou uma decisão temerária, e difícil de engolir: aceitou para compor sua chapa nada menos que Netinho de Paula, pagodeiro, empresário, apresentador de TV e uma das personalidades mais obtusas dos últimos tempos.
Em 2005, Netinho espancou sua então esposa, até sangrar.
Fez o mesmo com humoristas e desafetos.
É um homem iletrado, tacanho, preconceituoso, despreparado e violento, exatamente o contrário que Marta pregou durante toda a sua vida.
Na ânsia de ser eleita, de ser querida novamente pelo eleitores, e ao aceitar fazer acordo com essa figura, Marta Suplicy iguala-se em tamanho a ele.
É triste, muito triste ver que, assim, a defensora das mulheres e das minorias joga sua biografia na lata do lixo.
*****
Você pode acompanhar essa coluna no YouTube, onde ela já está postada:
Nenhum comentário:
Postar um comentário