Biografia de africana considerada "aberração" agita Veneza
Um filme baseado na história verídica de Saartjie Baartman, uma mulher trazida da região que hoje é a África do Sul para a Europa no início do século 18 e exibida como aberração da natureza por causa de sua aparência, impressionou as plateias em Veneza.
"Venus Noire", dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, é um dos 24 filmes da competição principal do festival, e as reações positivas após as sessões para a imprensa sugerem que seja um dos favoritos para os prêmios que serão entregues na cerimônia de encerramento, no sábado.
Yahima Torres faz o papel de Baartman, a chamada "Vênus hotentote" que viajou para Londres em 1810 e a Paris alguns anos depois na esperança de fazer fortuna e retornar a sua terra.
O filme, que recorda alguns aspectos de "O Homem Elefante", de 1980, começa com Baartman fazendo o papel de selvagem amansada diante de uma multidão agitada em Londres que demonstra ao mesmo tempo repulsa e fascínio por sua aparência e comportamento.
Ao mesmo tempo escrava de um senhor avarento e participante de uma atividade lucrativa, Baartman tinha algum controle sobre seu destino.
Mas, depois de mudar-se para Paris, sua exposição tornou-se cada vez mais cruel e humilhante, e ela morreu como prostituta.
Após sua morte, cientistas franceses examinaram seus restos mortais, conservando cérebro e genitais para a posteridade e teorizando que ela seria mais próxima dos macacos que dos humanos europeus -- logo, que seria de uma raça inferior.
Para Kechiche, a história de crueldade e intolerância tem repercussões até hoje.
"Acho que não é coincidência que as teorias de cientistas do passado repercutam e tenham repercutido até muito recentemente, por exemplo, no surgimento do fascismo na Europa", disse o diretor a repórteres em Veneza.
"Senti que eu tinha o dever moral de testemunhar as coisas que continuam a acontecer até hoje."
"Neste momento particular no tempo, estou muito preocupado, até angustiado com as imagens que vejo das expulsões", disse ele, referindo-se à repatriação recente de ciganos da França para a Europa oriental.
"Quero dizer que, infelizmente, o filme faz parte da sociedade contemporânea, é muito relevante para a sociedade contemporânea."
Kechiche se interessou em fazer um filme sobre Baartman quando a África do Sul pediu à França que devolvesse os restos mortais dela, que até meados dos anos 1970 estavam expostos no Museu do Homem, em Paris.
Os restos mortais foram devolvidos à África do Sul em 2002 e sepultados na província do Cabo, onde Saartjie Baartman nasceu.
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Irmãos Affleck promovem batalha de confetes em Veneza
Durante a entrevista coletiva do ator Ben Affleck, na manhã de hoje, algumas palavras e expressões eram repetidas, por ele e pelo resto da equipe, quase feito mantra.
"Foi uma grande oportunidade" e "Foi fantástico" são algumas delas.
Quem apenas ouvisse a entrevista, sem ter visto o filme que ele dirigiu e mostrou em veneza - "The Town" - deixaria a sala certo de que Affleck fez um dos grandes filmes de todos os tempos.
E não só ele. Ele e seu irmão, Casey Affleck, que trouxe "I'm Still Here" também.
Claudio Onorati/Efe
Joaquin Phoenix em Veneza; ela participa de "I'm Still Here", filme dirigido por Casey Affleck
"Tudo que posso dizer é que o filme dele é espetacular. Ele é um grande diretor", afirmou Ben.
Casey, há dois dias, também havia falado - bem - do irmão.
Lindo, né? Um irmão jogando confetes no outro...
Sobre o próprio trabalho - um filme de ação passado num bairro de Boston chamado Charlestown - ele tampouco foi modesto em referências e entusiasmo.
Divulgação
Ben Affleck, nas filmagens de "The Town"
Ben contou ter tentado reproduzir o clima dos filmes de gângster da Warner - da década de 30 - e ao mesmo tempo contar uma história de alguém que tentar mudar de vida, mas não pode mais.
Diretor, protagonista e também roteirista, Ben participa fora de concurso com uma das grandes produções americanas que melhor foi recebida na Cidade dos Canais, e em cujo elenco figura também a britânica Rebecca Hall - a Vicky de "Vicky Cristina Barcelona".
Baseado no romance "Prince of Thieves", de Chuck Hogan, conta a história de um experiente grupo de ladrões de bancos de Boston.
O cérebro do grupo é o personagem interpretado por Ben, Doug MacCray, quem vê seu destino mudar quando conhece mais a fundo a diretora de um dos bancos que ataca.
"Me perguntei se (com o filme) estava glorificando um personagem criminoso ou glorificava a violência. Esta pergunta era importante. As consequências morais eram importantes. Mas tentei ser preciso e também o mais complexo possível", comentou Ben Affleck em entrevista coletiva em Veneza.
Ele estreou como diretor em "Medo da Verdade" (2007), e reconheceu ter se inspirado no filme "Gomorra" - sobre a máfia napolitana, baseado no livro do jornalista italiano Roberto Saviano.
Vamos esperar para conferir se Ben Affleck é melhor diretor do que é ator, já que seu filme de 2007 é muito ruim.
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Entrevista coletiva de Ben Affleck foi a mais concorrida do Festival
Para rivalizá-lo, só mesmo seus colegas de Hollywood, como Natalie Portman e Sofia Coppola que, apesar de ter feito um filme independente e de ar mais europeu, tem um sobrenome que não nega sua origem.
Tony Gentile/Reuters
Ben Affleck na coletiva de lançamento de seu novo filme, "The Town"
A sala lotada, com gente de pé, nos corredores, chamou a atenção especialmente porque, uma hora antes, durante a entrevista coletiva de Marco Bellochio, um dos grandes cineastas em atividade, a sala tinha metade dos lugares vagos, graças à tempestade que, na manhã de hoje, mais uma vez, deixou o Lido debaixo d'agua e alagou uma parte do Palazzo Del Cinema.
Mas o medo da chuva, pelo visto, só atinge o cinema autoral.
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Confira o dia a dia do festival de Veneza através de imagens:
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