Quando chegarem à sala de atualidades, onde acontecerá a reinauguração da Biblioteca Mário de Andrade na tarde de hoje, os convidados serão recebidos pelo semissorriso do poeta modernista que criou as bases da política pública de cultura da cidade de São Paulo.
O retrato do poeta Mário de Andrade (1893-1945) que está pregado na entrada da sala de chão brilhante e janelas com vista para a praça Dom José Gaspar tem sentidos que ultrapassam os da mera homenagem.
Andrade foi, ao lado do crítico literário Sérgio Milliet (1898-1966) e do poeta Paulo Duarte (1899-1984), um dos idealizadores do Departamento de Cultura de São Paulo, criado em 1935.
Foi essa instituição que, ao definir os livros como um dos eixos de sua atuação, transformou a biblioteca paulistana nesse raro bem que a cidade terá finalmente de volta.
Após anos de goteiras, cupins e descaso, o segundo maior abrigo de livros do país - só atrás da Biblioteca Nacional, no Rio - renascerá com 3,3 milhões de itens.
O prédio, inaugurado em 1943, foi fechado para uma ampla reforma em 2007.
A biblioteca circulante, que passara anos "vivendo de favor" em outros endereços, havia sido reaberta em julho de 2010 - e é um dos lugares da cidade onde eu mais gosto de ir - mas foi guardada para hoje a festa com pompa, autoridades e shows.
Mateus Bruxel/Folhapress | ||
Entrada para o saguão principal da Biblioteca Mário de Andrade, dona do segundo maior acervo de livros do país |
FICHÁRIOS
Na última sexta-feira, era grande o corre-corre para que nada ficasse fora do lugar - havia de tudo no prédio: de andaimes e furadeiras a tesouras para recortar os papelinhos que ordenam os velhos fichários de A a Z.
Apesar de inadequado ao silêncio que se espera de uma biblioteca, o burburinho pré-festa não parecia perturbar os visitantes, que, desde julho, circulam por um dos espaços do vasto edifício.
A biblioteca circulante está aberta a quem deseja folhear periódicos ou pegar emprestado algum dos 42 mil títulos disponíveis.
Na última sexta-feira, na larga mesa de madeira renovada depois do restauro, "O Livro de Areia", de Jorge Luis Borges (1899-1986), descansava sozinho, enquanto, ao seu lado, um volume sobre neurociência cognitiva era devorado por um jovem.
Já o mezanino, com vista para a rua da Consolação, se mostrava um refúgio perfeito para quem, à espera da chuva que as nuvens anunciavam, buscava "um minuto de paz", como descreveu a leitora que folheava um atlas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
CLASSIFICADOS
A diretora da Mário de Andrade, Maria Christina Barbosa de Almeida, diz que a biblioteca circulante tem recebido, diariamente, cerca de 700 pessoas.
"Estamos conquistando, além dos leitores habituais, um público de pequenos comerciantes da região", diz.
Para atrair os novos frequentadores, a biblioteca oferece, por exemplo, títulos sobre marketing e administração de empresas. Outra estratégia é abrir as portas às 8h30. "Assim, quem entra às 9h no emprego tem tempo de dar uma passadinha por aqui antes", explica ela.
De acordo com Almeida, às segundas-feiras, quando o Centro Cultural São Paulo está fechado, o movimento é maior: "Vem muita gente ler o jornal do final de semana para procurar emprego".
Agora, será possível, após ler o jornal, cruzar a biblioteca circulante e pisar no mármore da entrada principal. Ali, a estátua "A Leitura", de Caetano Fraccaroli, impassível, reitera o sonho modernista de Mário de Andrade.
Para mim, a Mário de Andrade é um dos equipamentos culturais mais importantes para a minha formação enquanto Ser Humano.
Cada vez que passava pelo imponente prédio, e o via fechado, ficava profundamente triste, porquê foi ali que conheci Julio Verne, Robert Lous Stevesson, Descartes, Platão, Scott Fritzgerald, Cortázar, Plínio Marcos, Jorge Amado, tantos outros...
E eu fiquei muito emocionado quando lá voltei, em agosto passado, adentrei a Biblioteca Circulante - que já estava funcionando novamente - e constatei que minha ficha de sócio, aberta em agosto de 1974 - eu tinha treze anos na época - estava lá, inteira - só que agora digitalizada.
Olhando para aquela foto do Cláudio menino, um filme - dos bons - passou pela minha cabeça.
Chorei eu, chorou a prestativa funcionária - de quem agora não lembro o nome.
Benvinda!
Matéria da jornalista Ana Paula Sousa, da "Folha de S.Paulo", com pitacos meus
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REINAUGURAÇÃO DA MÁRIO DE ANDRADE
QUANDO: hoje, a partir das 11h
ONDE: r. da Consolação, 94, tel. 0/ xx/11/ 3814-4832
QUANTO: grátis
FUNCIONAMENTO: de segunda a sexta, das 8h30 às 20h30; sábados, das 10h às 17h
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