quinta-feira, 10 de agosto de 2017

'O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS': REMAKE DE SOFIA COPPOLA É DELICADO, BEM DIRIGIDO E INFINITAS VEZES MELHOR QUE O ORIGINAL


SINOPSE:

Estado americano da Virginia, 1864, três anos após o início da Guerra Civil.

John McBurney (Colin Farrell) é um cabo da União que, ferido em combate, é encontrado em um bosque pela jovem Amy (Oona Laurence).

Ela o leva para a casa onde mora, um internato de mulheres gerenciado por Martha Farnsworth (Nicole Kidman).

Lá, elas decidem cuidá-lo para que, após se recuperar, seja entregue às autoridades.

Só que, aos poucos, cada uma delas demonstra interesses e desejos pelo único homem da casa, especialmente Edwina (Kirsten Dunst) e Alicia (Elle Fanning).

CRÍTICA:

Lançado em 1971, 'O Estranho que Nós Amamos' surpreendeu por trazer uma certa virada psicológica ao trabalho habitual dos parceiros Don Siegel e Clint Eastwood.

Situado em plena Guerra Civil americana, o longa abordava sem muita sutileza questões como o desejo e a culpa, através de personagens femininos um tanto quanto caricatos e até por isso e em meio a muitas situações machistas, existia uma certa curiosidade em ver como esta mesma história seria agora refilmada por uma diretora mulher.

O resultado é que o remake 'O Estranho que Nós Amamos', que estreia hoje em 66 salas em todo o Brasil, foi um dos longas mais aplaudidos no 70º Festival de Cannes, em maio último.

É que Sofia Coppola optou pela saída mais correta, ao deixar de lado o longa dirigido por Siegel e focar no material original, o livro escrito por Thomas Cullinan.

Com isso, a diretora e também roteirista fez uma limpeza na história, tirando o beijo do personagem principal em uma garota de 13 anos, a subtrama do irmão falecido e, principalmente, a ideia do personagem masculino como um 'macho alfa', deixando todas as mulheres - e animais - no cio.

O Estranho que Nós Amamos : Foto Colin Farrell, Kirsten Dunst
Colin Farrell e Kirsten Dunst em cena: tesão à flor da pele - Imagens dessa postagem: Divulgação/Universal Pictures
Se não há nem mesmo Holly, a escrava do internato, vemos as mulheres, gerenciadas por Martha Farnsworth (Nicole Kidman) e o cabo John McBurney (Colin Farrell), o suficiente para mergulharmos numa boa história.

Assim, a diretora manteve o foco da história em cima do desejo e de um certo tom mórbido, construindo um cenário absolutamente gótico onde explora a luz natural em uma belíssima fotografia, com figurinos e direção de arte impecáveis.

A ausência de trilha sonora e a aposta no canto dos pássaros trazem um tom bucólico que combina muito bem com a ambientação apresentada.

É nesta caracterização geral e na limpeza dos excessos que se pode melhor notar a mão absolutamente leve de Sofia Coppola.

O Estranho que Nós Amamos : Foto Addison Riecke, Angourie Rice, Elle Fanning, Emma Howard, Kirsten Dunst
As mulheres da casa reunidas
A mão da diretora surge também na forma como o cabo John McBurney é retratado.

Se Clint Eastwood investia firme na figura do garanhão, Colin Farrell surge bem mais contido.

O Estranho que Nós Amamos : Foto Colin Farrell, Elle Fanning
Colin Farrell e Ellen Fanning, em cena do longa
Por mais que volta e meia lance seu típico olhar galanteador, ainda assim é algo bem mais sutil e adequado ao momento da narrativa.

Seu relacionamento com cada uma das mulheres do internato soa bem mais fluido e menos esquemático, por mais que, em alguns casos, tenha sido diminuído em relação ao original.

Outro ponto importante é que, desta vez, o foco central não está na sua percepção dos fatos e sim no das mulheres, por mais que sua presença seja o elo condutor da narrativa.

Já no elenco feminino, o destaque absoluto fica por conta da reprimida Edwina, interpretada com competência por Kirsten Dunst.

Em relação ao original, há uma melhor divisão de tempo de tela para todas as mulheres do elenco, por mais que isto tenha diminuído as participações de Elle Fanning e, especialmente, Nicole Kidman - principalmente devido à retirada da subtrama do irmão.

O Estranho que Nós Amamos : Foto Colin Farrell, Nicole Kidman
Nicole Kidman e Colin Farrell, em cena do longa
Ainda assim, a matriarca tem seu espaço também na representação do desejo, no tesão escancarado pelo corpo ainda bem torneado de Farrell.

Enxuto e bem executado, temos aqui uma espécie de versão melhorada e politicamente correta do longa-metragem lançado em 1971.

Se por um lado possui vários méritos técnicos, que podem lhe render algumas indicações no próximo Oscar, por outro soa como um filme menor dentro da carreira de Sofia Coppola como autora.

Não há aqui ousadia ou uma maior profundidade, apenas um trabalho bem feito na recriação de uma história já conhecida - o que, por si só, é suficiente para tornar esta nova versão infinitas vezes melhor que o preconceituoso filme original - que aliás, está disponível no You Tube pelo módico preço de R$ 3,90.

Melhor estreia da semana, disparado.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
'O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS'
Título Original:
THE BEGUILED
Gênero:
Suspense
Direção:
Sofia Coppola
Roteiro:
Albert Maltz, Irene Kamp, Sofia Coppola, Thomas Cullinan
Elenco:
Addison Riecke, Colin Farrell, Elle Fanning, Emma Howard, Eric Ian, Joel Albin, Kirsten Dunst, Matt Story, Nicole Kidman, Oona Laurence, Wayne Pére
Produção:
Sofia Coppola, Youree Henley
Fotografia:
Philippe Le Sourd
Montador:
Sarah Flack
Trilha Sonora:
Laura Karpman, Phoenix
Duração:
93 min.
Ano:
2017
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia:
10/08/2017 (Brasil)
Distribuidora:
Universal Pictures
Estúdio:
American Zoetrope / FR Productions
Classificação:
14 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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