sexta-feira, 18 de março de 2011

"CÓPIA FIEL" É UM KIAROSTAMI DE PRIMEIRA, ONDE BRILHA A ESTRELA DE JULIETTE BINOCHE

Refletindo uma preocupação presente ao longo da própria obra do diretor - e de outros cineastas iranianos -, em "Cópia Fiel", Abbas Kiarostami monta um ótimo jogo de verdades e mentiras de um casal - a Diva francesa Juliette Binoche e o cantor lírico britânico William Shimell, em sua estreia no cinema.

A verdadeira natureza do relacionamento destes dois é uma das chaves da descoberta da história, cheia de nuances, climas e evocações.

Filmado na sempre maravilhosa Toscana, o filme é intimista, pulsante nos rostos de seus atores e o uso do discurso amoroso - em inglês, o francês e o italiano - é movido pelas chamas, ora amortecidas, ora vibrantes, da maturidade.

DivulgaçãoJuliette Binoche e William Shimell, em cena do filme

Nas primeiras cenas, vemos o escritor James Miller - Shimell - chegando a uma cidadezinha italiana, para uma palestra sobre seu novo livro sobre arte, que se chama... "Cópia Fiel".

A partir de detalhes aparentemente banais, evidencia-se um dos temas do filme, sobre as contínuas interrupções do discurso - qualquer que seja - como quando a apresentação de Miller é interrompida pelo toque de seu próprio celular e pela entrada de uma espectadora atrasada - Binoche - e seu filho - Adrian Moore.

Ela se senta entre os lugares reservados na plateia, e cochicha com o tradutor do livro, ao seu lado, mostrando aparentemente que ela é íntima do escritor - mais tarde, uma conversa com o filho dá a pista de que, na verdade, ela procura essa intimidade.

Quando Miller e ela finalmente se encontram - na loja de antiguidades dela - eles parecem na verdade estranhos, que podem ou não querer se conhecer.

Sem querer estragar o jogo da narrativa, o relacionamento entre os dois atravessa vários climas, da tentativa de sedução ao compartilhamento de lembranças e sensações, e é como se estes dois tivessem vivido algumas vidas diferentes e, em algumas, se encontrado, noutras, se perdido - sem que isso acarrete nada de sobrenatural, apenas experiências diversas ao longo dos anos.

Além da natureza instável do amor, o filme aborda outros temas - o que dá nome à obra, em torno da importância da discussão sobre o que é autêntico ou falsificado, e o valor, relativo ou absoluto, das muitas cópias encontradas no mundo da arte.

Nesta discussão, é envolvido inclusive um casal de passagem.
Justamente quando procura cooptá-los a favor de seus argumentos, a protagonista encontra no passante ocasional um intérprete ideal do que está, emocionalmente, tentando dizer a Miller - sem que este a entenda, independentemente da língua que ela fale.

Essas várias línguas que se sobrepõem são o símbolo vivo das várias camadas de incompreensão que podem se acumular entre as pessoas nesta Babel que não é só linguística, mas sobretudo emocional e amorosa, e os vários casais que aparecem no filme - os jovens noivos apaixonados que posam para uma foto junto a uma estátua que acreditam dar sorte; o par maduro que conduz o filme; e uma dupla de velhinhos que eles encontram perto do final - todos se somam como retratos dos vários tempos do amor.

Essa maneira circular de expor seu tema é o grande segredo da magia do filme, que demonstra a inspirtação rara de sua direção, e de sua dupla principal de atores, conduzindo-se esta espiral de sensações com inteligência e sutileza exemplares.

Não é o tipo do filme que se vê todos os dias, mas é certamente o tipo que se deseja imediatamente rever.

Juliette Binoche, resplandescente, mostra aqui todo merecimento pelo prêmio de Melhor atriz que ganhou no Festival de Cannes 2010.

Confira o trailer do filme:


*****
"CÓPIA FIEL"
Título original:
Copie conforme
Diretor: Abbas Kiarostami
Produção: MK2 Diffusion
Elenco:
Juliette Binoche
William Shimell
Gênero: Drama
Duração: 106 min.
Ano: 2010
Data da Estreia: 18/03/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
País: França, Itália, Irã
COTAÇÃO DO KLAU:

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