quinta-feira, 9 de setembro de 2010

OS ITALIANOS NÃO EMPOLGAM, E OS JAPONESES ENCANTAM

O MELHOR CINEASTA JAPONÊS EM ATIVIDADE EXIBIU HOJE SUA SEGUNDA OBRA EM VENEZA 2010

O cineasta japonês Takashi Miike apresentou, nesta quinta-feira, seu filme "13 Assassins" - um resgate da era dos samurais - afirmando que criou o filme tendo em mente a educação das novas gerações.

"O que realmente me assusta é que as pessoas não sabem que esta é a história do nosso passado recente", lamentou Miike, sobre o drama de ação, ambientado no Japão feudal de meados do século XIX.

"A história não se passa no passado remoto, mas em um passado mais recente, que nossos bisavós viveram", afirmou.
"É algo que deve ter acontecido na vida real".

Foto: Divulgação
Cena do filme "13 Assassins"

Ao perceber que o filme original foi "feito para a geração do meu pai", Miike disse ter pensado "o que nós, uma outra geração, poderíamos fazer".
Para ele, é triste que "o cinema japonês possa ter esquecido como lidar com estes filmes de época".

Seu filme é um remake de ação - de um filme de 1963, rodado pelo falecido Eiichi Kudo - surpreendentemente fiel ao gênero para um diretor conhecido por seu estilo mais leve, onde ele aborda a ascenção ao poder do sádico Lorde Naritsugu e de um elaborado plano suicida para assassiná-lo.

Doze samurais têm o apoio de um 13º guerreiro, Koyata - interpretado pelo mega galã Yusuke Iseya - , armado apenas com um estilingue, para dar comicidade ao longa.
A fita evolui para terminar em uma cena final de combate digna de um 'blockbuster'.

Getty Images
O galã Yusuke Iseya, hoje em Veneza

Um cineasta tão prolífico quanto versátil, Miike também exibiu em Veneza "Zebraman", uma paródia de filmes de super-heróis, apresentado fora da competição.
Zebraman é um super-heroi cheio de defeitos, cuja missão é defender "a paz, a Justiça e o jeito japonês de viver".

Miike disse o filme se inspirou em seu programa favorito na infância - o mega cult "National Kid".
"Realmente sofri influência dele. Em 'Zebraman', a mensagem é que se você acredita em alguma coisa, ela vira realidade", acrescentou.

Quero ver os dois. A-do-ro os filmes de Miike!

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SAVÉRIO CONSTANZO EXIBIU SEU NOVO FILME

Também nesta quinta foi exibido na mostra competitiva "The Solitude of Prime Numbers" - do italiano Saverio Costanzo.

O filme é sobre um vínculo entre dois jovens assombrados por traumas da infância, e se baseou no primeiro romance de Paolo Giordano, que ficou famoso na Itália ao ganhar o prêmio de literatura Strega, o mais respeitado do país.

O filme é uma interpretação fiel do livro, exceto pelo uso de flashbacks ao invés da narrativa cronológica. "Tentamos fazer tudo acontecer no momento afetivo. Não há dias, há apenas o momento afetivo", disse Constanzo.

Getty Images
O diretor Saverio Constanzo, hoje em Veneza

Enquanto Mattia - Luca Marinelli - se tortura com a culpa pelo desaparecimento de sua irmã gêmea com problemas mentais, Alice - Alba Rohrwacher - é torturada por uma lesão incapacitante na perna, provocada por um acidente durante treino de esqui, o qual ela atribui ao pai por pressioná-la demais para se tornar uma campeã.

Eles se aproximam, mas não muito, assim como os números primos, que são separados apenas por um outro número, como 5, 7, 11 ou 13.
Ambos reagem punindo seus próprios corpos: Mattia fere a si mesmo, enquanto Alice vira anoréxica.

O escritor, co-roteirista do longa ao lado de Costanzo, disse ter conseguido se desapegar imediatamente do romance.
"Eu não senti qualquer repetição, parei de pensar nele como um produto meu, e deixei Saverio seguir seus instintos", explicou Giordano.

O filme ainda conta com a participação da Diva Isabella Rossellini.

Divulgação
Isabella Rossellini e Alba Rohrwacher em cena de "The Solitude of Prime Numbers"

Esse eu também quero ver.

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FILMES ITALIANOS TEM RECEPÇÃO MORNA

Os quatro filmes italianos que participam da competição oficial não obtiveram grande interesse, e nenhum deles está sendo visto como candidato sério ao Leão de Ouro - o prêmio máximo do Festival de Veneza, que será entregue no sábado.

O mais aplaudido pela imprensa italiana foi "We Believed", de Mario Martone, um épico de 3,5 horas de duração sobre os anos que levaram à unificação da Itália como Estado único, no século 19.

Mas, apesar de contar com alguns dos atores mais respeitados do país e de oferecer algumas indicações de como aquele período influenciou a Itália contemporânea, o filme não cativou os críticos estrangeiros.

Outro filme muito comentado antes do festival - que já foi a grande vitrine do cinema italiano - foi justamente o exibido hoje - "The Solitude of Prime Numbers", de Saverio Costanzo.

"The Black Sheep" - a estreia do comediante Ascanio Celestini como diretor - foi elogiado pela crítica italiana e estrangeira por sua história pessoal sobre o mundo das instituições para doentes mentais.

Mas parece que nenhum dos temas deve impressionar o presidente do júri do festival, Quentin Tarantino, que irritou a indústria cinematográfica do país, três anos atrás, quando disse que o novo cinema italiano é "deprimente".

"Os filmes recentes que tenho visto são todos iguais. Falam de garotos crescendo, ou garotas crescendo, ou casais em crise, ou férias de deficientes mentais", disse ele na época.

A única comédia italiana pura na competição, "The Passion", de
Carlos Mazzacurati, não se enquadra na categoria "deprimente", mas, a julgar pelas primeiras resenhas, tampouco foi bem recebida.

O cinema italiano tem presença grande em Veneza este ano, com 43 produções sendo vistas nas diversas seções, de modo que a falta geral de entusiasmo será ainda mais decepcionante para uma indústria que nutria altas esperanças, após o sucesso de "Gomorra" e "Il Divo" em Cannes, dois anos atrás.

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Fontes: Reuters, AP, UOL, Getty Images e site oficial do Festival de Veneza

Redação Final: Cláudio Nóvoa

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