Ele não é um novo Arnold Schwarzenegger, mas a massa muscular e a tendência de responder as perguntas de modo assertivo, quase como se esforçasse para fazer o interlocutor acreditar em sua narrativa, impressionam, para o bem e para o mal.
Antes de ser eleito pelo diretor Kenneth Bragnah para protagonizar "Thor", uma das mais aguardadas adaptações do universo Marvel para o cinema, ele era conhecido do público por viver George Kirk - pai da futura lenda James Kirk, o capitão ícone da espaçonave Enterprise - na ótima versão de J.J. Abrams para "Star Trek" e pelo novelão televisivo "Home and Away".
Agora é dele a responsabilidade de carregar Mjölnir, o martelo mágico da mitologia nórdica, por seis outros filmes, incluindo as inevitáveis seqüências de "Thor" e, claro, "Os Vingadores", em que dividirá as atenções com o Homem de Ferro de Robert Downey Jr., o Capitão América de Chris Evans, a Viúva Negra de Scarlett Johanson, o Gavião-Arqueiro de Jeremy Renner e o Incrível Hulk de Mark Ruffalo.
Hemsworth em imagem promocional de "Thor"
Com as madeixas loiras menos esvoaçantes do que no filme e todo o jeito de bom-moço, Hemsworth conversou com o UOL Cinema em um hotel de luxo de Londres sobre o maravilhoso mundo das histórias em quadrinhos, as peculiaridades do Poderoso Thor e a curiosidade de ter sido inicialmente rejeitado por Branagh - que recebeu vídeos de atores dos quatro cantos do mundo, inclusive do irmão de Hemsworth, o ator Luke - para depois ser ungido como o deus mais mulherengo de Asgard, o Olimpo da mitologia viking.
Confira o trailer 01 de "Thor":
Leia os melhores momentos da entrevista:
UOL Cinema: Não é muito comum alguém ser reprovado em um primeiro teste e depois readmitido para viver o protagonista de uma super-produção estimada em US$ 170 milhões. O que é que Kenneth Branagh viu em você?
Chris Hemsworth: Honestamente, eu não sei. Recentemente me perguntaram a mesma coisa, em uma festa, e minha reação foi a mesma: gente, eu não sei. Fiz o primeiro teste cinco meses antes do início das filmagens. Um teste de câmera, estava em Vancouver, no Canadá, filmando, e mandei de lá mesmo. Mas logo vi que não havia agradado. Estava gripado, caidinho mesmo. Mas alguma coisa boa eu devo ter feito, porque o Kenneth me ligou de novo meses depois, fiz um novo teste, e aí percebemos, os dois, que foi ótimo.
É verdade que sua mãe foi quem gravou o segundo vídeo?
É. Não esperava a segunda oportunidade, tudo tinha de ser para ontem, estávamos neste quarto apertado no décimo - sétimo andar de um apart-hotel em Vancouver, ela se equilibrou em um banquinho da cozinha e começou a gravar. Eu estava encostado na parede, ela ia me dizendo as falas e eu repetindo. Parece mentira, mas deu certo! Preciso agradecer a ela publicamente.
Divulgação/Paramount Pictures
Chris Hemsworth em outra imagem promocional de "Thor"
Foram quantos takes?
Não foram tantos assim! (rindo). Cinco ou seis. A gente se divertiu, sabia?
E na cena de beijo com a Natalie Portman, que faz seu par romântico no filme, foram quantos takes?
A mesma coisa, mais ou menos. Mas você sabe, não dá para ter clima, é aquela multidão ao seu lado, gritando. Não me venha com ideias, você...
Vamos mudar de assunto. O que você mais o atrai em relação ao Thor? O que ele tem de tão especial para merecer um filme só dele?
Gosto muito da jornada dele, do menino arrogante que se humaniza ao ser banido para a Terra, para o mundo dos mortais. Confesso que quando assinei o contrato não tinha ideia alguma de que o Thor do Kenneth seria tão arrogante, ou tão vulnerável. Acho que este é o Thor do Kenneth. Conversamos intensamente sobre isso, tive muita liberdade para explorar as facetas de um personagem que só conhecia dos gibis.
Quais as principais diferenças entre o Thor do Kenneth, como você batizou seu personagem, e o dos quadrinhos?
Não há grandes diferenças, nós procuramos ser fiéis ao original da Marvel. O que muda são as motivações do personagem, trabalhamos um pouco mais este aspecto. O relação dele com o pai, Odin - vivido por Sir Anthony Hopkins - ganhou um tom específico, por exemplo.
Você passou seis meses se dedicando exclusivamente a Thor, antes mesmo de começar a filmar. Como foi este processo, um tanto quanto singular para Hollywood?
No campo do treinamento físico fiz exercícios de halterofilismo, muito levantamento de peso, musculação. A alimentação mudou muito. No começo estava livre para comer o que queria, desde que fosse em grande quantidade, omeletes de frango e vegetais pela manhã, carne com batatas e vegetais no almoço e no jantar uma combinação de proteínas e carboidratos. Mas descobri que ficava muito cansado com esta dieta livre, aumentando consideravelmente a quantidade de gordura no meu corpo, apesar de todo exercício. Pedi para ver um nutricionista e ele eliminou os carboidratos, aumentou as proteínas, introduziu muitas frutas, e, pimba, chegamos ao corpo do Thor que você vê no filme.
Algum prato favorito que você não pôde comer durante este período?
Sim, uma maldade. Empadão, algo que todo australiano adora, e batata-frita de saquinho. Mas logo fui me acostumando e durante as filmagens nem podia olhar para um hambúrguer, por exemplo, que passava mal.
Que bom que você se acostumou com a dieta, pois você voltará a viver Thor logo, não?
Sim, "Os Vingadores" chega aos cinemas no ano que vem e assinei um contrato que determina claramente que tenho de me manter em forma para as possíveis seqüências, tanto de "Thor" quanto de "Os Vingadores". Começo a filmar o primeiro "Os Vingadores" em abril. Fiquei preocupado e acabei perdendo peso desde o fim das filmagens de "Thor", no ano passado. Agora estou em período de engorda.
Você acabou de se casar e assinou um contrato que prende você ao Thor por anos a fio. Assinou sem pestanejar?
Sim. Olhe para a minha carreira. Não estava em posição alguma de negociar termos. Assinei para pagar o aluguel! (risos). Sabia que não precisaria bater em portas, provavelmente, por alguns anos, para trabalhar. Não penso, de qualquer maneira, que caí numa armadilha. Honestamente, estou animadíssimo.
Entre "Thor" e "Os Vingadores" você filmou o remake de "Amanhecer Violento", cujo original contava com Patrick Swayze, Charlie Sheen e C.Thomas Howell, no auge da Era Reagan. Você faz o protagonista, papel que coube a Swayze. Ainda se trata de uma tremenda propaganda anti-comunista, mesmo depois do fim da União Soviética?
Sim. Mas desta vez os invasores podem ser russos, chineses ou coreanos. Pelo menos não são mencionados no roteiro (risos). O Dan Bradley, em sua estreia na direção, decidiu focar o filme nos jovens que se unem para defender a cidade deles da invasão estrangeira.
Você pode falar mais de "Os Vingadores"?
Não. Desculpe. Só posso dizer que, talvez, quem sabe, os personagens de Thor, não apenas o meu, tenham algo a ver com o início do filme. Mas, por contrato, não posso falar mais nada.
Mas alguém me disse que a Marvel já começou a trabalhar nos bonecos, os action figures, dos Vingadores...
Já. Meu irmão mais velho tem um. Você aperta o botão e ele fala. Meu sobrinho adora! Eu acho estranhíssimo. É hilário. Há algumas versões, algumas parece que eu tenho 17 anos. Ainda.
Você chegou a ter dúvidas se Thor seria um personagem tão interessante quanto o Homem de Ferro, por exemplo, que justificasse este investimento todo da Marvel e da Paramount Pictures?
Ao contrário do Homem de Ferro, Thor é um Deus. É "O Poderoso Thor". Pensei sim em como ele se relacionaria com o público, ele não é, afinal, um homem de carne e osso como Tony Stark. Mas sua jornada no filme é humana. É do homem que nasceu no sucesso, foi protegido de todas as maneiras possíveis, e é forçado a ver a vida como ela é, para se tornar um melhor governante um dia. Ele é um personagem que tem a coragem de lidar com as grandes questões do homem adulto - sua relação com os pais, com o irmão Loki, o vilão da história, o encontro do amor, com a cientista vivida por Natalie Portman. Foi isso que me interessou tanto.
Divulgação/Paramount Pictures
Chris Hemsworth e Natalie Portman, em cena de "Thor"
A tecnologia toda o incomoda? As cenas que exigiram o uso de imagens digitalizadas por computador, o 3-D?
Não, porque nada foi exagerado. Filmamos poucas cenas digitalizadas. Lembro de ter usado a tela verde apenas nas cenas das batalhas na Ponte do Arco-Íris - um dos momentos cruciais de "Thor" - e na do começo, com os gigantes azuis - os antípodas dos deuses de Asgard, usados por Loki na tentativa de usurpar o trono de Odin - em outras poucas mais. Os cenários foram todos construídos, e eram fisicamente visíveis, pude interar com eles.
As primeiras imagens de Thor causaram um certo frisson. Você foi comparado a Robert Mitchum por uns e celebrado com grande intensidade pelo público gay. Como você vê estas primeiras respostas ao seu trabalho?
Quanto aos fãs gays, acho ótimo. Quanto mais fãs, mais significativo o meu trabalho, só tenho a agradecer a eles. Sobre Mitchum, o que eu posso dizer? Ele era maravilhoso. Mas a semelhança, se há, hoje, é no fato de que eu o uso como espelho, gostaria de ter a mesma ética que ele teve em Hollywood. Ir além disso seria muita pretensão minha.
Matéria do jornalista Eduardo Graça, do UOL em Londres
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