segunda-feira, 30 de maio de 2011

BIOGRAFIA DE RICKY MARTIN É REDUNDANTE DEMAIS, MAS É SINCERA E VERDADEIRA

A autobiografia da lenda latina Ricky Martin, apesar de ser redundante na maioria dos capitulos, faz bem à autoestima de gays que querem sair do armário mas não sabem por onde começar.

Os capítulos são escritos num tom de total sinceridade, onde o ex-Menudo relata conflitos reais enfrentados pelos meninos desde a infância, quando o desejo por pessoas do mesmo sexo provoca sensações que os meninos ainda não sabem contgrolar - é bom, mas é visto como errado, dá prazer, mas depois vem a depressão e a culpa.

No livro, Kiki - seu apelido de infância - descreve, beirando muitas vezes a redundância, as reações mais frequentes do antes e do depois a uma saída do armário: o extremo alívio, o arrependimento por não ter feito isso antes e uma explosão de coragem de refazer a vida em bases mais autênticas, ao finalmente assumir o que ele mesmo destaca, o "foda-se para a opinião dos outros".

Ricky relata bem os momentos anteriores àquele 29 de março de 2010, quando decidiu apertar o botão do micro para enviar a carta em que revelava sua homossexualidade, ficando muito feliz pela aprovação dos fãs, pelo aumento das vendas de seus álbuns na semanas seguintes e, principalmente, por encarar seus amigos, família e filhos sem a máscara da mentira.

Ricky  era "obrigado" a posar de "amante latino", sedutor de mulheres, reafirmando o machismo da cultura de sua terra natal, Porto Rico, e, nessa parte da narrativa, o artista toca no drama de homens não tão efeminados que recebem cantadas femininas e toda a pressão para que sejam conhecidos como garanhões insaciáveis.

"Olho para Elton John, que é indiscutivelmente um ícone, e acho impressionante a forma como ele aceitou sua sexualidade. Mas eu não sou ele, e, culturalmente, senti que as implicações de aceitar minha sexualidade diante do resto do mundo seriam muito mais complicadas", escreve Kiki na página 261.

O livro frustra muito seus fãs ao narrar os bastidores do Menudo, boy band portorriquenha que foi um tremendo sucesso no mundo todo - Brasil incluso - e onde Ricky começou sua carreira.

Sempre se especulou sobre as aventuras sexuais na banda, mas Ricky não vai além dos relatos sobre a forte disciplina a que os meninos eram submetidos, os muitos acessores que cada um deles tinha e o luxo e conforto das temporadas em hotéis, cheios de videogames.

Na autobiografia, ele deixa claro que seu melhor momento profissional foi com a música
"Livin' la vida loca", que lhe rendeu diversos prêmios e a sensação de estar no topo da indústria fonográfica mundial - Ricky também enfrentou muitos conflitos nessa época, como o cerco da mídia, as cobranças para se manter no topo, e os exaustivos compromissos com turnês que o deixaram exausto.

Relembre o belo clipe de "Livin' la vida loca":

Foi exatamente nessa fase de muito cansaço que ele foi encurralado pela jornalista e ícone da TV norte-americana Barbara Walters que, com seu estilo frio e doce de disparar peerguntas comprometedoras para os entrevistados, perguntou na lata se ele era gay.
Ricky ainda tentou fugir dizendo que isso era uma assunto particular, mas, como é de seu feitio, Barbara insistiu por diversas vezes.

"Minha visão ficou turva e meu coração disparou. Senti-me como um lutador de boxe que acaba de ser acertado por um soco decisivo - cambaleante e na defensiva, mas já nocauteado, prestes a cair. Mas não caí. Não sei como consegui, mas fiquei firme", conta ele no livro.

Depois dessa fase, Ricky decidiu largar tudo e ir para a Índia, onde narra que finalmente começou um auto-conhecimento que o fez ser um ser humano muito melhor, e onde também resolveu abraçar a causa das crianças exploradas pelo mundo, com a idealização de sua fundação.

O livro ainda traz detalhes de duas paixões de sua vida, por uma apresentadora e atriz mexicana, e por um locutor de rádio na época em que atuou na tele novela General Hospital, mas nada fala do seu atual companheiro, o analista financeiro Carlos González.

Getty Images
Ricky Martin e Carlos González, em um dia na praia

Em compensação, Ricky  fala muito dos seus dois filhos, os gêmeos Valentino e Matteo, desde quando decidiu ser pai, a escolha da mãe que os gerou por barriga de aluguel, o nascimento e sua nova vida desde então, mostrando-se um pai sempre presente e muito ligado aos dois.

Getty Images
Ricky com os filhos, logo após o nascimento

Ao terminar a leitura de Eu, se você é gay assumido, você vai se sentir feliz por testemunhar o desabafo de um menino que fez três testes para virar Menudo, que sofreu por ser migrante latino nos Estados Unidos devido a seu sotaque e por não falar inglês, que não sabia se era melhor como ator de novela ou cantor, e que hoje se tornou um ícone do bem para novas gerações de garotos.

Se você não é gay, o livro vai ajudá-lo a desfazer preconceitos,saber sobre os relacionamentos de Ricky com mulheres e, para quem tem a mente aberta, buscar inspiração para uma vida mais autêntica e menos encanada.

Eu
Título: Eu
Autor: Ricky Martin 
Editora: Planeta
Edição: 1
Ano: 2010
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 304 páginas
Quanto: R$ 27,90 - preço promocional 
Onde Comprar: Livraria da Folha
COTAÇÃO DO KLAU:

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