segunda-feira, 28 de março de 2011

"BAILARINA DE 14 ANOS" FAZ VOLTA TRIUNFAL AO MASP


Ela tem os olhos entreabertos, os braços alongados atrás das costas e os pés na quarta posição, e, para mim, é uma das obras de arte mais impactantes que eu já tive o prazer de ver.


É como se a "Bailarina de 14 Anos" - obra de 1880 do artista francês Edgar Degas se preparasse, na coxia de um teatro, para entrar no palco e dançar.


Depois de passar dois anos e meio numa turnê mundial, minha escultura favorita está de volta à sua casa - o Museu de Arte de São Paulo, o Masp.


Ela tem algumas irmãs gêmeas pelo mundo - mas está sozinha aqui no Brasil - e passou por museus de Hamburgo, Madri e fez algumas paradas nos Estados Unidos antes do retorno triunfal, como peça central no museu da avenida Paulista.


É uma obra de arte ímpar: a rugosidade do bronze do corpo e do corpete contrasta com a leveza do tecido da saia e do laço que amarra seus cabelos.


Degas retoma aqui pouco da estética impressionista que cunhou em seus numerosos quadros de bailarinas, deixando aflorar um realismo um tanto anacrônico no retrato da pequena dançarina.


Não há desvios no traço, o rosto é preciso, as mãos e as pernas firmes no bronze, como se fossem carne congelada, longe das pinceladas difusas das telas do artista.


Isso talvez pela obsessão que nutria pela figura dessa garotinha: Marie van Goethem, que chegou a dançar na Ópera de Paris, serviu de modelo para a escultura, mas historiadores encontraram no ateliê do artista inúmeros esboços em giz e carvão da mesma menina em poses diferentes, uma delas até nua.


Degas entra no balaio do conjunto de esculturas do museu como representante da obsessão pela matéria, que pautou a escultura moderna.


Na mesma linha, no acervo do museu estão obras de Francisco Stockinger, que constrói um casal de contornos esmaecidos, a dissolução da forma, ou Caciporé Torres, com um trabalho que lembra escombros naufragados, a forma toda bruta.



Divulgação/MASP

'


A obra "Bailarina de 14 Anos", do artista francês Edgar Degas, que retornou ao Masp


Mas a arte da escultura em suas diferentes parece vir da oposição entre a "Vênus" de Renoir e o "Bicho Alado" do brasileiro Emanoel Araújo.


São duas figuras em metal negro, a primeira em bronze e a outra em aço.


Se Renoir cria uma mulher lustrosa, figurativa, rejeita o entorno, numa frequência alternativa, obcecado pela própria perfeição e suas curvas hiperbólicas, Araújo abstrai qualquer contorno orgânico de seu bicho, construindo um vulto enorme que exalta não a subjugação da matéria à forma representada, mas o triunfo dessa matéria sobre os anseios do artista, vencido pela potência do aço rígido.


É uma briga que a abstração parece ter vencido até agora, pelo menos até que apareça outra Vênus.


Foi realmente uma exposição de esculturas acima da média a que foi até ontem - mas as esculturas agora estão expostas, espalhadas pelo acervo do Masp, o que sempre vale uma visita.


MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO

Dias e horários: de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h

Endereço: av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/ 3251-5644)

Quanto: R$ 15 - às terças, o acesso é gratuito

Nenhum comentário:

Postar um comentário