quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PAIS CONTAM COMO DISSERAM AOS FILHOS QUE SÃO GAYS


Recentemente, o cabeleireiro Vasco Pedro da Gama, 40 anos, de Catanduva (SP), perguntou à filha:
 "As crianças costumam mexer com você por minha causa?".
 "Sim, algumas vezes. Na perua escolar", ouviu como resposta. 
"E o que elas dizem?", continuou. 
"Dizem que você é gay, que tem namorado. Eu respondo que é verdade, e algumas dão risada".
 Vasco insiste: "E você se incomoda com isso?". 
"Não, porque é verdade. E se vocês se gostam, qual o problema? Vai saber se na casa delas os pais gostam das mães".

De simplicidade e clareza desconcertantes, o argumento de Teodora, 10 anos, encheu o pai adotivo de orgulho. 

Vasco e seu parceiro, o também cabeleireiro Dorival Pereira de Carvalho Jr., 49, foram o primeiro casal homossexual a adotar uma criança no Brasil, em 2006. 
Pioneiros, portanto, de um novo arranjo familiar que só tende a crescer nas estatísticas.

"É claro que sinto receio de ver a minha filha como alvo de preconceito ou agressões, mas tento ensiná-la no dia a dia a viver com verdade. Expliquei tudo desde que percebi que ela tinha condições de assimilar. Somos homens, nos amamos e a amamos. E essa é a nossa família", afirma.

Os gracejos na perua escolar são, segundo Vasco, episódios isolados e que aconteceram poucas vezes. 
Ele garante que Teodora é uma criança feliz e que é respeitado pelos pais dos amigos dela.

Para o jornalista Christian Heinlik, de 38 anos, de São Paulo, é fundamental tratar o assunto com naturalidade, sempre respeitando o tempo da criança. 
"No caso do Pedro Vinícius, que foi adotado aos oito anos e hoje tem 12, ele começou a fazer perguntas e a tirar conclusões. E eu nunca omiti nada", garante.

Ag.A Tarde
Vasco e Dorival foram os primeiros gays a terem adotado uma criança no Brasil, em 2006

Embora qualquer cidadão brasileiro que comprove situação financeira e emocional estável possa adotar uma criança, o processo não é fácil. 

No caso dos homossexuais, é ainda mais difícil. 

O banqueteiro Marcelo Eduardo Sampaio, 43 anos, e o dentista Eduardo Luis Indig, 48, enfrentaram uma batalha árdua até conquistarem a guarda definitiva de Manoel, de quatro anos. 
"Assim que o vimos pela primeira vez o amor paterno explodiu. Passamos todos os finais de semana com ele durante seis meses. Até que um juiz nos proibiu de vê-lo", recorda Marcelo
"Depois que um desembargador adoeceu, todo o grupo julgador foi trocado e vencemos. Foi uma vitória do amor, depois de um ano de sofrimento", desabafa ele. 
O casal continua no cadastro nacional de adoção para adotar outra criança.

UOL
Jackson Nascimento foi casado durante oito anos e teve três filhos antes de assumir ser gay

O caminho do cabeleireiro Jackson Nascimento, 37 anos, de São Paulo, também foi árduo. 

Ele foi casado durante oito anos e teve três filhos: Kaylla, de 14, e os gêmeos Kaíke e Kaio, 13. 
"Tentei levar uma vida de heterossexual, mas não deu certo. Casei para provar a mim mesmo algo que eu não era, mas quando os gêmeos completaram dois anos decidi me separar, sair de casa e assumir minha opção", conta. 

A ex-mulher, revoltada, o "obrigou" a ficar com a menina.
 "Ela achava que se eu tivesse de cuidar de uma criança não poderia sair, me divertir", diz.

Dois anos depois, ela se casou de novo e se mudou para o Sul e deixou Kaíke e Kaio com o pai. 
"Foi um aprendizado. Tive de me virar com futebol, videogame e outras coisas de menino", explica. 

Há cerca de quatro anos ele reuniu a prole e revelou ser gay. 
"Na época, não entenderam muito bem. Mas depois foram assimilando a informação aos poucos. Hoje, são até amigos do meu ex-namorado. E se dão bem com o atual", destaca Jackson.

Para ele, a melhor coisa que um pai gay tem a fazer é se respeitar, pois assim os filhos o respeitarão. 

E como a sociedade sempre vai estar de olho, ainda que de modo sutil, é essencial ser um pai nota 10. 
"Nunca faltei a uma reunião na escola e sempre fui elogiado pelas professoras. E acabo de matriculá-los em um curso de espanhol. Quero que tenham um futuro excelente", diz o cabeleireiro, que garante não se arrepender de nada do que fez. 
"Tenho orgulho da minha vida".

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Matéria da Jornalista Heloísa Noronha, para o UOL

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