sexta-feira, 12 de março de 2010

GLAUCO, UM DOS MAIORES CARTUNISTAS DO BRASIL

Glauco Villas Boas nasceu em Jandaia do Sul, interior do Paraná, a 53 anos.

No começo dos anos 70, começou a publicar suas tirinhas no "Diário da Manhã", de Ribeirão Preto.

Quadrinhos da DONA MARTA, último trabalho de Glauco, e publicado na edição de hoje da "Folha de S.Paulo"

Em 1976, foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba, e no ano seguinte, começou a publicar seus trabalhos na "Folha de S.Paulo" esporádicamente. Só a partir de 1984 é que ele passou a publicar suas tiras regularmente no jornal.

Entre seus personagens estão Geraldão, Cacique Jaraguá, Nojinsk, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Ficadinha, Netão e Edmar Bregman, entre outros.

Em 2006, ele lançou o livro "Política Zero", reunião de 64 charges políticas sobre o Governo Lula, publicadas na página 2 da Folha.
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Glauco adorava o tema. Abaixo, você vê tiras publicadas nas décadas de 80 e 90:



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Vamos relembrar os personagens criados por Glauco, e suas tirinhas:

Geraldão
Geraldão é o principal personagem criado por Glauco. Solteiro, na faixa dos 30 anos, ele ainda é virgem e mora com a mãe, com quem tem uma relação neurótica. Geraldão bebe, fuma bastante, toma os remédios que encontra pela frente e adora atacar a geladeira.
O personagem foi criado para o livro "Minorias do Glauco", lançado em 1981.

Geraldinho
Geraldinho é a versão criança do Geraldão. Ao invés de beber, fumar e tomar remédios, ele é viciado em refrigerantes, TV e sorvete. Seus amigos inseparáveis são o cachorro Cachorrão e do gato Tufinho. Geraldinho foi criado especialmente para a "Folhinha" - suplemento semanal da "Folha" dirigido às crianças.

Netão
Netão foi o primeiro quadrinho criado por Glauco para a internet. Ele surgiu em maio de 2000, feito especialmente para o UOL. O nome Netão é uma referência à palavra net. O personagem tem cerca de 30 anos e vive "internado" em um apartamento com a mulher. Netão tem compulsão por salas de bate-papo e, sem nunca tirar seu pijama, passa boa parte do seu tempo envolvido em traições virtuais.

Dona Marta
Dona Marta é uma daquelas moças educadas à moda antiga e, de tanto esperar pelo homem ideal, acabou ficando para titia. Quando se deu conta de que não arrumaria um namorado, ela passou a cantar - e atacar! - todos os que encontra. Os boys do escritório onde trabalha são suas vítimas constantes A personagem foi criada 1981, também para o livro "Minorias do Glauco".

Casal Neuras
Criado em 1984, o Casal Neuras é formado por uma mulher não submissa, e por um homem que faz pose de liberal mas, no fundo, morre de ciúmes dela. Os dois são chamados de Neurinha - ela e ele. Os personagens foram baseados no primeiro casamento de Glauco.

Zé do Apocalipse
Zé do Apocalipse é uma espécie de profeta brasileiro, que acredita que o país é a terra do novo milênio. O personagem acredita ser o porta-voz dessa nova era, e prega suas ideias em todo o lugar. Zé foi inspirado em um amigo de Glauco que vivia em uma comunidade alternativa.

Edmar Bregmam
O personagem é uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha e ao cinema novo. Edmar Bregman nunca terminou um filme, e seu único contato com o cinema foi ter sido responsável pelos efeitos especiais de "Terra em Transe".

Doy Jorge
Doy Jorge é um roqueiro que não se deu bem na carreira, e se deixou levar pelas drogas pesadas. O personagem foi criado nos anos 80 para as revistas do "Geraldão" e também teve suas tiras publicadas na "Folha".

Zé Malaria
Zé Malaria é um antropólogo que estudou a mata, mas nunca foi a campo e morre de medo de cobras, aranhas e bichos em geral. Seu instrumento de trabalho é um inseticida que devasta a floresta.

Ficadinha
Criada em 2000 para integrar um canal do UOL direcionada para a sexualidade de jovens, Ficadinha é uma adolescente contemporânea. Ela tem 17 anos, mora com os pais e tem vários "ficantes".

Faquinha
Faquinha nunca conheceu os pais, e foi criado por Facão - um perigoso traficante. Entrou para o mundo do tráfico, e vive sendo perseguido pela polícia e por grupos de extermínio. Tem ganho uma grana preta, vendendo bosta de vaca como se fôsse "bagulho do bom".

Nojinsk
Nojinsk vive num deserto com seu tapete mágico sempre fugindo dos americanos, e de grupos extremistas que o confundem com terroristas. O personagem é, na verdade, um comerciante de camelos, odaliscas, haxixe e tapetes-voadores.

Ozetês
Eles vieram do espaço e se comunicam por telepatia, meditam e materializam coisas com a força do pensamento. Vários artistas famosos já meditaram com os Ozetês, como Jimi Hendrix.

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Glauco também era líder da igreja Céu de Maria - ligada ao Santo Daime e que usa a bebida feita de cipó para fins religiosos.

Foi um dos mais importantes cartunistas brasileiros em todos os tempos.

Nessa madrugada, Glauco, 53, e de seu filho Raoni, 25,foram mortos a tiros na em Osasco, Grande São Paulo - na chácara onde moravam - por Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24,conhecido da família e ainda não localizado pela polícia.

Testemunhas ouvidas pela polícia afirmam que o rapaz estava transtornado - dizia ser Jesus Cristo , e que foi à residência do cartunista com o objetivo de levar toda a família de Glauco até a casa de sua mãe, em São Paulo, para que ela ouvisse que o filho era Jesus. O cartunista, então, negociou para ir sozinho com Nunes -deixando em casa a mulher e os filhos.


O filho chegou durante a negociação, e o criminoso atirou nos dois - foram dez disparos. Glauco e Raoni chegaram a ser socorridos, mas não resistiram aos ferimentos.

O assassino havia frequentado a igreja Céu de Maria -fundada por Glauco há cerca de 15 anos-, mas estaria afastado dos cultos. De acordo com o delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, da Delegacia Seccional de Osasco, o rapaz era uma pessoa "problemática", e, durante negociação com Glauco, chegou a falar em se matar,
já tem passagem na polícia por porte de drogas, e aparentava estar sob efeito de drogas durante o crime, disseram testemunhas.

Uma carreira brilhante, uma morte - mais uma! - estúpida.

Durante todo o dia, Glauco recebeu diversas homenagens na internet.

O blog do site Universo HQ - que existe há dez anos e é especializado em cartuns -, reuniu algumas delas em um texto publicado de manhã e que está sendo atualizado à medida que chegam charges, cartuns e textos sobre o cartunista.

O editor-chefe do site, Sidney Gusman, que era amigo de Glauco e assina a introdução da homenagem, diz que a notícia da morte "derrubou todo mundo que ama quadrinhos neste país".

Segundo ele, as homenagens estão sendo enviadas por autores, fãs e cartunistas de todas as partes do país.

"Está vindo tanta coisa que não estou dando conta de colocar no ar", afirma.

Reprodução


Algumas das homenagens de autores, fãs e cartunistas de todas as partes do Brasil recebidas pelo Universo HQ.

Em blogs de colegas de Glauco, também é possível ver homenagens ao cartunista.

No de Caco Galhardo, ele escreveu que "Glauco sempre foi uma das minhas maiores referências, pelo trabalho, pela pessoa, por tudo e agora minha sensação é de que todos nós viramos um bando de órfãos".

No blog de Adão Iturrusgarai, o cartunista diz que Glauco "tinha um dos traços mais difíceis de imitar. Era muito caligráfico, quase uma assinatura".

Jean Galvão apenas registrou a notícia da morte com o título "triste".
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Repercussão:

Rafael Grampá, quadrinista
"O Glauco é umas das principais referências para a minha geração. Um cara como ele, há tanto tempo fazendo tiras e fazendo disso uma história, mudou a vida de muitos artistas novos. Muita gente começou a trabalhar com quadrinhos por influência do trabalho dele. E foi um cara corajoso, que mudou a vida de uma forma muito drástica e espiritual depois que entrou para o daime. Isso é muito inspirador. É uma perda muito violenta para o quadrinho e para a cultura do Brasil."

Adão, quadrinista
"Eu conheci ele em 1993, quando comecei a fazer Los Tres Amigos.

Chegou a virar lenda essa coisa dele faltar bastante às reuniões.

Uma das características mais engraçadas dele é você via que ele tinha uma coisa de criança, um jeito de ser de criança, de moleque, era muito engraçado, o rei de falar merda.

Ele via se você tinha um problema, detectava qual era o problema e pegava no seu pé.

Fora isso, uma grande influência para todos nós no quadrinho moderno.

Ele tinha um estilo de vida muito particular, ficava na coisa dele da igreja, do Daime. (...)

É uma perda, um cara jovem, é um buraco que ficou aí. Tudo que o Glauco poderia vir a fazer, isso acabou. Fica essa tristeza."

Caco Galhardo, quadrinista
"O Glauco é a grande referência de todos nós, de todos os cartunistas.

É uma perda tão grande.

Ele está ali diariamente com a gente, é aquela coisa do Geraldão, que todo mundo conhece, que está ali, a gente não tem mais a companhia do Glauco.

Ele foi uma grande referência a vida inteira. (...) Ele é o último maluco beleza.

Sem esse cara, a vida perde a graça. É uma referência constante."

José Hamilton Ribeiro, jornalista
"(...) No 'Diário da Manhã' ele fazia a charge do dia.

É um cartum que eu acho forte, não é uma coisa burilada, bonitinha, é forte.

É a condição que se quer de um desenhista, de um chargista, que dá a machadada na cabeça.

Eu tinha essa sensação do desenho dele, ele ia no ponto.

Toda vez que a gente se encontrava, a gente confraternizava muito.

A gente tinha uma afinidade natural. (...)

É uma perda muito grande.

Fica uma ausência, um vazio grande, um vazio muito grande.

Mas o que aconteceu com ele vai acontecer também com algum talento jovem antes de achar seu lugar. Jovens vão usar esse espaço dele, e a vida continua, o show continua."

Ziraldo, cartunista e escritor
"A notícia me pegou na estrada, é uma coisa que deixa você meio chapado.

É como perder um sobrinho.

Vi esses quatro meninos -Glauco, Angeli, Laerte e Adão - começarem a vida.

Sempre os tratei como filhos e tenho um carinho muito grande por todos eles.

O Glauco, em específico, sempre foi a alegria da festa, a alegria dos salões.

Tinha uma agilidade mental muito grande, era muito crítico, debochado -debochado num bom sentido, como uma qualidade, quase como uma ironia. (...)

É uma perda brutal para todos nós, e fico com raiva e vergonha dessa violência.

Demorará para passar.

Há muito tempo não sentia uma dor tão grande."

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Raphael Falavigna/Folha Imagem

com Folha de S.Paulo

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