quinta-feira, 19 de maio de 2011

CANNES 2011: ALMODÓVAR ARRANCA APLAUSOS, FILME CLANDESTINO DE PANAHI É EXIBIDO, ALINNE MORAES TIRA FOTOS E VON TRIER É BANIDO

Confira agora o que foi notícia no Festival de Cannes nessa quinta (19):

ALMODÓVAR ARRANCA APLAUSOS, E PARECE FINALMENTE PERTO DE SUA PRIMEIRA PALMA DE OURO
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ANTONIO BANDERAS:"ALMODÓVAR NÃO É SÓ PARTE DA MINHA CARREIRA, MAS TAMBÉM DA MINHA VIDA"
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ALINNE MORAES DESFILA PELO TAPETE VERMELHO
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FESTIVAL EXIBE O "FILME CLANDESTINO" DE JAFAR PANAHI
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POR "BRINCADEIRA" NAZISTA, CANNES EXPULSA VON TRIER, MAS MANTÉM SEU FILME E ELENCO NA COMPETIÇÃO
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E agora, leia as matérias:


ALMODÓVAR ARRANCA APLAUSOS, E PARECE FINALMENTE PERTO DE SUA PRIMEIRA PALMA DE OURO

O novo trabalho do diretor espanhol Pedro Almodóvar, "A Pele que Habito", um thriller que conta a terrível vingança de um cirurgião plástico que teve a filha violentada, arrancou aplausos nesta quinta (19) no Festival de Cannes, onde disputa a Palma de Ouro.

O cineasta de "Tudo Sobre Minha Mãe" e "Volver" explora em seu décimo oitavo filme um novo gênero, que é uma mistura de suspense, terror, ficção científica e melodrama, para criar um filme que fala de vingança, e também de sobrevivência em condições extremas.

"Eu quis trabalhar à maneira de Fritz Lang e cheguei a pensar uma vez em filmar em mudo e em preto e branco. Mas, no fim, quis fazer meu filme do meu jeito, de um gênero um pouco indefinido", revelou Almodóvar.

O longa-metragem conta a história de um cirurgião plástico, o doutor Robert Ledgard -interpretado por Antonio Banderas, voltando a trabalhar com o diretor que o revelou depois de muito tempo - que realiza experiências para criar uma nova pele resistente a qualquer agressão.

Inspirado no romance "Mygale", do escritor francês Thierry Jonquet, o filme mostra a maestria técnica e a visão estética deste diretor, sem atingir o nível de emoção de outros filmes dirigidos por Almodóvar.

Pascal Le Segretain/Getty ImagesPedro Almodóvar pega Antonio Banderas no colo em Cannes, depois de exibição de "A Pele que Habito"

"Li muito rápido, há uns dez anos, esse romance de Jonquet, e o que chamou a minha atenção foi a magnitude da vingança desse médico contra quem acredita que violentou sua filha",
declarou.

Ledgard é uma espécie de "Frankestein, e também de Prometeu", o herói mítico grego que rouba a luz para dá-la aos homens, disse o cineasta em uma entrevista coletiva à imprensa ao lado dos atores do filme, entre eles sua Musa, Marisa Paredes, e Elena Anaya.

"O personagem de Antonio está a ponto de criar vida, cria uma nova pele, que é o principal órgão"
do homem, ressaltou Almodóvar, que aborda em seu longa a questão da genética e da bioética.

"Meu filme pode se parecer talvez com um filme de ficção científica, mas isso já é em parte realidade, com as experiências transgênicas e a decodificação do genoma humano", considerou.
"Felizmente, em nossas sociedades trabalhos como esses são bem controlados pelas leis de bioética", afirmou.

Almodóvar, muito querido em Cannes, concorreu na seleção oficial do Festival com "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999), "Volver" (2006) e "Abraços Partidos" (2009), mas nunca ganhou a Palma de Ouro - o diretor espanhol é um dos vinte diretores selecionados para a mostra competitiva dessa 64º edição do Festival, que conta com 14 europeus, quatro asiáticos, um americano e um turco.

Horror, suspense e cirurgia plástica descontrolada renderam um misto explosivo, em que Almodóvar mergulha num terreno mais sombrio em sua tentativa de conquistar o prêmio máximo no Festival - o filme representa uma mudança radical para o diretor, cujos trabalhos normalmente divertidos e originais lhe valeram dois prêmios em Cannes, mas nunca a Palma de Ouro de melhor filme.

A trama foca um cirurgião plástico - Banderas - que desenvolve uma nova e revolucionária pele resistente ao fogo e à malária, depois de sua mulher sofrer queimaduras pavorosas em um acidente de carro.

Uma tragédia se abate sobre ele novamente quando sua filha comete suicídio, levando-o para uma história de vingança, prisão e abusos em um filme tenso e pesado, que foge totalmente às características do diretor - e por isso mesmo, surpreendeu o público em Cannes.

Sombrio, "A Pele que Habito" é um filme que induz à reflexão e se inspira nos gêneros do horror e da ficção científica para explorar o que acontece quando um cientista perde o contato com sua humanidade, oferecendo uma visão moderna do clássico "Frankenstein" (1931).

Almodóvar disse que mergulhou em literatura médica quando fez as pesquisas para seu filme, que propõe questionamentos sobre os perigos potenciais de novas tecnologias como a engenharia genética e o cultivo de órgãos humanos em laboratório.

"Não é um filme de ficção científica, porque esses experimentos já existem. Há um laboratório em Granada onde produzem pele artificial", disse Almodóvar, após a sessão lotada em que o filme foi exibido para a imprensa.

Sempre com vários projetos em mente, o diretor contou que tinha fascinação pela história, que se concretizou 10 anos depois que de ler "Tarântula", o romance de Thierry Jonquet na qual o projeto se baseou.

"Via a vertigem no rosto de todas as pessoas em torno do meu 'staff' ao ler o roteiro, mas eu gostei muito e queria fazer este filme. Até agora me deixei levar pelo meu instinto e aqui estou em Cannes", explicou.

Complexo, perturbador e com inumeráveis reviravoltas no roteiro, o filme vai desvendando a profundidade desses personagens que mudam, literal e figurativamente suas próprias peles.

O filme se centra na "magnitude da vingança de um médico contra quem ele supõe ter estuprado sua filha", disse Almodóvar.
"Queria que a família do filme fosse muito selvagem, muito independente moralmente falando, que não tivesse tido a mesma educação que qualquer espanhol. Que sua cultura não estivesse baseada no castigo e no pecado como a cultura na qual eu nasci e vivi".

Esse território sem referências de punição é composto por uma mãe "que leva a loucura em suas entranhas" e "dois filhos paralelos que são muito mais loucos que ela, extraordinariamente violentos e amorais", explicou.

Tal imoralidade é o fio narrativo ao qual Almodóvar se agarra com força, reinventado seu cinema e seu antigo ator preferido, Antonio Banderas.
"Ser diretor de cinema é o mais parecido com Deus. O privilégio que ele tem de pôr de pé suas fantasias e de que haja uma equipe artística e técnica à sua disposição para torná-las realidade, é o máximo poder que se pode ter", afirmou.

"A Pele que Habito" é uma "pele nova, artificial, de um novo cultivo" que veste Elena Anaya e que serve a Almodóvar para criar um discurso sobre os perigosos caminhos da ciência e o poder salvador da arte.

Marisa Paredes explicou a experiência única de "poder construir um personagem desde o interior até a superfície, com muitas camadas, com muitas reviravoltas. É um papel que tem uma ação constante sob sua aparente inatividade. Espera pacientemente uma mínima fenda para que consiga sua libertação", reconhece.

Mas, como já fez em "Ata-me", os papéis de poder, o jogo erótico e dramático é sumamente ambivalente dentro de uma trama moralmente complexa.

"Os feitos humanos são muito contraditórios e o que foi uma barbaridade em um momento pode se transformar em um milagre 20 anos depois. Tudo depende do momento e em acreditar que nada é estático nem intocável", explica um cineasta que já em "Fale com Ela" fez equilibrismos com conceitos tão paradoxais como romantismo e violação.

E assim, Almodóvar dá outro ponto à provocação e se posiciona, apesar do desconcerto que criou com o projeto, como um nome forte para a Palma de Ouro que será entregue no domingo. "Isso não depende de mim", reconhece prudentemente.

Mas obviamente e por sua renovada capacidade de romper moldes, Antonio Banderas quis parabenizá-lo. "É emocionante ver que um homem como Pedro, que pagou um preço alto por criar um código narrativo diferente dos primeiros filmes, depois de tanto tempo reinventar-se e propor algo diferente".

O ator, fetiche de Almodóvar em sua época mais radical, reaparece não por acaso com um personagem "mais maduro, mais econômico, mais 'monotônico' e mais heavy", reconhece em entrevista, rompendo com a imagem de "simpático e barroco" do ator, em palavras de Almodóvar durante um encontro com um pequeno grupo de jornalistas.

Mas "A Pele Que Habito", aproximação minimalista e contida a uma trama absolutamente explosiva, é também para Almodóvar um exercício de nudez.

"A austeridade do filme é para mim uma das grandes novidades. Fui o mais austero que poderia ser", concluiu um diretor cuja pele, diz, está "com ferimentos mais ou menos cicatrizados" mas que "o que não quer é ser nostálgico".

As primeiras críticas feitas a "A Pele que Habito", um dos filmes mais aguardados do festival, depois de "A Árvore da Vida", de Terrence Malick, foram extremamente positivas - o filme, que tem estreia mundial em 25 de novembro, foi muito aplaudido após o término da sessão.

Confira o trailer de "A Pele que Habito":



ANTONIO BANDERAS:"ALMODÓVAR NÃO É SÓ PARTE DA MINHA CARREIRA, MAS TAMBÉM DA MINHA VIDA"

Antonio Banderas volta às mãos do diretor 21 anos depois de “Ata-me”, como um cirurgião plástico obcecado em reconstruir a pele de sua esposa morta num acidente - em paralelo, ele busca vingança para sua filha que foi estuprada.

Banderas comemora o retorno aos braços do diretor.
“Almodóvar não é só parte da minha carreira, mas também da minha vida. Voltar a ele é como voltar para casa - meu país e minhas raízes, com todas as suas grandezas e contradições”.

O ator falou das dificuldades em encarnar um psicopata, protagonista do filme.
“Desta vez, Almodóvar não me deixou sorrir. Robert é um homem que diz diálogos cruéis com uma naturalidade absoluta. Foi bem difícil para mim”.

Francois Guillot/France Presse
O ator Antonio Banderas e o diretor Pedro Almodovar durante a divulgação de
"A Pele que Habito", em Cannes

O Brasil ganha uma referência boa e outra ruim no filme.

A ruim é que Zeca - Roberto Álamo -, meio-irmão de Robert - Banderas -, é um vendedor de drogas que cresceu no Brasil e foge da cadeia para reencontrar a mãe - em uma cena curta, o garoto é visto em flashback correndo numa favela na Bahia, e, quando aparece em cena, Zeca está vestido de “Tigrão”, fantasia que conseguiu durante o Carnaval - quase um clichê.

A boa é a música “Pelo amor de Amar”, gravada por Helena de Lima, cantora dos anos 50e 60 - na história, ela é cantada em português por Norma, a filha de Robert.

Almodóvar explicou as referências brasileiras.
“Cito o Brasil no filme porque o país possui uma grande tradição de cirurgiões estéticos. O primeiro de quem ouvi falar foi o Ivo Pitanguy, nem sei se ele ainda está vivo.” - Nota do Klau: sim, Pitanguy está vivo, tem 84 anos e uma saúde de ferro!

“Estive três ou quatro vezes na casa de Caetano Veloso na Bahia. O Brasil é um dos lugares mais ricos do mundo musicalmente. Gosto das canções mesmo de antes da bossa nova, e muito da música eletrônica de hoje”, confessa o cineasta espanhol.


ALINNE MORAES DESFILA PELO TAPETE VERMELHO

Alinne Moraes
, 28, não estava apresentando nenhum filme, mas mesmo assim cruzou o tapete vermelho do Festival.

Ela foi convidada pela L'Oréal Paris, da qual é garota propaganda, para um ensaio fotográfico durante o evento.

DivulgaçãoA atriz brasileira Alinne Moraes em Cannes

A atriz brasileira foi clicada pelo fotógrafo Kenneth Willardt para material promocional da marca de cosméticos.

Após o ensaio, ela desfilou pelo tapete vermelho com um longo assinado por Reinaldo Lourenço e sapatos Christian Louboutin.

Esta foi a primeira vez que a atriz esteve no festival.


FESTIVAL EXIBE O "FILME CLANDESTINO" DE JAFAR PANAHI

Muita gente ficou de fora nesta quinta (19) de uma das sessões mais concorridas do Festival, quando foi exibido "Este Não É um Filme", de Jafar Panahi, cineasta proibido de filmar pelo governo do Irã.

Atualmente vivendo em prisão domiciliar em Teerã, Panahi pode ser levado de volta à prisão a qualquer momento - foi condenado a seis anos de prisão e a 20 anos sem filmar.

Diretor de filmes premiados como "O Balão Branco" e "O Círculo", Leão de Ouro em Veneza, Panahi realizou o filme em casa, em parceria com o amigo Mojtaba Mirtahmasb.

Mirtahmasb veio a Cannes e, antes do filme, subiu ao palco para citar uma frase do profeta Zaratustra para ilustrar a falta de liberdade de expressão no Irã e luta para fazer cinema:
"Quando a escuridão dominar, não use uma espada; acenda uma vela".

DivulgaçãoCena de "Este não é um Filme", de Jafar Panahi

No filme, Panahi lê trechos do roteiro do próximo filme de ficção que quer filmar e tenta ele mesmo fazer a encenação, colocando-se no lugar dos personagens e demarcando um quarto de mentira com fita adesiva amarela na sala de estar - sua iguana de estimação está sempre por perto.

Num dado momento, o diretor entra em crise:
"Mas de que adianta ler a história de um filme, se não podemos fazer o próprio filme?".

Ao fim, o diretor arrisca-se indo até a porta de seu prédio para filmar um protesto contra a proibição de um ritual persa que envolve fogueiras e fogos de artifício.

Momento tocante desta quinta feira.


POR "BRINCADEIRA" NAZISTA, CANNES EXPULSA VON TRIER, MAS MANTÉM SEU FILME E ELENCO NA COMPETIÇÃO

O diretor dinamarquês Lars Von Trier foi expulso do Festival de Cannes nesta quinta
(19) depois de comentários feitos durante uma coletiva de imprensa no dia anterior, aparentemente de brincadeira, em que declarava ser um nazista e um simpatizante de Hitler.

Relembre o momento da "brincadeira":




"O conselho dirigente do festival... lamenta profundamente que o evento tenha sido usado por Lars Von Trier para expressar comentários que são inaceitáveis, intoleráveis, e contrários aos ideais de humanidade e generosidade que presidem sobre a existência do festival", disse o festival em comunicado, para completar:
"O conselho dirigente condena esses comentários e declara Lars Von Trier como uma pessoa não bem-vinda no Festival de Cannes, com efeito imediato."

Gilles Jacob
, presidente do Festival, convocou uma coletiva de imprensa no início da noite de quinta para comentar a expulsão do cineasta - é a primeira vez que o festival declara alguém como "persona non grata" do evento.
"Temos que separar a obra do cineasta. Estamos punindo o diretor, e não o filme", disse Jacob, que é judeu e teve toda a sua família perseguida durante a Segunda Guerra Mundial.
Jacob também frisou que o festival não abrirá nenhuma ação jurídica contra Von Trier, e, segundo ele, a decisão partiu do conselho dos diretores do festival e não tem a ver com as decisões do júri presidido pelo ator Robert de Niro, que dará a Palma de Ouro e outros prêmios no próximo domingo.

Assim, "Melancolia" ainda concorre a prêmios, entre eles o de atriz para Kirsten Dunst.

Von Trier venceu a Palma de Ouro em 2000 com "Dançando no Escuro", e segundo o diretor do festival, a punição para o cineasta vale apenas para esta edição, o que significa que seus próximos filmes poderão ser selecionados.

Ainda na noite de quinta, Von Trier declarou que está "chocado" por ter sido expulso do Festival deste ano pelo fato de ter dito em coletiva de imprensa, "por brincadeira", que era nazista e simpatizava com Hitler.

Falando ao celular na saída do resort da Riviera francesa, o diretor independente de 55 anos disse que houve um "mal-entendido", mas que ele se comportou de "um jeito muito estúpido e pouco profissional".
"Estou muito além de decepcionado, estou muito farto da história inteira",
disse o cineasta, famoso por ser provocante, no dia em que a decisão sem precedentes de Cannes dominou as conversas no evento que é a maior vitrine de cinema no mundo.
"Tenho que admitir que isto foi um grande choque para mim."

A decisão do Festival de expulsar um de seus cineastas favoritos dividiu fortemente as opiniões entre o público: algumas pessoas defendenderam a decisão dos organizadores, enquanto outros os acusam de render-se à correção política.

Eu apoio firmemente a segunda opção, a da rendição à "correção política", pois sempre defendo aqui nesse espaço a liberdade pata todos se expressarem como quiserem, mesmo que as idéias expressas sejam contrárias à maioria dominante.

Von Trier disse que recebeu ordens de manter distância de pelo menos 100 metros do prédio do Palais, onde o festival acontece.
"Não sei se algum dia vão me autorizar a entrar no Palais outra vez. Talvez Cannes tenha me expulsado para que eu me torne um rebelde maior."

A mídia tentou ouvir as atrizes e a equipe de Von Trier que filmaram "Melancolia", mas ninguém quis falar.

Vittorio Zunino Celotto/Getty ImagesKirsten Dunst posa para fotos após sessão de "Melancolia", de Lars Von Trier

Só a americana Kirsten Dunst falou rápidamente com os jornalistas, e afirmou que ninguém pode dizer "brincando" que é nazista - Dunst se negou a fazer declarações mais aprofundadas.

Com todo esse tumulto, a distribuidora responsável por representar o novo filme de Von Trier na Argentina anunciou que não irá mais lançar o longa no país - a Argentina é um dos países onde a presença judaica entre sua população dominante é das mais expressivas.
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Com Reuters, Efe, AFP, UOL e Getty Images

Redação Final: Cláudio Nóvoa

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