sexta-feira, 5 de maio de 2017

'A AUTÓPSIA': ABUSANDO DE CLICHÊS, TERROR PATINA E NÃO SAI DO LUGAR COMUM

SINOPSE:

Tommy Tilden (Brian Cox) e Austin Tilden (Emile Hirsch),  pai e filho, são os responsáveis por comandar o necrotério de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos.

Os trabalhos que recebem costumam ser muito tranquilos por causa da natureza pacata da cidade, até que, certo dia, o xerife local (Michael McElhatton) traz um caso complicado: uma mulher desconhecida (Olwen Catherine Kelly) - sempre chamada de "Jane Doe" pelos americanos - foi encontrada morta nos arredores da cidade .

Conforme pai e filho tentam descobrir a identidade da mulher morta, coisas estranhas e perigosas começam a ocorrer, colocando a vida dos dois em perigo.

CRÍTICA:

O terror 'A Autópsia', em exibição em 214 salas em todo o Brasil, é uma improvável fusão de dois subgêneros: a investigação médico-criminal e as tramas de garotas possuídas por forças do mal.

Aqui, o que une os dois é uma mulher desconhecida (Olwen Catherine Kelly), batizada de “Jane Doe” – o feminino para “Zé Ninguém” nos EUA – pelos técnicos legistas encarregados de descobrir as circunstâncias de seu assassinato.

Com uma protagonista morta desde a primeira cena, o roteiro desperta curiosidade pela maneira como pretende desenvolver a gradação do terror.

A apresentação do conflito é a mais simples possível com apenas dois personagens (vivos, pelo menos) durante a maior parte do tempo: o pai Tommy (Brian Cox) e o filho Austin (Emile Hirsch), legistas que trabalham no porão da própria casa.

Brian Cox e Emile Hirsch, em cena do longa - Divulgação/Diamond Films
Para terem alguma complexidade psicológica, o roteiro nos mostra um trauma recente - a perda da mãe e esposa - e quase toda a história se passa neste porão, com os legistas frente ao cadáver misterioso.

Na primeira parte da narrativa, ambos começam investigação, gravando a autópsia, fazendo incisões e retirando órgãos.

A metade inicial é a melhor, por testar os limites do ceticismo dos personagens e também do espectador.

Vários fatores apresentam difícil explicação: como um corpo tão danificado por dentro não teria nenhuma marca externa? De onde viriam as cicatrizes em seus órgãos? Por que ela ainda sangra, se a morte ocorreu há muitas horas?

Os experientes homens de ciência recorrem a teorias raras para justificar cientificamente o caso atípico, momentos em que o roteiro caminha entre o natural e o sobrenatural e se constituem nos pontos fortes do filme.

Pena que o diretor André Ovredal transforma seu suspense num terror padrão e, assim, a segunda metade da trama abandona o jogo das hipóteses racionais e parte para os estímulos comuns do horror de possessões.

Cena do longa
Entram em cena todos os clichês do gênero: figuras assustadoras no fundo do corredor, sombras de pés passando por debaixo da porta, sustos pelo buraco da fechadura, luzes se apagando quando o terror se acentua, símbolos de rituais satânicos, tempestades impedindo a abertura das portas.

Os elementos mais instigantes do início tampouco servem para aprofundar o interesse no projeto: o espaço único, que poderia ser muito bem explorado pela sensação de claustrofobia ou pelos diferentes enquadramentos, é limitado através da filmagem clássica.

Usando o formato scope, Ovredal retrata um dos personagens principais num terço da imagem, e deixa o cenário do necrotério ocupar a outra parte, ao fundo do quadro.

A contradição de ter a fonte do mal presente em cena o tempo inteiro não desperta a tensão esperada e o roteiro não consegue associar os fenômenos ao cadáver no meio da sala - e a própria transformação dos legistas em dois homens apavorados é abrupta demais.

O trauma da perda da mãe e esposa também não serve para tornar os personagens mais complexos nos instantes de horror.

Cena do Longa
“Quem é Jane Doe?”, pergunta o material publicitário e o filme não fornece respostas satisfatórias.

Pouco importa, afinal, a identidade do cadáver, assim como importam muito pouco as personalidades dos legistas.

O projeto é movido por uma dinâmica limitada: um elemento ameaça dois outros, impedidos de fugir.

Um ataque, duas vítimas em potencial.

Como investigação médico-criminal, o resultado decepciona por não apresentar explicação plausível aos elementos descobertos na autópsia e como terror sobre exorcismos, desaponta ao desprezar as causas e consequências da possessão, gastando tempo excessivo na pirotecnia sobrenatural.

Desperdício.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:

'A AUTÓPSIA'
Título Original:
THE AUTOPSY OF JANE DOE
Gênero:
Horror
Direção:
André Øvredal
Roteiro:
Ian B. Goldberg, Richard Naing
Elenco:
Brian Cox, Emile Hirsch, Jane Perry, Mark Phoenix, Mary Duddy, Michael McElhatton, Olwen Catherine Kelly, Ophelia Lovibond, Parker Sawyers
Produção:
Ben Pugh, Eric Garcia, Fred Berger, Rory Aitken
Fotografia:
Roman Osin
Montador:
Patrick Larsgaard, Peter Gvozdas
Trilha Sonora:
Danny Bensi, Saunder Jurriaans
Duração:
86 min.
Ano:
2016
País:
Estados Unidos / Reino Unido
Cor:
Colorido
Estreia:
04/05/2017 (Brasil)
Distribuidora:
Diamond Films
Estúdio:
42 / IM Global / Impostor Pictures
Classificação:
12 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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