quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A SEMANA NA DIVERSIDADE

São Paulo fará cirurgia gratuita para transexuais; Obama acaba com lei que proibia gays nas Forças Armadas americanas; Rio é eleito o destino mais sexy do mundo, e cineasta tailandesa transexual sofre censura idiota

Confira o resumo de notícias:


SÃO PAULO FARÁ CIRURGIA GRATUITA PARA TRANSEXUAIS

Alexandre Santos nasceu Alexandra há 38 anos - há oito, quando conheceu a nomenclatura "transexual", decidiu mudar de nome.

Ele sente-se homem "desde que se conhece por gente".
Veste-se como homem e comporta-se como homem.
Entretanto, tem seios e menstrua, como uma mulher. "É um constrangimento", diz.

O constrangimento está com os dias contados: Alexandre deve ser um dos primeiros pacientes operados pelo hospital Pérola Byington, que começará a realizar gratuitamente, neste mês, a remoção de útero em mulheres que se sentem homens.

Em breve, de acordo com o governo do Estado, ele também terá a opção de remover as mamas pelo SUS - Sistema Único de Saúde - em um hospital que ainda está em definição.

Para passar pela cirurgia, os pacientes devem ter tido pelo menos dois anos de atendimento psicológico - cinco pessoas já se encontram na espera.

Com a retirada do útero, os transexuais deixam de menstruar - isso também previne o aparecimento de doenças, como câncer, que podem se desenvolver com a utilização de hormônios para modificar as características sexuais, como o tom de voz e os pelos.

Com a retirada da mama, eles também não precisam mais usar artimanhas para esconder os seios.
"Já coloquei muita faixa apertada, mas machucava muito porque tenho bastante seio. Minha estratégia foi engordar, assim eu ficava mais uniforme. Sei que não é saudável", conta Alexandre.

"Com a cirurgia, a pessoa poderá ter o tipo físico adequado à sua escolha, com o qual se sente mais confortável", afirma Tânia das Graças Mauadie Santana, coordenadora do ambulatório de sexologia do Pérola Byington.

As duas cirurgias, na rede particular, podem custar em torno de R$ 12 mil e R$ 20 mil, afirma o cirurgião Jalma Jurado, especialista na área.

Os procedimentos passaram a ser permitidos pelo Conselho Federal de Medicina em setembro - antes, eram "experimentais" e feitos, basicamente, em hospitais universitários, que seguiam protocolos científicos.

Em São Paulo, as cirurgias são feitas pelo Hospital das Clínicas.
"Mas em número muito pequeno", afirma Maria Clara Gianna, coordenadora do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids da Secretaria de Saúde de SP.

O hospital quer realizar de duas a quatro cirurgias/mês.

Reportagem de Talita Bedinelli e Guilherme Genestreti, publicada na "Folha de S.Paulo" em 11.01.2011


CINEASTA TRANSEXUAL LUTA CONTRA CENSURA TAILANDESA

A diretora do primeiro filme que denuncia a marginalização dos transexuais na Tailândia acaba de esbarrar na censura, que ao proibir a exibição do longa por julga-lo pornográfico e imoral, levanta a discussão sobre a tolerância no meio cinematográfico.

"Insects in the Backyard", estreia de Tanwarin Sukhapisit - e que ela mesma protagoniza - tem um enredo baseado na sua própria história - de um pai solteiro com dois filhos adolescentes que se envergonham dele por sua escolha sexual, e que se prostituem para fugir de casa.

O longa-metragem foi bem aceito pelo público quando exibido pela primeira vez em setembro no Festival de Toronto - TIF - e, depois do sucesso, foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Bangcoc.

Quando Sukhapisit pediu em dezembro a permissão para projetar o filme nas salas comerciais, sua solicitação foi rejeitada sem nenhuma explicação.

"Não me disseram nada, mas depois soube por amigos e pela imprensa que eles não gostaram de várias cenas", disse à Agência Efe a produtora, que nasceu 37 anos atrás no corpo de um homem, mas que desde muito jovem se sentia uma mulher.

Sukhapisit recorreu à sentença contra o Ministério da Cultura, e o órgão se mostrou disposto a levantar o veto se a diretora cortar todas as sequências de sexo homossexual explícito, estudantes uniformizados exercendo a prostituição e o sonho do filho que assassina o pai.

A diretora recusou cortar qualquer parte da produção, e quem se arrisca a distribuir o filme poderá ser multado em até 1 milhão de bat - equivalente a US$ 33 mil - o dobro do orçamento.

Sukhapisit também não pode classificar o filme como proibido para menores de 18 anos, porque todas as formas de pornografia são ilegais na Tailândia.

"Claro que há muitas cenas fortes, com violência e sexo, não só homossexual, mas garanto que não tem mais do que filmes de Hollywood e ele pode ser assistido por qualquer adulto", argumentou a diretora.

Na sua opinião, o comitê de censura presidido pelo primeiro-ministro tailandês, Abhisit Vejjajiva, "é como um dinossauro que não entende de cinema, acredita que todos os tailandeses são tão incultos como ele e por isso limita a liberdade".

Sukhapisit se queixa que, em seu país, os transexuais são limitados a papéis cômicos secundários no cinema - que ela mesma interpretou em infinitas ocasiões - como reflexo de uma sociedade que garante ser tolerante, mas que na realidade continua sendo "profundamente conservadora".

"É uma atitude paternalista, porque as pessoas aceitam a cultura contemporânea mais do que seus próprios governantes. É triste que alguém com 18 anos esteja apto a votar nas eleições democráticas, mas não seja suficientemente maduro para ver meu filme", lamentou.

Também é algo profundamente calhorda que as mesmas autoridades que proibiram o filme a contratam para palestrar sobre cinema nas universidades, mesmo vestida de mulher.

"Há dez anos, jamais me sentiria à vontade de me vestir assim em público, mas pouco a pouco as coisas estão mudando e já não é um tabu para a maioria dos tailandeses", explica Sukhapisit.

A cineasta pertence a uma nova geração liderada por Apichatpong Weerasethakul - o diretor mais famoso da história da Tailândia após conquistar a Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes em 2010.

Weerasethakul é gay assumidíssimo, enfrentou a censura diversas vezes, e reprova que, enquanto isso, as autoridades financiam superproduções épicas com um fundo nacionalista.

A responsável por "Insects in the Backyard", cujo título é uma metáfora sobre como os transexuais não são vistos como humanos e são excluídos pela sociedade, afirma que levará seu caso aos tribunais e não descansará até que se derrote a lei "antidemocrática".



Reportagem da Agência EFE, em Bancoc


SITE GAY ELEGE O RIO COMO O DESTINO MAIS SEXY DO MUNDO

Um ano após ganhar o título de Melhor Destino Gay, o Rio de Janeiro foi eleito para mais um título voltado para o mesmo público, o Destino Mais Sexy do Mundo, segundo votação pública organizada pelo site TripOutGayTravel.com e pelo Logo, canal especializado da MTV americana.

A Cidade Maravilhosa recebeu 58% dos votos, superando destinos tradicionais que também concorriam, como Barcelona, na Espanha; Key West, na Flórida; a capital mundial dos casinos Las Vegas, em Nevada, nos Estados Unidos; a também americana Palm Springs, na Califórnia; e Tel Aviv, em Israel.

O secretário municipal de Turismo e Presidente da Riotur, Antonio Pedro Figueira de Mello, comemorou a eleição, afirmando que o título "comprova que a cidade do Rio de Janeiro tem a vocação natural de receber turistas de todas as tribos. É por intermédio do voto popular que nos temos a certeza de que o trabalho que viemos realizando continuamente para atrair cada mais o público GLBT para nossa cidade está sendo reconhecido".

Enquanto isso, nas favelas cariocas, a homofobia corre solta - veja matéria anterior.

A matéria foi postada no site TripOutGayTravel.com


OBAMA ASSINA LEI QUE PERMITE GAYS NAS FORÇAS ARMADAS AMERICANAS

O presidente dos EUA Barack Obama sancionou em 22.12 - e eu me esqueci de comentar aqui - a lei que revoga a proibição de gays assumidos servirem nas Forças Armadas dos Estados Unidos.

Em um discurso muito ovacionado antes da assinatura, Obama agradeceu diversas vezes a todos os envolvidos na derrubada ao veto que vigorava há 17 anos, e disse que ter gays entre os militares vai fortalecer a segurança nacional.

"Eu estou muito feliz. Este é um dia muito feliz. Eu quero agradecer a todos vocês, especialmente às pessoas neste palco. Cada um de vocês trabalhou tão duro nisto", disse Obama.

Jim Young/Reuters
Obama assina medida que derruba "Don't Ask, Don't Tell", que proíbe gays assumidos nas Forças Armadas

Diante de uma plateia de militares, o presidente lembrou a história de um militar americano que, há 66 anos, durante a Segunda Guerra, foi salvo por um colega na Europa.

Anos depois, eles decidiram se reencontrar e ele descobriu que devia sua vida a um homem gay.
"Ele não tinha ideia e francamente não ligava. Ele sabia que só estava vivo e só voltara para cuidar de sua família por causa do amigo", disse Obama.

O presidente afirmou ainda que diminuir um militar por sua sexualidade é como diminuir por questões de religião, raça ou crença - todas essas vetadas nas Forças Armadas dos EUA.

"Esta manhã eu estou orgulhoso em assinar a lei que vai acabar com o "não pergunte, não conte", afirmou.
"Esta lei [...] vai fortalecer nossa segurança nacional. Milhares de pessoas foram obrigadas a deixar as Forças Armadas, não importa sua competência ou bravura, por sua sexualidade. Nenhum mais será obrigado a viver uma mentira, olhar por trás dos seus ombros".

Obama garantiu ainda que a lei, agora sancionada, será aplicada de maneira rápida em todo o país. "Nós não vamos arrastar nossos pés nisso".

Em vigor há 17 anos, a política conhecida como "Don't Ask, Don't Tell" - "Não pergunte, não conte" - determina que as Forças Armadas não devem perguntar aos militares sobre sua orientação sexual, e os militares não devem divulgá-la.

A revogação da política entra em vigor 60 dias após ser sancionada por Obama, por Gates e pelo almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas

O secretário de Defesa, Robert Gates, apoia o fim da proibição, uma das principais promessas de campanha de Obama, e cita um estudo recente em que os militares concluíram que a revogação gerava poucos riscos.

Em 15.12, a proibição foi derrubada pela Câmara dos Representantes - deputados - deixando nas mãos do Senado o passo final para enterrar a atual política.

Em 18.12, o Senado também derrubou a proibição, em uma decisão histórica comparada por muitos com o fim da segregação racial no meio militar dos EUA.

A decisão representou uma reviravolta, já que há poucos dias o Senado havia bloqueado uma tentativa de votação do fim da política - levantando temores de que ela não seria novamente reconsiderada antes do próximo ano.

O Pentágono deve agora elaborar um plano para a aplicação das regras alteradas, além de decidir como as tropas serão instruídas sobre a nova política e como ficam os processos disciplinares, os benefícios e o status de quem foi demitido por violar as regras atualmente em vigor, segundo o coronel David Lapan, porta-voz do Departamento de Defesa.

Alguns críticos dizem que o Pentágono pode demorar a adotar as novas regras, numa concessão ao ceticismo interno.

"Este é um obstáculo político por parte dos comandantes. Os militares poderiam revogar a proibição de amanhã se quisessem, mas isso não vai acontecer", disse Aaron Belkin, diretor do Centro Palm, da Universidade da Califórnia, Santa Barbara.

Recentemente, um estudo desenvolvido pelo Pentágono revelou que derrubar a lei que proíbe homossexuais assumidos nas Forças Armadas causaria um pouco de perturbação no início, mas não traria problemas disseminados ou de longo prazo para os EUA.

O estudo revelou que 70% dos militares acham que derrubar a lei teria efeitos mistos, positivos, ou nenhum efeito, enquanto 30% preveem consequências negativas ou demonstram preocupação.

A oposição foi maior entre os militares de combate, com 40% dizendo ser uma má ideia - o número subiu para 46% entre os fuzileiros navais.

A pesquisa foi enviada para 400 mil militares, dos quais 69% disseram ter trabalhado com alguém que eles acreditam ser gay ou lésbica.
Desses, 92% disseram que o trabalho em conjunto foi muito bom, bom, ou nem bom nem ruim, segundo as fontes citadas pelo jornal 'The Washington Post'.

As unidades de combate deram respostas semelhantes: 89% das unidades de combate do Exército e 84% das unidades de combate dos Fuzileiros Navais disseram ter tido experiências boas ou neutras ao trabalhar com gays ou lésbicas, revela o 'Post'.

Um recente relatório de um grupo de trabalho do Pentágono recomendou que não haja banheiros ou chuveiros separados para militares homossexuais, e que alguns benefícios, como assistência jurídica gratuita, poderão ser oferecidos para casais do mesmo sexo.

Mudar a lei foi uma das promessas de Barack Obama em sua campanha presidencial em 2008.

No mundo todo, 29 países - incluindo Israel, Canadá, Alemanha e Suécia - aceitam soldados assumidamente gays, segundo a Log Cabin Republicans, um grupo defensor dos direitos gays.
E eu ainda sonho com que as Forças Armadas brasileiras também acabem com a hipocrisia aquartelada, e siga o exemplo do presidente americano.
Fonte: Agências de Notícias
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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