segunda-feira, 16 de maio de 2011

CANNES 2011: NA SEGUNDA, ALESSANDRA NEGRINI ESTEVE LÁ - OS SEGREDOS DE UM BORDEL - O CASAL 20 - GRANA PARA BRASILEIROS - O FILME DE MALICK

Confira agora o que de melhor aconteceu no Festival de Cinema de Cannes nesta segunda, (16):

ALESSANDRA NEGRINI: UMA ESTRELA BRASILEIRA EM CANNES

Alessandra Negrini já esteve duas vezes no Festival de Veneza, para apresentar filmes de Júlio Bressane - "Cleópatra" e "A Erva do Rato".

Ontem, esteve pela primeira vez em Cannes como a grande protagonista de
"O Abismo Prateado", filme de Karim Ainouz que faz parte da paralela
"Quinzena dos Realizadores".

Alessandra veio direto de Lisboa, onde participou de um festival que homenageava Bressane, ainda está só curtindo o glamour de Cannes, mas nesta terça (17) apresenta as primeiras sessões do filme, quando começa a colher as impressões de público e crítica.

Violeta, sua personagem, é uma dentista de classe média no Rio, casada e com um filho, que de repente se vê numa situação de abandono - o filme acompanha 24 horas na vida dessa mulher.

Dos 85 minutos de filme, Alessandra fica sozinha na tela por 50.
"É uma mulher comum, mãe, gente boa. A partir desse abandono, ela sofre um corte na linha do tempo. De repente, o tempo morre para ela. Ali ela vive o seu abismo, o vazio que todos nós sentimos algum dia", conta.

Ainouz, diretor de "Madame Satã" e "O Céu de Suely", diz que Alessandra passou no "teste do copo d’água".
"Você enquadra o ator ou atriz tomando água, sem fazer nada, para sentir a presença dele diante da câmera, a força que ele tem. A Alessandra tem essa presença forte. Tem um primeiro plano dela que é comum, mas um segundo plano que não é".

Thiago Stivaletti/UOLAlessandra Negrini e o diretor Karim Ainouz no Festival de Cannes

A escolha da atriz, segundo ele, foi "um pouco pelo talento e muito por seu percurso: navegando entre novela, teatro, os filmes de Bressane, o estudo em Ciências Sociais".

Livremente inspirado na música "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque,
"O Abismo Prateado" é tão livre que Alessandra se baseou inteiramente no roteiro, e não na música em si.
"A apropriação que o filme faz da música é genial. Ela fala de um tempo futuro: 'olhos nos olhos, quero ver o que você faz...'. São as esperanças, os sonhos da Violeta que estão ali. É um filme de emoção, de pulsão, que não tem exatamente uma trama", declarou a atriz.

Foram quatro semanas filmando à noite, nas ruas de Copacabana e no aeroporto Santos Dumont, no Rio.

A atriz completou dizendo que filmar à noite não lhe atrapalha - ao contrário, serve de inspiração.
"Sou uma pessoa da noite. Sempre fui assim, de dormir muito, acordar tarde...".

DivulgaçãoAlessandra Negrini em cena de "O Abismo Prateado"

Cinema é uma paixão que arrebata a estrela.
"No set, não consigo ser só atriz. Fico ali atrás do diretor, quero saber como ele fez aquela cena, onde vai ser o corte, como está a luz...".

E confessa que tem muita vontade de dirigir seu próprio filme.
"Mas claro, vou começar por um curta..."

Numa relação mais distante da TV - foram apenas especiais isolados desde a novela "Paraíso Tropical", de 2007 -, Alessandra deve voltar às novelas entre o fim de 2011 e o começo de 2012.
"A experiência da TV é fundamental. Me deu muita coisa que uso no cinema: a precisão no atuar, a concentração. Curto muito a rapidez do trabalho em TV. Mas a gente sempre quer que as novelas sejam um pouco mais curtas..."


OS SEGREDOS DE UM BORDEL, MOSTRADOS POR DIRETOR FRANCÊS

O diretor francês Bertrand Bonello recriou em "L'Apollonide" - que disputa a Palma de Ouro - um bordel parisiense do fim do século XIX, com muita nudez, ópio e, principalmente, os sorrisos trágicos das prostitutas.
"Voltar aos bordeis ou permitir que as prostitutas trabalhem nas ruas? Tenho, evidentemente, um ponto de vista pessoal sobre este problema, mas o meu filme não pretende entrar neste debate", declarou Bonello, referendo-se à recorrente discussão na França sobre a regulamentação ou a repressão à prostituição.

Getty Images

O diretor Bonello e as atrizes de "L'Apollonide", na segunda em Cannes

"L'Apollonide"
abre ao espectador as portas de um mítico casarão fechado, "teatro de todos os fantasmas", onde mora uma dúzia de prostituas, entre elas "a mulher que sempre ri", ferida por um cliente perverso que deixou em seu rosto duas terríveis cicatrizes que prolongam seus lábios - Bonello disse que quando estava redigindo o roteiro, lembrou do romance de Victor Hugo, "O homem que Ri", que conta a história de um homem mutilado, com uma máscara de alegria que representa a humanidade deformada, maltratada, negada - o romance também foi retratado no filme mudo de mesmo nome, de 1928, que serviu de inspiração para Bob Kane e Bill Finger criarem o Coringa, o maior vilão das histórias do Batman, e o Coringa interpretado por Heath Ledger no último filme do morcego resgatou isso.

"Amo as putas", repete um dos clientes do bordel neste filme que leva o público, em uma viagem imaginária, a este mundo decadente - pintado por Toulouse-Lautrec, entre outros - e do qual muitos contos de Guy de Maupassant tratam.

"Em geral, os pintores e escritores desta época vão aos bordéis e dão o ponto de vista masculino sobre as prostitutas, mas o que me interessava era o olhar das mulheres sobre os homens que as visitavam. Quis mostrar a decadência, o inelutável fim desse mundo", explicou o diretor.

Confira o trailer de "L'Apollonide":


O filme vai do documentário à ficção, da crônica ao romance, entre a reconstrução estética desse mundo decadente e sua crítica implícita, entre o mundo fechado como uma prisão e o local de prazer dos burgueses.

O cineasta contou que se inspirou na pintura e na literatura francesas do século XIX, assim como em arquivos policiais e documentos "científicos", especialmente um estudo sobre a suposta reduzida capacidade cerebral de prostitutas e criminosos.

Bonello, que também é músico e compositor, tem uma reputação incendiária na França por causa de seus filmes anteriores, entre eles, "O Pornógrafo" - com Jean-Pierre Leaud - e "Tirésias", sobre um transexual brasileiro que reinterpreta o mito do adivinho grego cego que foi, sucessivamente, homem e mulher.


JULIEN TEMPLE REVELA QUE VAI FAZER DOCUMENTÁRIO SOBRE O ROCK IN RIO

O diretor Julien Temple anunciou na tarde de segunda (16) que vai fazer um documentário, chamado "Children of the Revolution" , no Rio de Janeiro.

O filme faz parte de um amplo projeto do diretor, que deseja retratar algumas cidades do mundo a partir da música - os dois primeiros documentários serão filmados ainda este ano, no Rio e em Londres.

No caso brasileiro, a ideia do diretor é, a partir do Rock in Rio, o lendário evento musical de 1985, mostrar as transformações pelas quais a cidade passou desde os anos 1970 - como a evolução do regime militar para a democracia.

Divulgação

O diretor Julien Temple

"Desde que visitei o Rio, nos anos 1970, com os Sex Pistols para fazer
'The Great Rock and Roll Swindle', eu queria fazer um filme sobre a cidade",
disse Temple, que tem filmes sobre David Bowie, Sex Pistols e Joe Strumer.

"This is London" pretende contar a história de uma cidade que, na visão de Temple, deixou de existir para dar lugar a uma outra, completamente diferente.

O documentário sobre o Rio vai ser coproduzido por empresas brasileiras - RioFilme e TV Zero - e britânicas, com dinheiro dos dois países.


TODAS AS ATENÇÕES PARA O CASAL 20 DE HOLLYWOOD, JOLIE & PITT

Angelina Jolie e Brad Pitt roubaram as atenções em Cannes nesta segunda
(16) - o casal passou pelo tapete vermelho do Festival para assistir à exibição de "A Árvore da Vida", estrelado por Pitt.

Jean-Paul Pelissier/Reuters

O casal 20 de Hollywood no tapete vermelho de Cannes

Três coisas que me chamaram a atenção: os cabelos soltos, o longo - e maravilhoso - vestido tomara-que-caia que deixava à mostra uma das pernas de Jolie, e Pitt, muito envelhecido.


QUATRO FILMES ÍTALO-BRASILEIROS GANHAM FINANCIAMENTO

Quatro projetos de coprodução entre o Brasil e a Itália ganharam nesta segunda (16) um concurso organizado pela Ancine - Agência Brasileira de Cinema - em parceria com o MiBAC - Ministério de Bens e Atividades Culturais - italiano.

Dois dos ganhadores são diretores estreantes, os demais prêmios foram direcionados a profissionais mais experientes e as ajudas proporcionadas são de 25 e 50 mil euros, respectivamente.

O brasileiro "La mamma", de Carina Bini Fernandes e o italiano "Cavalli Marini", de Francesco Costabile, levaram a primeira categoria, enquanto
"Rossellini amou a pensão de Dona Bombom", de Paulo Caldas, e "Vanit… delle vanit…", de Giorgio Diritti, levaram a segunda.

Os quatro projetos farão parte de um acordo de coprodução firmado entre os dois países em 2009, e que até então não tinham saido do papel.

La mamma" narra a história de duas mulheres de meia-idade, uma brasileira e outra italiana, cujos destinos acabam por se cruzar.

Bárbara Cunha

O diretor Paulo Caldas

O filme de Paulo Caldas - codiretor de "Baile Perfumado" (1997) - retrata a visita do diretor italiano Roberto Rosellini ao Brasil, quando ingressou no cenário político e na vida cultural brasileiros em meados do século XX.


O AGUARDADO "A ÁRVORE DA VIDA" DIVIDOU OPINIÕES

A longa espera pela volta do diretor norte-americano Terrence Malick às telonas terminou nesta segunda-feira.

Entre aplausos calorosos e vaias, o drama "A Árvore da Vida" dividiu as opiniões da crítica no Festival.

Estrelado por Brad Pitt e Sean Penn, o filme - que está na competição oficial pela Palma de Ouro e é amplamente visto como o longa mais aguardado a ser exibido em Cannes em anos - narra a história de uma família do sul dos Estados Unidos na década de 1950, contra um pano de fundo de fotografia majestosa, uma trilha sonora grandiosa, cenários bucólicos e um elenco coadjuvante de primeira grandeza.

Pitt representa o pai severo de três meninos em uma cidade de classe média comportada e determinado a ensinar disciplina e resistência a seus filhos, ao mesmo tempo em que perde seu emprego em uma fábrica e sua confiança no mundo material vai sendo perdida.
"O pai é o provedor, e no filme você vê que o sonho americano, na visão que ganhamos dele enquanto crescíamos, não está funcionando", disse Pitt, que também produziu o filme, em coletiva de imprensa após a exibição.

Conhecido por ser avesso à mídia, Malick não compareceu à coletiva de imprensa - uma opção rara e incomum em um festival que costuma focar as atenções sobre os diretores - mas os atores defenderam sua decisão.

Divulgação

Brad Pitt em cena de "A Árvore da Vida"

Na obra, as personagens são postas em um plano igual ao do mundo natural e a câmera se demora sobre cenas como as de cânions profundos, vulcões em erupção, explosões na superfície do sol e florestas habitadas por dinossauros tranquilos, o que torna o filme o mais comentado dos 20 trabalhos da competição principal de Cannes.

Sua exibição também marcou a metade de Cannes 2011, sobre o qual muitos críticos vêm se queixando de que a qualidade geral dos filmes na competição não condiz com o brilho e o glamour do evento.

Os organizadores parecem ter recebido a injeção de ânimo esperada na competição com o filme de Malick, diretor que ficou conhecido por ter levado 20 anos entre seu segundo filme, "Cinzas no Paraíso" (1978), e o terceiro, "Além da Linha Vermelha" (1998) - esse último, também estrelado por Penn, valeu a Malick indicações aos Oscar de roteiro e direção.

Mesmo assim, e apesar de pouco filmar, Malick é um dos mais respeitados cineastas americanos em atividade.

O sigilo que cercou "A Árvore da Vida" e a aversão de Malick ao tipo de publicidade procurado ativamente pela maioria dos cineastas, conferiram ao filme um status quase mítico entre cinéfilos, com trailers e uma sinopse oficial que revelavam pouco.

Concebido há pelo menos cinco anos, depois de Malick ter concluído seu quarto trabalho - "O Novo Mundo" (2005), estrelado por Colin Farrell - "A Árvore da Vida" estaria pronto para ser exibido no ano passado, mas foi adiado para ser mais editado.

O filme estreia no dia 23 de junho no Brasil.

Confira o trailer de "A Árvore da Vida":


Terrence Malick já tem um novo filme rodado, ainda sem título.

É uma história de amor que tem no elenco Ben Affleck, Javier Bardem, Rachel McAdams, Rachel Weisz e Jessica Chastain.

Alguém se atreve a prever quanto tempo ele levará na montagem?


ENTREVISTA COM BRAD PITT

Um dos produtores de "A Árvore da Vida", Brad Pitt diz que relutou um pouco em aceitar o papel de um pai severo.
“Fiquei preocupado com o que meus filhos iam achar, mas eles me conhecem como pai. Devem ter uma opinião melhor de mim”, brincou.

Sobre a ausência do diretor no Festival, Pitt diz que “Terry é alguém que constrói uma casa, mas não está preocupado em vendê-la. Existe essa ideia de que, no nosso negócio (o cinema), as pessoas têm que vender seu produto. Ele não quer isso. Sabe quando você ama uma música, alguém pega a letra e começa a explicá-la, e de repente aquela música não tem mais graça?”.

De bom humor, Pitt fez piada quando lhe perguntaram por que se afastou de vez dos blockbusters e só faz filmes menores, independentes.
“Não saia dizendo que eu não vou estar no próximo ‘Missão Impossível’. Eu posso estar lá”, ironizou.

Foi uma opção que fez há cerca de dez anos.
“Comecei a pensar nos meus filmes favoritos, e eram sempre filmes menores, mais profundos, que tocavam em grandes questões. Ou uma boa comédia. Adoro rir com os filmes”.

Getty Images

Brad Pitt acena em Cannes, na segunda

Os diretores que pretendem trabalhar com o ator terão que fazer com que seus filmes tenham "valor por si mesmos".
"Somos contadores de histórias, portanto estas têm que ter algum valor em si mesmas e algum mérito dentro delas".

Embora tenha sido rodado há três anos, o filme de Malick influenciou muito a maneira de trabalhar de Pitt, que confessou à Efe que houve um momento em que quis ter uma espécie de "plano mestre" para sua carreira cinematográfica.
"De alguma maneira queria tê-lo. Me cansa fazer o mesmo. Pela minha própria natureza, busco algo a mais, algo que não tenha feito, tanto para melhor como para pior, embora por sorte ou azar não possa definir agora se isso (o plano) é positivo".

E quais são as prioridades do ator na hora de escolher um papel?
Pitt assegura que "é difícil dizer, é mais uma questão de sentimentos do que uma escolha consciente".
"Sei a direção para onde quero ir (...) fiz isso durante muito tempo, portanto sei em que tenho interesse, qual é a razão adequada e que, se eu tenho interesse em algo, encontrarei alguém que também se interesse",
afirmou.

"Há algum tempo, passei a acreditar que me restavam somente mais alguns anos
(como ator); portanto (agora) preciso de histórias que signifiquem algo para mim, inclusive se tiverem valor apenas como entretenimento. Se não, qual o sentido disso?",
complementou Pitt sobre suas prioridades profissionais.

Para aceitar trabalhar no filme de Malick - apenas o quinto longa-metragem da carreira do diretor -, Pitt alegou como uma das razões o fato de ser
"um grande admirador" do diretor.

"Infelizmente em nossa indústria é difícil que se façam histórias interessantes se elas não têm um grande valor comercial. Podemos fazê-las, e é esse o propósito de nossa companhia: contribuir para que sejam lançadas", afirmou ao se referir à Plan B Entertainment, sua produtora, que investiu em "A Árvore da Vida".

"Este foi o estímulo para me envolver e, mais uma vez, a presença de Terry - Malick. Este é um filme que ele vinha tentando fazer há mais de três décadas, e eu queria vê-lo realizado",
declarou.

Para Pitt, o trabalho do diretor é o mais importante em todo o set.
"É ele que controla o tom do filme, o que é algo do qual poucas vezes se fala; o tom do filme é tudo. E ele, ou ela, é responsável por isso. É exatamente o que busco, diretores com pontos de vista extremos e que sejam muito conscientes do tom do filme".

Entre seus atores preferidos, estão o gordinho Zack Galifianakis - de
“Se Beber Não Case” - e Jonah Hill - de “Superbad”.

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Coim UOL, EFE, Reuters, site do Festival e Getty Images
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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