quinta-feira, 24 de agosto de 2017

'BINGO - O REI DAS MANHÃS': CONFIRA ENTREVISTAS COM VLADIMIR BRITCHA E DANIEL REZENDE

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Protagonista e diretor da cinebiografia do mais famoso Bozo falam sobre o longa
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'Bingo - O Rei Das Manhãs' chega hoje aos cinemas, para contar a história de um ator que encontra alegria e frustração no papel do palhaço Bingo, sucesso absoluto das manhãs na TV brasileira.

A trama, inspirada em Arlindo Barreto, o mais famoso intérprete do palhaço Bozo, não teria o mesmo impacto sem a atuação inspirada de Vladimir Brichta, com quem o site Cineclick conversou.

"HOJE EU SOU UM PALHAÇO' - DIZ VLADIMIR BRICHTA

Indicado por seu amigo Wagner Moura, preferido para viver o protagonista, Vladimir conta como surgiu o convite:

"Nos encontramos, eu estava com o Lazinho (Lázaro Ramos) e Wagner disse: 'Tem um filme que não vou poder fazer. É um dos melhores roteiros que já li e um de vocês dois tinha que fazer'. Então quando o Daniel (Rezende) entrou em contato e já sabia que era interessante. Quase não fiz por causa de uma série de TV, mas deu tudo certo", explica.

Cena de Bingo
Brichta em cena como Bingo - Warner Bros.
Tem três elementos que o motivaram a fazer o filme:

"A relação do personagem com filho e a mãe, a luta pelo sucesso sob o ponto de vista do ator e a história do palhaço triste. É como se perguntar por que Robin Williams se matou. É um cara que faz a alegria das pessoas e tem um lado tão sofrido e desajustado. O palhaço é uma super projeção da alegria, mas pode se afundar na tristeza e inquietação. Isso me interessa e está no filme de forma rica".

Sobre inspiração, buscou em outro personagem polêmico do cinema: Jordan Belfort.

"O Lobo De Wall Street foi um filme referência, pois se passa nos anos 80 e também lida com drogas e poder. Bingo mostra que a fama muda drasticamente a forma como o mundo vê qualquer pessoa. Isso nos afeta e é difícil lidar com essas transformações. No caso de Bingo, ainda tem a ambiguidade de ser famoso e ao mesmo tempo desconhecido".

O filme retrata o distanciamento de Arlindo com o filho e Vladimir relembra que pessoalmente já sofreu com isso, quando teve que lutar na justiça pela guarda da filha.

"Briguei pela guarda da minha filha por muito tempo e estive ausente. Isso afetou muito minha vida, fui motivado pelo desejo de estar próximo e ser um pai presente".

Sobre esse distanciamento entre pais e filhos, voltou a lembrar de um momento pessoal.

"Me lembro quando um diretor de teatro me encontrou logo após a mãe da minha filha ter falecido. Ele perguntou 'como é que está a sua filha?'. Eu estava fazendo um monte de peças e a Agnes estava passando um tempo com a minha mãe e falei: 'ah, ela está com minha mãe, num sítio, muito legal.', comecei a falar, mas ele me disse: 'Legal pro filho é estar do lado do pai'. Senti um baque e nunca esqueci disso. A questão pai e filho sempre foi muito relevante nas minhas escolhas", explica.

A participação de Domingos Montagner, morto há exato um ano, no papel do palhaço Aparício, se tornou um momento melancólico de 'Bingo'.

"A presença dele foi uma forma de ajudar um palhaço mais novo a se encontrar. É um paralelo com a história do filme. Ver o Domingos atuando é tocante", explica.

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Montagner é o palhaço Aparício no longa - Warner Bros.
Domingos e o amigo Fernando Sampaio, com quem criou o grupo circense LaMínima, trabalharam também como consultores da produção:

"Tem muito dele no filme e ele ajudou muito. Já o Fernando foi o cara que me preparou para o personagem e me ajudou a desvendar o mistério que é ser um palhaço. Eu tinha pudor de dizer que era um palhaço, venho de um universo acadêmico e respeito muito as pessoas que estudam muito. Eu fazia minhas palhaçadas desde sempre, já me vesti de palhaço e tinha um timing, mas tinha medo de me assumir palhaço, ainda que já pagasse as contas com humor. Hoje sou um palhaço", finaliza Brichta.

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Ator e diretor, em dia de entrevista á rádio - Jovem Pan
DANIEL REZENDE - DIRETOR DIZ QUE FORMAÇÃO DE MONTADOR O AJUDOU 

'Bingo - O Rei Das Manhãs' é o primeiro longa de Daniel Rezende, famoso pela edição de 'Robocop' e 'Cidade De Deus'.

Na entrevista ao Cineclick, Daniel contou como entrou para o projeto:

"Dan Klabin, um dos produtores do filme, me apresentou uma matéria numa revista sobre a vida de Arlindo Barreto [o ator por trás do palhaço Bozo], dizendo que era uma história incrível e que poderia dar um excelente filme. Ao ler a matéria, liguei para ele e perguntei: 'Já temos os direitos?'", conta.

O cineasta falou ainda sobre a sua transição de montador para diretor e comentou as dificuldades enfrentadas:

"O montador tem que ter uma visão artística, sensorial e muita precisa sobre como colocar as cenas juntas pra criar um filme. É um cocriador do filme, mas precisa da visão e o caminho apontado pelo diretor", explica.

Daniel Rezende dirige Bingo
Rezende em ação - Warner Bros.
"Seguramente, minha experiência como montador me ajudou muito nessa transição. Ter uma boa noção de quais partes do material filmado poderei usar na montagem vale como ouro no set de filmagem. Por outro lado, o foco do montador em conseguir aquilo que é preciso no set pode tirar a atenção das melhores coisas que estão acontecendo, que não estavam programadas. O cinema é uma arte orgânica que está em constante mutação e o diretor tem que estar ligado, o tempo inteiro, em tudo o que está acontecendo ao seu redor. Às vezes, aquilo que não é o que o diretor está buscando, é muito melhor do que o que foi ensaiado e planejado. Por isso, o foco do montador, às vezes, pode atrapalhar. O ouro, muitas vezes, tira a atenção dos diamantes. Meu caminho como diretor tem sido encontrar o balanço entre essas duas coisas",  conta Daniel.

O diretor ainda comentou a troca de Wagner Moura por Vladimir Brichta no papel de Bingo:

"Quando Wagner Moura teve que sair do projeto, por conflitos de datas (estava filmando a série 'Narcos', para a Netflix), o Vladimir foi a primeira indicação dele para o papel. Eles são melhores amigos e atores espetaculares. Eu era fã do trabalho do Vladimir, mas não o conhecia pessoalmente. Mandamos o roteiro para ele e nos encontramos. A conexão foi imediata; dele com o filme, minha com ele, dele com o personagem. Fizemos uma longa preparação para o personagem e para o palhaço. Inclusive o colocamos no picadeiro de um circo, sem que ninguém soubesse que era ele. E a plateia delirou de rir!", revela.

Daniel Rezende dirige Bingo
Rezende dirige Brictha e Leandra Leal, numa cena do filme - Warner Bros.
O diretor ainda comentou a morte trágica de Domingos Montagner em 2016, afogado nas águas do rio São Francisco:

"Eu ia mostrar Bingo pela primeira vez ao Vladimir no final de semana seguinte à morte do Domingos e acabamos adiando. Fiquei um mês sem conseguir olhar para o filme e, quando assisti, não conseguia olhar as cenas com ele", comenta.

O ator desejava, inclusive, ter vivido o protagonista.

"Domingos gostaria muito de ter feito o papel, mas existia uma questão de idade que não batia. Eu queria muito que ele estivesse no longa para ter esse registro do Domingos como o palhaço mentor no filme"

E isso realmente aconteceu e serve como bela homenagem ao ator e palhaço.

Por fim, Daniel comentou como foi levar para a telona a história de um apresentador infantil marcada por sexo, drogas e polêmicas:

"O filme, além de contar uma história de vida extraordinária, também fala da nossa cultura pop dos anos 80. O que mais me intrigou nesse filme foi a história humana desse artista que luta para encontrar seu lugar sob os holofotes. Mas situar isso nos bastidores de televisão dos anos 80, com um ícone da infância de toda a minha geração, e brincar com camadas tão paradoxais da vida humana, fez com que esse projeto se tornasse irresistível", finaliza.

Confira o trailer:


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