O drama mexicano "Biutiful", do diretor Alejandro González Iñárritu, reúne alguns dos temas caros à filmografia do diretor - como a morte, o espiritualismo, além de um denso mergulho no problema da exploração do trabalho de imigrantes clandestinos na Europa: é numa Barcelona surpreendentemente sombria que o protagonista Uxbal - Javier Bardem - luta pela sobrevivência.
Apesar de europeu, ele não tem outra escolha a não ser tornar-se agenciador do trabalho de imigrantes chineses e africanos para sustentar seus dois filhos pequenos, e a extrema dedicação às crianças, aliás, é um dos traços que redime este homem extremamente dividido.
DivulgaçãoJavier Bardem, em cena do filme
O diretor Iñárritu, que corroteirizou o filme, disse à Reuters que "a complexidade da natureza de Uxbal era justamente o que me interessava nele. Ele não é bom nem mau. Não é fácil julgá-lo".
A imigração ilegal entrou na história a partir de uma ampla pesquisa, que incluiu entrevistas do diretor com dezenas de africanos e chineses - alguns deles estão no elenco como atores secundários.
"Precisava entender como viviam, sua relação com as populações locais e as autoridades. O trabalho desses não-atores, inclusive, dá ao filme essa verdade, porque é um documento hiper-realista".
Para Iñárritu, a imigração ilegal "é a escravidão do século 21".
A morte interfere na trajetória de Uxbal em mais de um momento, quando ele se vê diante de uma grave enfermidade, e também pelos riscos que seus trabalhadores correm diariamente pelas precárias condições de alojamento e trabalho.
Paralelamente, o personagem tem um dom mediúnico, com o qual não lida muito bem - embora eventualmente e a contragosto dê consultas e receba dinheiro por isso.
Falando da morte, que entra sempre em seus filmes - como "Amores Brutos" (2002),
"21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006) - o diretor explica:
"Eu sempre observo a morte a partir da vida. Mais que a morte, me interessa a vida. E é ao sentir que pode morrer que Uxbal, paradoxalmente, sente que a vida está ganhando significado. Ele encontra esse sentido no amor, na compaixão".
Já a espiritualidade é um tema que há muito tempo intriga o diretor.
"Senti-me sempre estimulado pela ideia de vida após a morte. É fascinante este debate se somos mais do que corpo, sangue e carne, embora eu esteja sempre em conflito entre crer e não crer. Ainda assim, me interessou colocar isso no diálogo do filme".
Para este tema, o diretor entrevistou diversas pessoas, algumas das quais tinham conflitos com seu dom, como Uxbal.
"Foram estas que me impactaram".
Integrante do trio de diretores e produtores mexicanos de maior circulação internacional, ao lado de Alfonso Cuarón - de "Filhos da Esperança" - e Guillermo Del Toro -
"O Labirinto do Fauno" -, Inárritu comenta como vê o fato de filmar em vários países fora do seu:
"Interessa-me o ser humano, além da geografia, do idioma, do lugar onde se filma. Na alteridade, encontro a mim mesmo. Somos todos similares em tantos aspectos".
Neste momento, o diretor - que deveria ter vindo ao Brasil para lançar "Biutiful" mas teve que cancelar por problemas pessoais - já está envolvido na escrita de alguma nova história, mas nada para já.
"Geralmente levo dois anos num roteiro. Não gosto de análise demais, senão isto gera paralisia. Gosto de ir encontrando o tom e o ritmo do filme aos poucos. Filmando, encontro mais este ritmo. Mas na montagem é que o encontro realmente".
Iñárritu abandonou aqui as múltiplas histórias entrecortadas e montagem frenética de "Babel" e "Amores Brutos" para se dedicar a apenas um personagem, onde o cineasta mexicano mergulha na dor de um pai quase como um processo terapêutico.
"Biutiful" atinge a intensidade pretendida ao sufocar seu personagem, e mesmo sem um roteiro poderoso, o diretor tenta consertar quase tudo na câmera.
Na maioria das vezes consegue, e apresenta um filme deliberadamente nauseante e desconfortável, assim como a vida de Uxbal, que de "biutiful", como escreve sua filha, não tem nada.
Na última quarta (19) o filme apareceu na pré-lista de nove filmes que disputam as cinco vagas concorrentes ao Oscar de filme estrangeiro 2011, e no último domingo, era o favorito para levar o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, mas não levou.
A obra teve melhor sorte no último Festival de Cannes, com opiniões bastante distintas entre si, mas todas apontando para este como um dos menores trabalhos do cineasta mexicano - Bardem levou o prêmio de Melhor Ator.
Reutersjavier Bardem abraça o diretor Iñárritu, após ser anunciado como Melhor Ator em Cannes 2010, sob o olhar de sua mulher, a Diva Penélope Cruz (à direita)
No entanto, uma opinião é unânime: Javier Bardem leva o filme nas costas, tendo um dos seus melhores desempenhos de sempre - o ator espanhol é uma das apostas para uma nomeação ao Oscar de Melhor Ator.
Confira o trailer do filme:
*****
"BIUTIFUL"
Título original: Biutiful
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Elenco:
Javier Bardem
Maricel Álvarez
Hanaa Bouchaib
Guillermo Estrella
Gênero: Drama
Duração: bons 147 minutos
Ano: 2010
Data da Estreia: 21/01/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: Espanha, México
COTAÇÃO DO KLAU:
Apesar de europeu, ele não tem outra escolha a não ser tornar-se agenciador do trabalho de imigrantes chineses e africanos para sustentar seus dois filhos pequenos, e a extrema dedicação às crianças, aliás, é um dos traços que redime este homem extremamente dividido.
DivulgaçãoJavier Bardem, em cena do filme
O diretor Iñárritu, que corroteirizou o filme, disse à Reuters que "a complexidade da natureza de Uxbal era justamente o que me interessava nele. Ele não é bom nem mau. Não é fácil julgá-lo".
A imigração ilegal entrou na história a partir de uma ampla pesquisa, que incluiu entrevistas do diretor com dezenas de africanos e chineses - alguns deles estão no elenco como atores secundários.
"Precisava entender como viviam, sua relação com as populações locais e as autoridades. O trabalho desses não-atores, inclusive, dá ao filme essa verdade, porque é um documento hiper-realista".
Para Iñárritu, a imigração ilegal "é a escravidão do século 21".
A morte interfere na trajetória de Uxbal em mais de um momento, quando ele se vê diante de uma grave enfermidade, e também pelos riscos que seus trabalhadores correm diariamente pelas precárias condições de alojamento e trabalho.
Paralelamente, o personagem tem um dom mediúnico, com o qual não lida muito bem - embora eventualmente e a contragosto dê consultas e receba dinheiro por isso.
Falando da morte, que entra sempre em seus filmes - como "Amores Brutos" (2002),
"21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006) - o diretor explica:
"Eu sempre observo a morte a partir da vida. Mais que a morte, me interessa a vida. E é ao sentir que pode morrer que Uxbal, paradoxalmente, sente que a vida está ganhando significado. Ele encontra esse sentido no amor, na compaixão".
Já a espiritualidade é um tema que há muito tempo intriga o diretor.
"Senti-me sempre estimulado pela ideia de vida após a morte. É fascinante este debate se somos mais do que corpo, sangue e carne, embora eu esteja sempre em conflito entre crer e não crer. Ainda assim, me interessou colocar isso no diálogo do filme".
Para este tema, o diretor entrevistou diversas pessoas, algumas das quais tinham conflitos com seu dom, como Uxbal.
"Foram estas que me impactaram".
Integrante do trio de diretores e produtores mexicanos de maior circulação internacional, ao lado de Alfonso Cuarón - de "Filhos da Esperança" - e Guillermo Del Toro -
"O Labirinto do Fauno" -, Inárritu comenta como vê o fato de filmar em vários países fora do seu:
"Interessa-me o ser humano, além da geografia, do idioma, do lugar onde se filma. Na alteridade, encontro a mim mesmo. Somos todos similares em tantos aspectos".
Neste momento, o diretor - que deveria ter vindo ao Brasil para lançar "Biutiful" mas teve que cancelar por problemas pessoais - já está envolvido na escrita de alguma nova história, mas nada para já.
"Geralmente levo dois anos num roteiro. Não gosto de análise demais, senão isto gera paralisia. Gosto de ir encontrando o tom e o ritmo do filme aos poucos. Filmando, encontro mais este ritmo. Mas na montagem é que o encontro realmente".
Iñárritu abandonou aqui as múltiplas histórias entrecortadas e montagem frenética de "Babel" e "Amores Brutos" para se dedicar a apenas um personagem, onde o cineasta mexicano mergulha na dor de um pai quase como um processo terapêutico.
"Biutiful" atinge a intensidade pretendida ao sufocar seu personagem, e mesmo sem um roteiro poderoso, o diretor tenta consertar quase tudo na câmera.
Na maioria das vezes consegue, e apresenta um filme deliberadamente nauseante e desconfortável, assim como a vida de Uxbal, que de "biutiful", como escreve sua filha, não tem nada.
Na última quarta (19) o filme apareceu na pré-lista de nove filmes que disputam as cinco vagas concorrentes ao Oscar de filme estrangeiro 2011, e no último domingo, era o favorito para levar o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, mas não levou.
A obra teve melhor sorte no último Festival de Cannes, com opiniões bastante distintas entre si, mas todas apontando para este como um dos menores trabalhos do cineasta mexicano - Bardem levou o prêmio de Melhor Ator.
Reutersjavier Bardem abraça o diretor Iñárritu, após ser anunciado como Melhor Ator em Cannes 2010, sob o olhar de sua mulher, a Diva Penélope Cruz (à direita)
No entanto, uma opinião é unânime: Javier Bardem leva o filme nas costas, tendo um dos seus melhores desempenhos de sempre - o ator espanhol é uma das apostas para uma nomeação ao Oscar de Melhor Ator.
Confira o trailer do filme:
*****
"BIUTIFUL"
Título original: Biutiful
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Elenco:
Javier Bardem
Maricel Álvarez
Hanaa Bouchaib
Guillermo Estrella
Gênero: Drama
Duração: bons 147 minutos
Ano: 2010
Data da Estreia: 21/01/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: Espanha, México
COTAÇÃO DO KLAU:
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