Nos primeiros minutos de "Reencontrando a Felicidade", as personagens conversam, mas o espectador logo nota que não falam sobre tudo.
Sentimos no ar um certo receio, e logo entendemos o porquê: oito meses atrás, o casal Becca - Nicole Kidman, em interpretação indicada ao Oscar 2011 - e Howie - o acima da média Aaron Eckhart - perdeu o filho pequeno e ainda tenta conviver com essa dor.
DivulgaçãoNicole Kidman e Aaron Eckhart, em cena do filme
Para isso, procuram um grupo de ajuda, que parece funcionar melhor para Howie, enquanto sua mulher entra em conflito com pessoas que vivem a mesma situação e buscam explicações, quando, sabemos todos, não há.
Becca prefere fechar-se em seu próprio eu, parecendo que a dor é mais um conforto do que algo a ser superado.
Aparentemente, essa história não parece ser a ideal para o terceiro filme de John Cameron Mitchell - de "Shortbus" e "Hedwig - Rock, Amor e Traição", filmes em que a questão da sexualidade, até explícita, era o centro da trama - já que Becca e Howie são praticamente assexuados, embora exista uma tentativa frustrada de sedução.
Só que o diretor monstra aqui ter sensibilidade na medida certa para compreender as nuances do roteiro de David Lindsay-Abaire - baseado em sua peça ganhadora do Pulitzer - já que boa parte da força da trama vem de seu texto, dos bons diálogos e da forma como a narrativa se abre, com a tensão crescendo de forma gradativa.
É assim que uma das melhores cenas que eu vi nos últimos tempos acontece quando Howie e Becca começam a discutir sobre um assunto e culminam numa disputa para saber qual dos dois tem mais culpa na morte do filho - eles não culpam um ao outro, mas cada um a si mesmo.
E a situação fica ainda mais desconfortável quando a irmã de Becca, Izzy - interpretada por Tammy Blanchard -, engravida e a mãe delas, Nat - a excepcional Dianne Wiest - insiste em comparar a morte do neto com a do seu próprio filho.
DivulgaçãoNicole Kidman e Tammy Blanchard, que interpreta sua irmã, em cena do filme
O que nenhuma das personagem parece perceber - inclusive Becca - é que ela não está preparada para "lidar com a dor" ou "seguir em frente", termos mentirosos que os grupos de ajuda tanto gostam de usar, já que ninguém tem a coragem de dizer francamente a ela que procure outros tipos de apoio.
E as dúvidas que brotam a todo momento?
O que fazer com as roupas e e os brinquedos do filho morto?
O que fazer com o cachorro?
E como lidar quando vir por acaso o motorista que dirigia o carro que matou o filho dela?
Para nossa felicidade, o filme evita o caminho seguro e fácil dos clichês e segue de forma sutil, dando espaço para que as personagens vivenciem suas histórias, sem empurrá-las numa ladeira de desespero -e é uma enorme surpresa quando Becca se torna amiga de Jason - Miles Teller -rapaz causador do acidente que matou seu filho.
DivulgaçãoMiles Teller, que interpreta o causador do acidente, e Nicole Kidman, em cena do filme
O filme atinge seu clímax aí, já que não há segundas intenções nos encontros entre eles, que afinal querem apenas conversar, partilhar um trauma mútuo, em diferentes proporções e com significados diferentes, onde cada um pode beneficiar-se da presença do outro.
Nicole tem aqui cenas de tirar o fôlego, e é muito bom ver - e saber - que os papéis que ela vinha fazendo últimamente serão facilmente esquecidos, se comparados com essa maravilhosa Becca - papel que ela escolheu a dedo, já que também é produtora do filme, e que só poderia ser feito pela excepcional atriz que Nicole é.
DivulgaçãoNicole Kidman en cena do filme: atuação excepcional
Enquanto isso, o marido Howie insiste em frequentar um grupo de apoio em que pessoas se encontram, algumas há vários anos, para falar sobre a morte dos filhos, e Eckart consegue brilhar também, excepcional ator que é.
O título original do filme, "Rabbit Hole" - "toca do coelho" em tradução livre -, faz uma referência clara ao universo de "Alice no País das Maravilhas", mas também ganha outros sentidos ao longo da história, onde vemos que é necessário uma vida paralela, um mundo de fantasia, para superarmos os nossos traumas, as nossas dores.
É preciso escapismo para enfrentar a vida, e quando o filme levanta questões como essa, encontra-se a grande humanidade e beleza que residem em suas personagens, e é quando mais nos identificamos com eles.
Filmaço.
Veja o trailer do filme:
*****
"REENCONTRANDO A FELICIDADE"
Título Original:
Rabbit Hole
Diretor:
John Cameron Mitchell
Elenco:
Nicole Kidman
Aaron Eckhart
Sandra Oh
Dianne Wiest
Jon Tenney
Giancarlo Esposito
Tammy Blanchard
Miles Teller
Mike Doyle
Patricia Kalember
Julie Lauren
Ursula Parker
Produção:
Nicole Kidman
Per Saari
Gigi Pritzker
Leslie Urdang
Dean Vanech
Roteiro:
David Lindsay-Abaire, baseado em sua peça ganhadora do Prêmio Pulitzer
Fotografia:
Frank G. DeMarco
Trilha Sonora:
Anton Sanko
Duração:
Inesquecíveis 91 min.
Ano:
2010
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdios produtores:
Olympus Pictures
Blossom Films
Odd Lot Entertainment
COTAÇÃO DO KLAU:
Sentimos no ar um certo receio, e logo entendemos o porquê: oito meses atrás, o casal Becca - Nicole Kidman, em interpretação indicada ao Oscar 2011 - e Howie - o acima da média Aaron Eckhart - perdeu o filho pequeno e ainda tenta conviver com essa dor.
DivulgaçãoNicole Kidman e Aaron Eckhart, em cena do filme
Para isso, procuram um grupo de ajuda, que parece funcionar melhor para Howie, enquanto sua mulher entra em conflito com pessoas que vivem a mesma situação e buscam explicações, quando, sabemos todos, não há.
Becca prefere fechar-se em seu próprio eu, parecendo que a dor é mais um conforto do que algo a ser superado.
Aparentemente, essa história não parece ser a ideal para o terceiro filme de John Cameron Mitchell - de "Shortbus" e "Hedwig - Rock, Amor e Traição", filmes em que a questão da sexualidade, até explícita, era o centro da trama - já que Becca e Howie são praticamente assexuados, embora exista uma tentativa frustrada de sedução.
Só que o diretor monstra aqui ter sensibilidade na medida certa para compreender as nuances do roteiro de David Lindsay-Abaire - baseado em sua peça ganhadora do Pulitzer - já que boa parte da força da trama vem de seu texto, dos bons diálogos e da forma como a narrativa se abre, com a tensão crescendo de forma gradativa.
É assim que uma das melhores cenas que eu vi nos últimos tempos acontece quando Howie e Becca começam a discutir sobre um assunto e culminam numa disputa para saber qual dos dois tem mais culpa na morte do filho - eles não culpam um ao outro, mas cada um a si mesmo.
E a situação fica ainda mais desconfortável quando a irmã de Becca, Izzy - interpretada por Tammy Blanchard -, engravida e a mãe delas, Nat - a excepcional Dianne Wiest - insiste em comparar a morte do neto com a do seu próprio filho.
DivulgaçãoNicole Kidman e Tammy Blanchard, que interpreta sua irmã, em cena do filme
O que nenhuma das personagem parece perceber - inclusive Becca - é que ela não está preparada para "lidar com a dor" ou "seguir em frente", termos mentirosos que os grupos de ajuda tanto gostam de usar, já que ninguém tem a coragem de dizer francamente a ela que procure outros tipos de apoio.
E as dúvidas que brotam a todo momento?
O que fazer com as roupas e e os brinquedos do filho morto?
O que fazer com o cachorro?
E como lidar quando vir por acaso o motorista que dirigia o carro que matou o filho dela?
Para nossa felicidade, o filme evita o caminho seguro e fácil dos clichês e segue de forma sutil, dando espaço para que as personagens vivenciem suas histórias, sem empurrá-las numa ladeira de desespero -e é uma enorme surpresa quando Becca se torna amiga de Jason - Miles Teller -rapaz causador do acidente que matou seu filho.
DivulgaçãoMiles Teller, que interpreta o causador do acidente, e Nicole Kidman, em cena do filme
O filme atinge seu clímax aí, já que não há segundas intenções nos encontros entre eles, que afinal querem apenas conversar, partilhar um trauma mútuo, em diferentes proporções e com significados diferentes, onde cada um pode beneficiar-se da presença do outro.
Nicole tem aqui cenas de tirar o fôlego, e é muito bom ver - e saber - que os papéis que ela vinha fazendo últimamente serão facilmente esquecidos, se comparados com essa maravilhosa Becca - papel que ela escolheu a dedo, já que também é produtora do filme, e que só poderia ser feito pela excepcional atriz que Nicole é.
DivulgaçãoNicole Kidman en cena do filme: atuação excepcional
Enquanto isso, o marido Howie insiste em frequentar um grupo de apoio em que pessoas se encontram, algumas há vários anos, para falar sobre a morte dos filhos, e Eckart consegue brilhar também, excepcional ator que é.
O título original do filme, "Rabbit Hole" - "toca do coelho" em tradução livre -, faz uma referência clara ao universo de "Alice no País das Maravilhas", mas também ganha outros sentidos ao longo da história, onde vemos que é necessário uma vida paralela, um mundo de fantasia, para superarmos os nossos traumas, as nossas dores.
É preciso escapismo para enfrentar a vida, e quando o filme levanta questões como essa, encontra-se a grande humanidade e beleza que residem em suas personagens, e é quando mais nos identificamos com eles.
Filmaço.
Veja o trailer do filme:
*****
"REENCONTRANDO A FELICIDADE"
Título Original:
Rabbit Hole
Diretor:
John Cameron Mitchell
Elenco:
Nicole Kidman
Aaron Eckhart
Sandra Oh
Dianne Wiest
Jon Tenney
Giancarlo Esposito
Tammy Blanchard
Miles Teller
Mike Doyle
Patricia Kalember
Julie Lauren
Ursula Parker
Produção:
Nicole Kidman
Per Saari
Gigi Pritzker
Leslie Urdang
Dean Vanech
Roteiro:
David Lindsay-Abaire, baseado em sua peça ganhadora do Prêmio Pulitzer
Fotografia:
Frank G. DeMarco
Trilha Sonora:
Anton Sanko
Duração:
Inesquecíveis 91 min.
Ano:
2010
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdios produtores:
Olympus Pictures
Blossom Films
Odd Lot Entertainment
COTAÇÃO DO KLAU:
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