sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"UM LUGAR QUALQUER": STEPHEN DORFF DIRIGIDO POR SOFIA COPPOLA MOSTRA QUE É UM DOS MELHORES ATORES DE SUA GERAÇÃO

A primeira cena de "Um Lugar Qualquer" já dá a dica do que vamos ver: um homem, numa Ferrari preta, dá diversas voltas numa pista circular; depois de um tempo, ele pára, desce da máquina, olha em volta redor com cara de "onde estou?".
A resposta vem com o título do filme, que aparece em seguida.

Ele é o astro de cinema Johnny Marco - interpretado por Stephen Dorff - e a transformação pelo qual ele passa é direcionado para sua filha de 11 anos, Cleo - Elle Fanning, de "O Curioso Caso de Benjamin Button".

Johnny mora no Chateau Marmont - um dos hoteis mais famosos de Hollywood, que serve de abrigo a muitas celebridades.

Mais tarde, depois de passar um tempo cuidando da filha, a mesma Ferrari da primeira cena terá outro significado.

Vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2010, Sofia Coppola - que assina roteiro e direção - nos direciona ao seu filme mais famoso, "Encontros e Desencontros" (2003) - aqui, ela lida com os temas que são constantes em sua obra: a solidão, o amadurecimento, os relacionamentos familiares - mas nem por isso ela se repete.

DivulgaçãoStephen Dorff e Elle Fanning, em cena do filme


Grandes cineastas dirigirem o mesmo filme várias vezes, isto é, tem o talento de contar a mesma história por diversos ângulos, e Sofia, legítima herdeira do pai Francis Ford, faz um cinema que ao mesmo tempo vai contra e enfrenta os padrões norte-americanos atuais, onde tudo deve ser muito explicado e acontecer de forma rápida, muito rápida.

Seus filmes têm um ritmo próprio, e "Um Lugar Qualquer" baixa o nível da adrenalina e encadeia sua narrativa de forma pausada e nada arrastada ou monótona, apoiado no relacionamento dos personagens centrais.

O que conduz a trama é o estreitamento dos laços entre pai e filha: ela entra no mundo dele, mas leva consigo o dela.

A vida de Johnny no famoso hotel é cercada de regalias e marasmo: entre a promoção de um filme e a rodagem de uma cena para outro, ele leva Cleo à aula de patinação no gelo, ou brinca com seu "guitar hero", ou se entedia diante do show particular de duas strippers.

Se a vida do ator é um vazio existencial, a de Cleo parece ter tudo no lugar: ela é uma espécie de subversão das personagens femininas de Sofia, que, em projetos anteriores, apareciam perdidas no mundo e em constante crise.

A identidade da garota ainda está em formação mas, mesmo assim, ela parece muito mais segura e confiante do que o pai, e tem suas dúvidas - todas pertinentes à sua idade e amadurecimento.

Sofia Coppola cresceu cercada pelo seu clã - onde se tem cineastas, atores e músicos -e amigos da família.

Pôde, assim, sempre observar de perto como agem, reagem e se movem artistas e celebridades, e essa foi sua inspiração para três de seus quatro longas - o tema está presente além deste, em "Encontros e Desencontros" (2003) e "Maria Antonieta" (2006).

Mas essa não é uma questão que limita em sua obra, já que é como se ela usasse esse vazio existencial das celebridades para falar da crise interna que atinge qualquer pessoa, em qualquer idade ou lugar no mundo.

Para investigar a vida interior que atazana nossas vidas reais, Sofia não precisa de muitos diálogos ou ações: seus filmes, em especial "Um Lugar Qualquer", encontram força em suas imagens, em seus sons, nas trilhas sonoras que tanto dizem sobre os personagens.

Nesse, há uma canção dos Strokes chamada "I'll try anything once", que começa dizendo "Dez decisões dão forma à sua vida e você se dá conta de umas cinco", e é exatamente nessa fissura que está Johnny: decisões que não foram tomadas por ele, mas, mesmo assim, ele precisa lidar com elas.

Em companhia da filha, Johnny viaja à Itália, onde receberá um prêmio, e a partir daí o filme dialoga com a obra de Michelangelo Antonioni, investigando o vazio da vida das personagens que dizem pouco, mas tentam, a todo custo, sobreviver à miséria existencial que as consome, e o recado é que é preciso deixar de lado a pessoa pública, o astro, e reencontrar o ser humano.

"Um Lugar Qualquer" é uma ave rara no cinema norte-americano atual, que tanto privilegia grandiloquência e um clímax arrebatador.

Aqui, Sofia faz um estudo de personagens delicado e complexo, o que transforma "Um Lugar Qualquer" num filme raro - daqueles capazes de fazer as pessoas felizes.

E eu, que já tinha declarado minha admiração à beleza e ao talento de Stephen Dorff desde que o vi interpretando o vampiro vilão Deacon Frost em "Blade" (1998), confirmo aqui que ele se tornou um dos melhores atores de sua geração - Dorff está com 36 anos, e ainda tem muita lenha pra queimar.

"Um Lugar Qualquer" é um filme carregado de sentimentos, que vale cada centavo do ingresso.

Confira o trailer do filme:


*****

"UM LUGAR QUALQUER"
Título original:
Somewhere
Diretora: Sofia Coppola
Produção: Focus Features
Distribuição: Universal Pictures
Elenco: Stephen Dorff
Elle Fanning
Chris Pontius
Michelle Monaghan
Gênero: Drama
Duração: Nada Cansativos 97 min.
Ano: 2010
Data da Estreia: 28/01/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
País: EUA
COTAÇÃO DO KLAU:

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