J.J. Abrams, 45, é um "nerd" que deu certo, já que, de garoto impopular na escola, se tornou o criador de séries de enorme sucesso, como Lost e Alias e foi o grande responsável pela revitalização da saga mais lucrativa da Paramount - Star trek.
De volta às telonas com Super-8, Abrams diz que o projeto é uma soma de suspense, comédia e história humana.
"Como acontecia nos filmes de [Steven] Spielberg nos anos 70."
A menção ao criador de ET e Tubarão não é de graça, já que Steven Spielberg é o produtor desse filme e uma espécie de mentor do diretor.
Abrams, em conversa com jornalistas europeus e brasileiros em Londres, e prestea a iniciar as filmagens da nova aventura de Star Trek rejuvenescida, contou como começou a filmar, sobre a relação com o pai e sobre o cinema atual.
"É muito difícil fazer filmes num momento como esse em que os filmes já nascem como blockbusters, mesmo que não tenham qualidade."
David Shankbone/Creative Commons
O diretor J.J. Abrams no baile de gala da revista "Time"
Pergunta - Você era um adolescente que também gostava de super-8 [formato de filme em 8 milímetros]. Quão autobiográfico é o filme?
J.J. Abrams - Eu claramente sou o garoto gordinho, que gosta de fazer filmes. Ao mesmo tempo, não tenho muita segurança e era um pouco retraído como o Joel. Também gostava de explodir coisas. Então era um pouco de cada um dos três garotos do filme.
Como você começou a fazer filmes?
Eu tinha 8 anos quando visitei os estúdios da Universal. Vi como eram feitos os filmes e pensei que eu também poderia fazer. Na época, meu pai tinha uma câmera, o que facilitou as coisas.
Nunca fui o cara mais popular da escola, o mais esperto, então pensei que poderia me transformar em alguém se fizesse filmes. Eu participei de um festival com um desses filmetes e foi lá que eu conheci o [Steven] Spielberg.
Por falar nisso, como foi trabalhar com ele como produtor?
Foi excitante e ótimo. Ele tem um instinto inacreditável e ideias sensacionais. O envolvimento dele foi de total apoio.
"Super-8", com histórias mais humanas e estilo do cinema dos anos 70, é uma espécie de manifesto nestes tempos de filmes de super-herois em 3D?
Eu não sabia quando "Super-8" seria lançado. Não sabia se seria entre "Piratas do Caribe" e "Transformers", em meio a sequências e recomeços de histórias. É muito difícil fazer filmes num momento como esse em que os filmes já nascem como blockbusters, mesmo que não tenham qualidade.
Qual a inspiração para esse filme?
A primeira inspiração foi revisitar aquele época da minha vida, a adolescência, que foi realmente estranha, especial, pura, engraçada.
Aí, liguei para o Spielberg e disse: você quer fazer um filme chamado Super-8 que é sobre garotos querendo fazer filmes, da forma como eu e vocês queríamos? Ele topou.
Uma das coisas de que gosto naquele época é que tudo era analógico. Você tinha que esperar para ver o resultado das coisas. Não era apenas filmar e estava pronto. Era preciso mandar o filme revelar. E isso tomava tempo.
Você tinha também que editar fisicamente, cortando os pedaços dos filmes e remontando. Se queria colocar uma música, tinha que pegar sua bicicleta e ir até uma loja de discos para comprar um.
Hoje tudo mudou. Bastam cliques. Nem do dinheiro físico você precisa mais. Eu compro músicas que nunca ouço. Eu adoro a era digital, mas sinto falta de muitas coisas, de muitas experiências, dos objetos físicos.
Ao ver "Super-8", é impossível não lembrar de "Conta Comigo" (filme de Rob Reiner, de 1986, que também mostra a transformação de adolescentes).
Eu não quis apenas refazer filmes como "ET" ou "Conta Comigo", mas fui influenciado, é claro. Há também outras influências, de cineastas europeus como Jean Vigo, [François] Truffaut. O Spielberg me falava: não haveria cinema americano sem esses filmes franceses, sem esse sentimentalismo, essa emoção.
Sentimentalismo tem sempre uma conotação negativa, mas não fico nem um pouco incomodado com isso.
Queria fazer um filme em que as crianças fossem apenas crianças.
Qual será a audiência para esse filme? Jovens? Adultos que eram adolescentes nos anos 70, época em que o filme se passa?
Não tenho ideia. A ambição desse filme é ser uma comédia, um drama familiar, um triller. Quis combinar isso tudo, como Spielberg fazia. Quero que as pessoas se identifiquem com os personagens e talvez chorem, se divirtam. É para todo mundo, para jovens, para pessoas com 40 anos.
Em seus filmes e séries de TV, sempre aparece a figura de um pai problemático. É algo que tem a ver com sua própria vida?
Eu e meu pai temos uma boa relação agora, mas quando eu era criança, era um pouco difícil. Porque, nos EUA, nos anos 70, os pais não se envolviam tanto nas criação dos filhos como hoje. Meu pai era o típico pai daquela época. Um pouco ausente.
Mas a história da relação do pai e filho neste filme é algo que eu sempre quis explorar. Sempre achei muito interessante essa ideia de alguém que perde a mãe, com quem tem afinidade, e acaba ficando com o pai, com quem precisa construir um relacionamento.
Por que vocês envolveram o filme em tanto segredo, até proibiram os atores de falar sobre o enredo?
Eu quero que as pessoas assistam ao filme como algo novo, não que saibam tudo sobre a produção, os atores etc. Prefiro que as pessoas tenham grandes expectativas do que já saibam de tudo.
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Matéria Original: Vaguinaldo Marinheiro - Folha de S.Paulo
Redação Final: Cláudio Nóvoa
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