domingo, 20 de agosto de 2017

RIP - JERRY LEWIS: SIMPLESMENTE, O REI DA COMÉDIA


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Para mim, Jerry Lewis era e sempre será o maior comediante de todos os tempos
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Dias difíceis para os fãs do cinema e da TV.

Se ainda estávamos nos recuperando das recentes mortes do 007 Sir Roger Moore e do Batman Adam West, hoje perdemos o que, para mim, era o maior comediante de todos os tempos;

O ator, cantor e diretor Jerry Lewis morreu em sua casa em Las Vegas, aos 91 anos, de causas naturais e rodeado por sua família às 9h15 (13h15 de Brasília) deste domingo.

Entre junho e agosto deste ano, ele ficou hospitalizado para tratar de uma infecção urinária.

Ainda não há informação sobre o que levou à morte do comediante.

Jerry Lewis era o nome artístico de Joseph Levitch, que nasceu em Newark, New Jersey, em 16 de março de 1926, numa família de judeus russos.

Seu pai, Daniel Levitch, era mestre de Cerimônias e ator de vaudeville e usava o nome Danny Lewis como nome artístico.

Sua mãe, Rachel "Rae" Brodsky, era pianista de uma rádio.

Lewis começou a atuar aos cinco anos, e aos quinze tinha descoberto o seu talento, em que consistia em dublar canções em um fonógrafo.

Primeiramente, ele iria usar como nome artístico o nome "Joey Lewis", mas depois acabou mudando para "Jerry Lewis" para evitar confusões com o nome de outro comediante, Joe E. Lewis, e com o do campeão de boxe, Joe Louis.

Um dos maiores comediantes da história, em 1946 Lewis virou estrela, graças a parceria com Dean Martin, naquela que se tornou uma das duplas mais famosas do humor americano em todos os tempos.

Dean Martin era o 'elegante' da dupla, especialmente quando cantava, enquanto Jerry Lewis exercia o papel do 'parceiro trapalhão'.

Os espetáculos da dupla, realizados nos principais night-clubs americanos, eram totalmente abertos à improvisação.

Além de terem feito sucesso em casas de shows, a dupla também emplacou fazendo filmes para a Paramount Pictures.

Após dez anos de sucessos demolidores nos teatros e no cinema, graças a filmes como "O Marujo foi na Onda" (1952) e "O Rei do Laço" (1956), em 24 de julho de 1956,  Dean Martin e Jerry Lewis fizeram o último espetáculo como dupla no clube Copacabana, em Nova York.

Uma das mais profícuas parcerias do show biss americano acabava ali, depois de muitas brigas – e ficaram muitos anos sem se falar.

Só reataram a amizade em 1976, quando Martin entrou de surpresa, ao vivo, no palco em Las Vegas onde Lewis apresentava o Teleton, programa beneficente anual do Dia do Trabalho para a Associação de Distrofia Muscular, que ele criou e começou a apresentar em 1952.

Jerry Lewis no Teleton de 1990, em Los Angeles - Julie Markes/AP 

A aposentadoria do Teleton só veio em 2011.

O reencontro entre Lewis e Martin em 1976 foi feita de surpresa e planejada por Frank Sinatra, amigo dos dois.

No livro  'Dean & Me: A Love Story', publicado em 2005, Lewis conta a sua amizade com Martin.

A dupla finalmente se reconciliou, em 1987, após a morte do filho de Martin, Dean Paul Martin e se reuniram novamente em Las Vegas, quando Sinatra fez uma surpresa para Jerry em seu aniversário, apresentando na ocasião uma participação de Dean Martin, que morreu em 1995.

Jerry Lewis (direita) e Dean Martin se reencontram no Teleton em Las Vegas em 1976 - Associated Press

Depois da separação da dupla, Lewis continuou suas apresentações em clubes noturnos, na televisão e no cinema.

Na Paramount, se tornou um artista de primeira linha já com o seu primeiro filme solo, 'O Delinquente Delicado', de 1957 e começou uma parceria com o diretor Frank Tashlin, que trabalhava com a série de desenhos Looney Tunes da Warner.

Lewis partiu para um novo tipo de comédia nos filmes de Tashlin - os dois fizeram mais cinco filmes juntos, incluindo uma participação especial de Lewis em 'Li'l Abner', de 1959.

Lewis quis mostrar que também sabia cantar, lançando o álbum 'Just Sings' em 1957, que contava com os hits "Rock-a-Bye Your Baby with a Dixie Melody" (canção associada com Al Jonson e mais tarde re-popularizada por Judy Garland) e "It All Depends on You".

Ao longo de cinco décadas de carreira, Jerry estrelou mais de 50 filmes, entre eles “O Marujo foi na Onda” (1952) e “O Rei do Laço” (1956).

O filme mais famoso de sua carreira, porém é a  estupenda comédia “O Professor Aloprado”, de 1963.

Baseada na novela de terror 'O Médico e o Monstro', de Robert Louis Steveson, a trama sobre um homem que muda de personalidade ao beber uma fórmula ganhou uma versão absolutamente  leve contemporânea nas mãos de Lewis.

Confira algumas cenas:


Protagonizado e produzido por ele, o longa conta a história do atrapalhado professor universitário Julius Kelp, que depois de ser humilhado por alunos e quase demitido da instituição de ensino pelas constantes trapalhadas em que se envolve, Kelp cria uma fórmula que o faz ser elegante, charmoso e bom de papo.

Nasce então Buddy Lee, um galã absolutamente irresistível.

Confira a cena em que Buddy aparece pela primeira vez:


O filme ganhou uma nova versão na década de 1990, quando Eddie Murphy viveu o professor aloprado.

Jerry Lewis (ao centro) com Tom Hanks (esquerda) e Steve Martin durante exibição especial de 'O professor aloprado' em Hollywood, em 2004 - Fred Prouser/Reuters

Seu último filme, lançado no ano passado, foi "A Sacada", em que faz um papel secundário.

O último como protagonista foi "Max Rose", de 2013, o primeiro em que ele fez o papel principal desde "Rir é Viver", de 1995.

No longa, ele interpreta o viúvo Max Rose, que, ao mesmo tempo em que sofre com a perda da esposa Eva (Claire Bloom), investiga uma descoberta que pode acabar com as certezas adquiridas após muitos anos de casado – a mulher o traía.

Veja trailer:


Lewis mostrava, assim, que poderia ser também o rei do drama – e arrebentou.

Jerry Lewis divulga o filme 'Max Rose' em Cannes em 2013 - Regis Duvignau/Reuters

Já o antepenúltimo trabalho de Jerry como ator foi no filme brasileiro "Até que a Sorte nos Separe 2", em que trabalhou com Marcius Melhem e Leandro Hassum.

Na época das filmagens, o ator estava com 87 anos e fez uma ponta como um funcionário do hotel-cassino onde Tino (Leandro Hassum) e sua família vão se hospedar em Las Vegas – o papel é uma referência a outro grande filme estrelado pelo comediante, 'O Mensageiro Trapalhão' (The Bellboy, 1960).

Leandro Hassum e Jerry Lewis contracenam em 'Até que a sorte nos separe 2' - Reprodução/TV Globo

Foi com 'The Bellboy', que teve o Fontainebleu Hotel de Miami como cenário, que Lewis estreou como diretor.

Com pouco orçamento,  quase nenhum roteiro e filmagens feitas às pressas, com Lewis trabalhando com o filme de dia e fazendo suas apresentações por lá mesmo à noite, o filme, além de ser excepcional, foi um marco na técnica de como se fazer cinema.

Com Bill Richmond o ajudando com o roteiro durante as filmagens, Lewis usou a técnica em usar câmeras e circuitos monitores, o que ajudava em poder rever a suas cenas após de terem sido rodadas.

Mais tarde, incorporando o videotape e com o equipamento ficando mais portátil e disponível, essa técnica passou a ser chamada de 'vídeo assist', usada por todos os diretores desde então.

Veja Lewis em ação em 'The Bellboy':


Outro grande trabalho do ator foi o filme “O Rei da Comédia”, de 1983, dirigido por Martin Scorsese.

No filme, Lewis é Jerry Langford, um comediante de sucesso que possui um programa de TV no qual dá oportunidade a jovens humoristas de talento.

A caminho do trabalho, ele é sequestrado por Rupert Pupkin (Robert De Niro), que só o libera em troca da participação em seu programa.


Confira Lewis e De Niro em ação:



Na televisão, Lewis teve três programas chamados 'The Jerry Lewis Show': o primeiro foi em 1957 na NBC, o segundo foi em 1963 na ABC - foi um fracasso de audiência e cancelado 13 semanas depois - e o terceiro em 1967 na NBC novamente.

Em 1984, Lewis teve o seu próprio talk show , que durou somente cinco semanas.

Na década de 1970, seus personagens populares foram transformados em desenho animado.

 'Will the Real Jerry Lewis Please Sit Down?' era um desenho da Filmation, foi transmitido pelo canal ABC em 1970 e teve somente 18 episódios, com David Lander ('Laverne & Shirley)' fazendo a voz de Lewis.

Confira a abertura e o encerramento dos episódios da animação:


Lewis ganhou grande popularidade na Europa, era constantemente aclamado por alguns críticos franceses da revista Cahiers du Cinéma por sua comédia escrachada, em parte também por ter tomado controle da maioria de seus filmes, comparável a Howard Hawks e Alfred Hitchcock.

Em março de 2006, o Ministério da Cultura da França premiou Lewis com a Légion d'Honneur, a maior condecoração francesa, nomeando-o como "o palhaço favorito dos Franceses".

Jerry Lewis em prêmio de comédia em 1998, em Los Angeles - Reuters

Se Lewis ganhou vários prêmios como o Golden Camera, o Los Angeles Film Critics Association e o Festival de Veneza, nunca venceu um Oscar.

Não por conta do seu enorme talento, mas por conta de sua filantropia, Lewis recebeu em 2009 da Academia de Hollywood o Prêmio Humanitário Jean Hersholt, que premia personalidades por suas contribuições humanitárias.

Além dele, nomes como Charlton Heston, Oprah Wingrey, Debbie Reynolds e Frank Sinatra receberam a distinção.

Além de influenciar gerações inteiras de comediantes e ser um ícone do riso, Jerry também conduziu outras causas humanitárias além do Teleton.

Por seu trabalho nessa área, Lewis chegou a figurar na lista dos candidatos ao Nobel da Paz em 1977.

A importância do comediante é tão grande que ele conta com duas estrelas na Calçada da Fama de Hollywood – uma por conta de sua contribuição para televisão e outra pelo cinema.

Estrela de Lewis por sua contribuição ao cinema, na calçada da fama em Hollywood - Variety
A última apresentação de Lewis nos palcos ocorreu no hotel South Point, em Las Vegas, em outubro de 2016.

A cidade, conhecida por seus muitos cassinos, era o lugar onde o gênio morava nas últimas décadas.

Apesar de morrer com 91 anos, o gênio teve muitos problemas de saúde durante sua vida.

Lewis sofreu por anos de dores nas costas, decorrentes de uma queda que quase o deixou paralisado durante uma apresentação no Sands Hotel, em Las Vegas em 1965.

Acabou se viciando em Percodan, para aliviar a dor, mas dizia que desde 1978 estava longe dos remédios.

Em abril de 2002, Lewis passou por uma cirurgia para implantar um neuroestimulador  da marca Medtronic para reduzir o desconforto e as dores crônicas que sentia e tornou-se um dos porta-vozes da empresa.

Em dezembro de 1982, ele tinha sofrido um sério ataque cardíaco e um menos grave anos depois, em 2006, enquanto voava de Nova York para Los Angeles.

Nesta época foi descoberto que Lewis tinha desenvolvido um quadro de pneumonia e também foi constatado que ele tinha um coração frágil.

Ele passou por um cateterismo cardíaco e dois stents foram colocados em uma de suas artérias, que estava 90% bloqueada.

A cirurgia foi um sucesso, mas isso repercutiu em problemas posteriores.

O cateterismo fez com que Lewis cancelasse vários compromissos, mas a sua recuperação foi ótima.

Em 1999, sua tour na Austrália foi cancelada quando Lewis foi hospitalizado em Darwin com meningite viral.

Ficou doente por mais de cinco meses.

A imprensa australiana, na época, afirmara que Lewis tinha se recusado a pagar seu tratamento, mas Lewis afirmou que a confusão com o pagamento foi culpa do seu plano de saúde.

Todo esse problema fez com que Lewis processasse a sua seguradora.

Lewis combateu um câncer de próstata, diabetes, e fibrose pulmonar.

O tratamento com Prednisona contra a fibrose pulmonar fez com que Lewis ganhasse peso, mudando totalmente a sua aparência.

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Lewis, inchado pelo uso de Prednisona contra a fibrose pulmonar - AP
Em setembro de 2001, Lewis ficou sem condições de aparecer em um evento beneficente produzido pelo comediante Steve Alan Green no London Palladium.

Alguns meses depois, Lewis se submeteu a uma longa reabilitação, que o impediu de voltar a trabalhar.

Em 12 de junho de 2012, ele foi tratado no hospital após um episódio de hipoglicemia no evento Frades' Club, em Nova York.

Este episódio de saúde fragilizada obrigou-o a cancelar um espetáculo em Sydney, Austrália.

Segundo o jornalista, publicitário e escritor Carlos Castelo, esta é a melhor entrevista que Jerry Lewis concedeu.

Assista:


Lewis casou-se duas vezes.

O primeiro casamento foi com Patti Palmer (nome artístico de Esther Calonico), cantora que tinha trabalhado com Ted Fio Rito e depois com Lewis quando os dois se conheceram.

Lewis só foi trabalhar solo e depois com Dean Martin, quando Palmer ficou grávida do primeiro filho.

O casal casou-se no dia 3 de outubro de 1944 e separou-se em setembro de 1980.

Sua segunda esposa foi SanDee Pitnick.

Casaram-se no dia 13 de fevereiro de 1983 - Lewis na época tinha 56 anos - em Key Biscayne, na Flórida.

À época, SanDee tinha 32 anos e era dançarina.

Lewis teve seis filhos no primeiro casamento, e uma filha no segundo.


Para finalizar, o gênio num dos seus  mais inspirados momentos - 'O datilógrafo/The Typewritter':




Repercussão:

Lewis foi um modelo a ser seguido para muitos  atores, comediantes e humoristas, que manifestaram tristeza ao saber de sua morte.

"Eu tive a honra de assistir um show dele em Las Vegas e depois tive a honra de contracenar com ele", afirmou Marcius Melhem à GloboNews.

"Foi um dos dias mais nervosos da minha vida. Nem quando as minhas filhas nasceram fiquei tão nervoso", disse Melhem.

"Foi muito emocionalmente passar o dia com ele, gravar, filmar. Eu estava eufórico, emocionado, tentando fazer tudo direitinho."

Leandro Hassum, dupla de Melhem e que tem um autógrafo de Lewis tatuado no braço, também lamentou morte do ídolo.

"O céu está cada vez mais incrível", postou no Twitter.

“Condolências para família de Jerry Lewis. O muito está menos engraçado hoje”, disse William Shatner, o Capitão Kirk da série  clássica 'Star Trek'.

“Perdemos um grande comediante e um coração maior ainda. Obrigado pelas risadas e pelos sentimentos, Jerry Lewis” ,  escreveu George Takei, o Sulu da série original de 'Star Trek'.

“Perdemos um dos maiores hoje... possivelmente o maior de todos. Jerry Lewis era um dos meus heróis da comédia e uma inspiração gigante para mim. Agradeço muito por ter compartilhado experiências com ele RIP”, escreveu Sean Hayes, ator conhecido por 'Will & Grace' e que interpretou Lewis no drama 'A Verdadeira História de Martin & Lewis', de 2002.

“Jerry Lewis somou muito para minha família. Fez muitos filmes com minha mãe & fez filmes com Janet e Tony. Ele fez eu e muitos outros rir”,  escreveu a atriz Jamie Lee Curtis.

“Um dos maiores de todos os tempos. Lenda. Um showman. Um ícone da comédia. Uma estrela do cinema. Um ativista. Único. RIP”, escreveu  Josh Gad, comediante e a voz americana de Olaf de 'Frozen'.

“Esse tolo não era um bobo. Jerry Lewis era um gênio indiscutível, uma benção inegável, a comédia absoluta. Eu existo porque ele existiu!”,  disse outra lenda da comédia, Jim Carrey.








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