sexta-feira, 13 de maio de 2011

CANNES 2011: DIRETORAS DOMINAM COM TEMAS SOMBRIOS, RIO FAZ LOBBY, FRANCÊS, DIANA, E NOVO VAN SANT AGITAM A SEXTA


ABERTURA DO FESTIVAL É DOMINADO POR DIRETORAS E TEMAS SOMBRIOS

As diretoras de cinema, que ficaram de fora da principal competição de filmes em Cannes em 2010, dominaram a abertura do evento deste ano com contos sombrios de assassinato, prostituição, estupro e suicídio.

Três das quatro mulheres que disputam a Palma de Ouro pelo melhor filme em Cannes 2011 apresentaram os seus filmes para a imprensa nos dois primeiros dias do evento, e, ainda que as obras variem muito entre si e tenham tido respostas díspares da crítica, todas mostram uma visão perturbadora do mundo.

AFPA diretora australiana Julia Leigh

A atriz francesa e diretora Maiwenn foi a última mulher na competição deste ano a apresentar o seu filme, "Polisse", nesta sexta (13), um drama forte sobre a unidade de proteção a menores da polícia francesa.

Getty ImagesA atriz e diretora francesa Maiwenn

Ela seguiu a australiana Julia Leigh com o seu filme de estréia "Bela Adormecida" ,sobre uma estudante que passa a praticar uma estranha forma de prostituição, e a escocesa Lynne Ramsay com "Presisamos Falar sobre Kevin", sobre uma problemática relação entre mãe e filho.

Getty ImagesA diretora escocesa Lynne Ramsay

A última do quarteto é a japonesa Naomi Kawase com "Hanezu No Tsuki", o seu terceiro filme na competição.

Getty ImagesA diretora japonesa Naomi Kawase

Especialistas em cinema disseram que não foi coincidência que mais mulheres foram escolhidas para Cannes neste ano emblemático.
"O maior número de diretoras em competição em Cannes mostra uma tendência crescente",
disse Annette Insdorf, professora de cinema da Universidade de Columbia, EUA, que está em Cannes.

E ela ainda completa:
"Eu não acredito que é possível separar a vitória de Kathryn Bigelow no Oscar com 'Guerra ao Terror' ou o sucesso de crítica e público de Lisa Cholodenko com 'Minhas Mães e Meu Pai'".


CIDADE DO RIO DE JANEIRO FAZ CAMPANHA DURANTE O FESTIVAL

Com anúncio pago na revista "Variety" - considerada a "bíblia" do mercado de entretenimento - e um trabalho de comunicação eficaz, a cidade do Rio de Janeiro dá prosseguimento em Cannes à sua campanha para tornar-se parte importante do cenário cinematográfico mundial.

A cidade procura vender, para o mercado mundial, não apenas suas locações "exóticas", mas também vantagens fiscais e uma estrutura de produção.

O desenho animado "Rio", que teve o lançamento mundial na cidade, e o evento do filme "Velozes e Furiosos 5", também rodado em parte na cidade, foram os primeiros grandes acertos da RioFilme, que tem hoje uma subsidiária que só se dedica à prospecção de projetos estrangeiros.

DivulgaçãoA animação "Rio", que teve premiére mundial na cidade maravilhosa

A visibilidade internacional proporcionada pela Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016, costuma ser citada pelas reportagens das publicações especializadas como mais um fator de "atração".

É a cidade brasileira mais conhecida em todo o mundo finalmente saindo da paralisia que a violência a tinha relegado.


FILME FRANCÊS ABORDA O COMBATE AO CRIME CONTRA CRIANÇAS, E IMPRESSIONA JORNALISTAS E CRÍTICOS

A pedofilia, os maus-tratos às crianças, o abuso de menores; "Polisse", da diretora francesa Maiwenn, que disputa a Palma de Ouro, é um olhar sobre o trabalho cotidiano da Brigada de Proteção de Menores (BPM) da polícia de Paris.

O filme da atriz e cineasta de 35 anos atinge com força o espectador, que se vê no obscuro mundo da BPM e no dia a dia de seus policiais.

O primeiro dos quatro filmes franceses na disputa pela Palma de Ouro, o terceiro da carreira da diretora - Maiween Le Besco, conhecida apenas pelo primeiro nome -, é uma viagem ao lado mais pesado da miséria humana, porque suas vítimas são criaturas indefesas.

Getty ImagesDiretora Maiwenn Le Besco (de azul) é fotografada em Cannes com atores de "Polisse"

Na entrevista coletiva, a cineasta, que lutou por muito tempo para receber a autorização para passar um tempo com a BPM, disse que testemunhou ou ouviu de policiais tudo o que é retratado no filme.

A ideia do filme, que impressionou os jornalistas e críticos, surgiu ao assitir um documentário sobre a brigada na televisão francesa.
"Me encantou a paixão destes policiais pelo trabalho. Compreendi rapidamente que cada um deles tinha boas razões pessoais para estar ali", disse.

Confira o trailer de "Polisse":


Interpretado por atores profissionais - Karine Viard, Joey Starr, Marina Fo¯s, Nicolas Duvauchelle, Sandrine Kiberlaine - com exceção de um menino francês que comoveu a sala com suas lágrimas, o filme tem um ritmo trepidante e a intensidade de um documentário, e também é um reflexo da sociedade contemporânea francesa, mostrando famílias africanas em condições precárias, acampamentos de ciganos e tráfico.

Maiwenn disse ter ficado muito impressionada com a "banalização da sexualidade entre os adolescentes, dispostos a tudo por um telefone celular ou um aparelho de MP3".

Algumas cenas mais impactantes são as de pedófilos que tentam minimizar a importância de seus desvios sexuais, o que provoca a revolta dos policiais.

"Em temas assim é necessário ser preciso, realista e fiel, sobretudo na maneira de mostrar os interrogatórios", declarou a atriz Emmanuelle Bercot, uma das roteiristas do filme.


NÃO QUIS SER SENSACIONALISTA", DIZ DIRETOR SOBRE SEU FILME QUE ABORDA MORTE DE DIANA SOB A ÓTICA DO ATENTADO

O diretor Keith Allen defendeu nesta sexta (13) seu documentário
"Unlawful Killing", sobre a morte da princesa Diana, em meio a acusações de que o documentário seria um ataque unilateral contra o que ele chamou de "establishment" britânico e que teria sido integralmente financiado por Mohamed al-Fayed - empresário cujo filho Dodi, namorado de Diana, também morreu no acidente de carro em Paris (1997).

Fayed sustenta há muito tempo que o casal foi morto por ordem do marido da rainha Elizabeth II, príncipe Philip, por acreditar que a família real britânica não queria que Diana se casasse com um muçulmano.

Os membros da realeza, especialmente Philip de Edimburgo, os juízes e os meios de comunicação estão na mira constante do documentário, que garantiu sua estreia mundial em Cannes - enquanto sua distribuição no Reino Unido ainda não tem previsão -e põe principalmente em cheque a reputação de Philip, que é apontado em fotografias nas quais é visto acompanhado de dirigentes nazistas nos anos 1930.

Em uma coletiva de imprensa em alguns momentos caótica em Cannes - o documentário foi lançado fora do festival oficial de cinema - o diretor descreveu o documentário como "forense" - descrição questionada por alguns dos presentes.

O filme foca em parte sobre o inquérito sobre a morte de Diana realizado em 2007/08 e argumenta que a imprensa britânica não refletiu corretamente as conclusões do inquérito, devido a pressões indiretas da família real.

Getty ImagesDodi al-Fayed e Diana, dias antes de morrerem

"Achei importante que o público pudesse entender de maneira forense o que aconteceu no inquérito",
disse Allen, mais conhecido como ator de televisão britânico, falando a repórteres em Cannes.

"Eu não quis fazer um filme sensacionalista. Não acho que seja um filme sensacionalista. Acho que é uma análise muito forense de um processo legal britânico e acho que revela certas coisas que não 'batem'."

"Acredito que essas coisas devem ser questionadas. Foi por isso que fiz o filme. Espero que ele mostre às pessoas que nada é o que parece ser."

Confira o trailer de "Unlawful Killing":


Allen foi criticado diretamente por um jornalista por não ter deixado claro que o filme foi financiado 100% por Fayed - custou 2,5 milhões de libras (4,1 milhões de dólares), cifra citada em Cannes por um homem que afirmou ser representante de Fayed, que não esteve em Cannes para apresentar o filme.

"Ele deu o dinheiro, porque ninguém mais se dispôs", disse Allen.
"Se eu pudesse ter obtido o dinheiro de outra fonte, eu o teria feito. Mas não consegui. Consegui dele."

Investigações das polícias francesa e britânica concluíram que as mortes de Diana e Dodi foram fruto de um acidente trágico provocado por um motorista que dirigia em alta velocidade, e que depois se descobriu, estava embriagado - ambas as investigações rejeitaram as teorias de Fayed.

Getty ImagesMohamed Al Fayed, milionário egípcio radicado na Inglaterra, na pré-estreia de "Bruno", em Londres (17/06/2009)

Indagado o que há de novo em "Unlawful Killing", Allen disse:
"Acho que não há tanta coisa que seja nova. Existe em nosso país um velho ditado segundo o qual os segredos mais bem guardados estão nas estantes da Biblioteca Britânica. Estão todos lá, basta você ir procurá-los, e meu filme não é um ataque à monarquia. Na realidade, ele questiona o papel do establishment, e, ao fazê-lo, vai deixar claro que existem ligações entre a real Casa de Windsor e o establishment."

O documentário inclui uma foto de Diana agonizando logo após o acidente - elemento que a imprensa britânica focou nos últimos dias, embora Allen tenha minimizado sua importância - e uma imagem do rosto de uma séria Elizabeth II o encerra, relacionando o comportamento de seu marido com o de um psicopata e racista, expressão que Al Fayed utiliza em repetidas ocasiões na entrevista sobre o filme.


COM FILME SOBRE MORTALIDADE, GUS VAN SANT ABRE SEÇÃO "UM CERTO OLHAR"

O cineasta americano Gus Van Sant, acostumado a transitar pelas linhas comercial e independente, volta ao cinema com "Inquietos", um romance que conta a história de um casal de jovens preocupados com a mortalidade.

E foi com essa obra que ele abriu a prestigiosa seção "Um Certo Olhar" de Cannes, na sexta (13).

Após perder o avião e cancelar sua presença prevista para quinta-feira, o diretor compareceu um dia depois, rodeado do elenco juvenil do longa, produzido também pela atriz Bryce Dallas Howard, protagonista de "A Vila" - Van Sant já ganhou a Palma de Ouro e o prêmio de melhor diretor em Cannes, por "Elefante" (2003), e recebeu duas indicações ao Oscar de melhor diretor por "Gênio Indomável" (1997) e "Milk - A Voz da Igualdade" (2009).

Getty ImagesGus Van Sant (centro) com os atores Henry Hopper e Mia Wasikowska, protagonistas de "Inquietos"

"Com a história de Will Hunting 0 "Gênio Indomável" -, foi a primeira vez que atuei em uma atmosfera mais 'mainstream', e descobri que podia olhar algo de um ponto de vista otimista. Suponho que haja uma parte de mim assim", explicou Van Sant.

Porém, essa história de superação não tinha sobre si o peso da morte, como pode ser visto em "Inquietos", filme em que o estreante Henry Hopper - filho do ator Dennis Hopper - e a atriz Mia Wasikowska - a protagonista de "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton - vivem uma história de amor, enquanto a jovem enfrenta o câncer.
"Quando um adolescente está enfrentando uma doença catastrófica, embora não necessariamente terminal, sente a necessidade do sentimento de negação do que realmente é", afirmou Van Sant, que explica que "nestes casos, a família é muito superprotetora".

EFEO casal Protagonista de "Inquietos", Henry Hooper e Mia Wasikowska, em cena do filme

Segundo ele, "a irmã de Annabel não quer brincar, nem falar de ideias existencialistas sobre passagem do tempo" e é por isso que recorre ao personagem de Enoch, "uma pessoa mais próxima, mas não da família, pode se transformar em seu melhor amigo nessas circunstâncias".

O diretor aposta em um ambiente encantador, passado na cidade de Portland, e cria esses pequenos momentos de excentricidade mágica - os jovens se conhecem em um funeral -, ajudando a superar o estorvo de contar uma história mil vezes já vista na telona - principalmente em "Love Story - Uma História de Amor" (1970) e "Doce Novembro" (2001).

Trata-se de uma maneira de atingir a autenticidade da emoção e levar a plateia às lágrimas, ainda mais em um ambiente tão sério como o de Cannes.
"Há no filme, inclusive, uma homenagem ao cinema francês", disse o cineasta, que 'pinta' Wasikowska como Jean Seberg e transforma Henry Hooper em um boêmio atemporal.

Confira o trailer de "Inquietos/Restless":


Jason Lew, autor do roteiro, é filho de um oncologista pediátrico, conviveu com crianças que morreram precocemente e frequentava funerais na infância, como a personagem de Hooper.

Depois de trabalhar com Tim Burton, Mia Wasikowska está feliz de trabalhar com Van Sant.
"A Annabel é uma menina que tem que lidar com uma situação extrema. Ela está morrendo, mas consegue apreciar os momentos simples da vida".

Bryce Dallas, atriz de "A Vila" e "Além da Vida" e filha do diretor Ron Howard, é uma das produtoras do filme.
"Não me planejei para me tornar produtora, mas aconteceu. Trabalho como atriz durante o dia, mas sobra muito tempo livre à noite", brincou.

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Com Reuters, UOL, France Presse e Getty Images

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