segunda-feira, 7 de março de 2011

RIO VOLTA A SER A "CIDADE MARAVILHOSA", E REVERENCIA UM DOS SEUS MAIS ILUSTRES CARNAVALESCOS: CLÓVIS BORNAY

Para mim, é uma alegria ver que a cidade do Rio de Janeiro - ao menos nessa época de carnaval - voltou a ser a "Cidade Maravilhosa", a cidade brasileira mais conhecida do mundo, a cara do Brasil.

A cidade está alegre, coalhada de blocos e fantasiados por toda a parte, e os bailes luxuosos estão de volta com todo o glamour merecido.

E é realmente uma pena que uma das figuras mais conhecidas do carnaval carioca não está mais aqui para ver tudo isso.

Nascido em Nova Friburgo em 1916, aos 21 anos Clóvis Bornay estreou no Municipal com a fantasia “Príncipe Hindu”, vencendo o concurso de fantasias no Teatro Municipal carioca, idealizado por ele mesmo naquele ano - 1937.

Fotos: DivulgaçãoBornay em 1937, como "Príncipe Hindu"

Museólogo por profissão, mas carnavalesco de corpo e alma, por mais de 60 anos Bornay participou deste desfile, até ser considerado “hors concours” pela organização do evento, e se aposentar, aos 84 anos.

Aqui, Bornay encarna um fauno

Nos anos 60 e 70, Clóvis Bornay também se dedicou ao Carnaval de rua, e exerceu o cargo de carnavalesco no Salgueiro, na Mocidade Independente de Padre Miguel e na Portela, onde foi campeão em 1970 com o enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”.

O luxo, a pesquisa histórica e o requinte eram marcas das criações de Bornay

Criança, adorava ver os desfiles de fantasias, e acompanhava tudo com meus olhos de menino, deslumbrado e boquiaberto com cada nova e exuberante criação, não só de Bornay, mas também do seu "eterno rival" Evandro de Castro Lima, que também já nos deixou - rivalidade de mentirinha, os dois eram amigos e muitas vezes colaboravam, um com a fantasia do outro.

Cada fantasia de Bornay chegava a pesar 60 quilos

O genial cineasta Gláuber Rocha percebeu o potencial da figura de Clóvis Bornay e o escalou para um de seus principais filmes, "Terra em Transe" (1967), onde contracenou com o ator Paulo Autran - Bornay também atuou em "Independência ou Morte" (1972).

Bornay era museólogo-chefe do Museu Histórico Nacional.
Culto, elegante, simpatissíssimo e sempre com um sorriso nos lábios, era reverenciado no bairro de Copacabana, onde sempre morou.

A fama também o levou a ser jurado de televisão, nos programas de Chacrinha, Flávio Cavalcanti e Silvio Santos.

Bornay foi o responsável por criar um comércio específico de carnaval, com pedrarias, penas, plumas e outros adereços, hoje comuns em qualquer escola de samba

Em 1996, a Assembléia Legislativa do Rio concedeu-lhe a medalha Tiradentes, dada a personalidades de relevância cultural para a cidade.

Agora, após alguns anos sem o evento, os amantes do carnaval de luxo poderão dar ainda mais brilho às suas fantasias, e desfilar pelo Armazém 4 do Píer Mauá durante os Bailes Devassa.

Com a apresentação de Rogéria e Miéle, a competição marca a volta do requinte e elegância do carnaval, assim como propõem os Bailes.

Felizmente, o Brasil parece que começa ser um país com memória, e, desde o último dia 19.2, está em cartaz no Centro Municipal de Referência da Música Carioca a exposição “Abram Alas Para Clóvis Bornay”, em homenagem ao carnavalesco - Bornay morreu em 9 de outubro de 2005, aos 89 anos.

Essa fantasia do rei Sol Luiz 14, tinha mais de 6.500 penas e plumas de tamanhos variados

A mostra vai até 17 de abril, expõe 10 fantasias pertencentes ao acervo do Museu da Cidade, e vai apresentar um pouco da história do criador do tradicional Baile de Gala do Theatro Municipal, que dedicou 77 anos de sua vida à maior festa popular da terra.

“As fantasias dele eram obras-primas e estavam todas fechadas em uma caixa. Achei que aquele material tinha que ser recuperado e exibidos para a sociedade”, disse Neko Pedrosa, curador da exposição.

Quem for no Centro Municipal de Referência da Música Carioca, poderá apreciar fantasias como Príncipe Alican, Pavão Misterioso, Dalai Lama, Cometa Halley, Drácula, Azul e Preto e Sol da Meia Noite.
“Sempre fiquei muito impressionado com a qualidade e criatividade das roupas. é mais impactante, ainda, ver as roupas de perto”, afirmou Pedrosa.

A exposição traz ainda fotos, medalhas, rascunhos de desenhos e um minidocumentário contendo depoimentos das filhas adotivas de Clóvis, e alguns áudios das marchinhas que ele cantou nos anos 60 e 70.

Desenho de uma fantasia de "Duquesa", feito por Bornay e que está na exposição

Para carnavalescos ou não, e para os amantes do Rio alegre como eu, é uma exposição simplesmente imperdível.

“ABRAM ALAS PARA CLÓVIS BORNAY”
Período:
De 19/2 a 17/4.
Dias e Horários: De terça a sábado, das 10h às 17h
Onde: Centro Municipal de Referência da Música Carioca
Endereço: Rua Conde de Bonfim, 824 – Tijuca. Tel.: 0/xx/21/ 3238-3831)
Quanto: entrada gratuita

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