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A operadora de telefonia americana AT&T anunciou a compra do grupo Time Warner, dona dos estúdios Warner Bros. e dos canais de televisão HBO, TNT e CNN, por US$ 85,4 bilhões
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A gigante da telecomunicação ainda deve assumir a dívida do grupo, o que pode deixar o valor final na casa dos US$ 108,7 bilhões.
Em 2014, a Time Warner quase foi vendida para o Grupo Fox, do magnata Robert Murdoch, que tem jornais nos EUA, Inglaterra e Austrália e também é dono da 21th Century Fox, Fox TV e Fox Sports.
Na época, a Time Warner rejeitou a proposta de US$ 75 bilhões, alegando que o valor era muito baixo.
Com a fusão, a AT&T procura se renovar dentro do mercado de telefonia, que vem passando por uma crise graças às novas tecnologias.
Hoje em dia, por exemplo, muitas pessoas se comunicam através de redes sociais, com o uso de redes wif-fi, e fazem cada vez menos ligações ou enviam SMS.
Edifício sede da AT&T em Nova York - Forbes |
Para a Time Warner, a fusão deve aumentar a quantidade de streamings de filmes e séries disponibilizados pela AT&T.
Entretanto, a parceria deve encontrar resistência dos concorrentes, como as empresas de TV a cabo, que já sofrem com a popularização de serviços como a Netflix.
Edifício sede do grupo Time Warner em Nova York - Forbes
Mas o que essa fusão tem a ver com nós, brasileiros?
É que esse negócio vai trazer muitos problemas para as TVs por assinatura no Brasil.
A Time Warner é dona dos estúdios de cinema Warner Bros. e de duas importantes programadoras de TV por assinatura, a HBO e a Turner - dos canais TNT, Warner Channel, Cartoon Network, CNN, Space e Esporte Interativo, entre outros.
Já a AT&T controla a operadora DirecTV, que tem 5,3 milhões de assinantes no Brasil por meio da Sky.
O problema é a Lei 12.485/2011, que atualizou a regulamentação de parte das comunicações no Brasil e que impede a propriedade cruzada de empresas de distribuição (operadoras de TV paga e telefônicas) com as de programação (canais pagos) e de radiodifusão (TV aberta).
Assim, a Sky não pode deter mais de 30% do capital de um canal esportivo ou de filmes, por exemplo, muito menos de emissora aberta.
As empresas de radiodifusão e programação (como a Globo e a Globosat), por sua vez, não podem ter mais de 50% uma operadora de infraestrutura de telecomunicações (TV a cabo ou via satélite, banda larga e telefonia).
A barreira foi uma vitória da Globo nas negociações que resultaram na Lei 11.485.
Sob o discurso da proteção do conteúdo nacional, a emissora conseguiu impedir que as teles e o capital estrangeiro avançassem sobre o mercado de TV paga brasileiro, com reflexos na TV aberta - exatamente como a AT&T faz agora nos Estados Unidos.
Poderosas financeiramente, com faturamento várias vezes superior ao das emissoras abertas e programadoras de TV paga, as telefônicas poderiam tomar da Globo os direitos do futebol ou fechar acordos que inviabilizassem a aquisição de filmes e séries.
Assim, devido à limitação legal, a AT&T não poderá ser dona no Brasil da Sky e da HBO e dos canais da Turner.
Ou seja: terá que abrir mão de um dos segmentos.
Para sorte dos quase 20 milhões de assinantes de TV paga no Brasil, o mais provável é que venda o braço latino-americano da DirecTV, que inclui a Sky.
Agora, se optar por se desfazer das programadoras, o conteúdo dos canais HBO e Turner será todo reconfigurado, absorvido por outros canais já existentes ou criados especificamente para isso.
O transtorno para os assinantes será enorme.
A eventual venda da Sky impedirá que a AT&T (fundada pelo inventor do telefone, Alexander Graham Bell em 1879) atinja no Brasil seu principal objetivo com a fusão com a Time Warner.
Se for aprovada, a fusão irá fortalecer AT&T, DirecTV, HBO, TBS, CNN, TNT e Warner Bros., entre outras empresas, na disputa com os fornecedores de conteúdo via streaming, principalmente a Netflix.
No ano passado, 1,4 milhão de norte-americanos cancelaram suas assinaturas de TV paga e provavelmente, passaram a pagar por um serviço mais barato, via internet.
Com a fusão, a AT&T poderá oferecer a seus 45,5 milhões clientes de TV por assinatura e 142 milhões de banda larga, em condições mais vantajosas, as séries da HBO (como 'Game of Thrones' e 'Westworld') e os filmes dos estúdios Warner Bros., produtor das sagas 'Harry Potter' e 'Batman'.
E vice-versa: HBO e Warner Bros. terão acesso privilegiado aos milhões de assinantes das empresas de infra-estrutura da AT&T e levarão os seus produtos a todas as telas, das TVs de 55 polegadas aos smartphones.
O negócio entre AT&T e Time Warner segue uma tendência, que parece irreversível nos Estados Unidos: a da fusão de grandes operadores de telecomunicações e produtoras de conteúdo para enfrentar os novos jogadores da internet.
Maior operadora de TV a cabo dos EUA, a Comcast adquiriu recentemente o controle da NBC Universal, das séries 'Law & Order', 'Chicago Fire' e 'Bates Motel' - a NBC é uma das grandes redes de TV aberta e a Universal controla estúdios de cinema e TV, além de parques temáticos.
Desde 2005, a Discovery Communications, dos canais Discovery, é controlada pela Liberty Media.
No Brasil, no entanto, essa tendência concentradora tende a não acontecer.
A não ser que se enfrente a Globo e se mude a lei.
A venda da Time Warner para a AT&T bagunça também os direitos das transmissões de futebol no Brasil, já que a Turner controla o canal Esporte Interativo, rival do SporTV, braço esportivo na TV a cabo da Globosat, pelos direitos do Brasileirão 2019-24.
A AT&T adquiriu a DirecTV, controladora da Sky no Brasil, há dois anos e a Time Warner e o grupo Turner, dono do Esporte Interativo, se fundiram na década de 90.
Logo do EI - Divulgação |
Ou seja, canal (Esporte Interativo) e operadora (Sky) agora são propriedades do mesmo grupo.
Até mesmo nos EUA é esperado que a autoridade reguladora aponte quais propriedades deverão ser negociadas pelo novo grupo.
Foi por causa da legislação brasileira que a Sky descontinuou há alguns anos seu canal esportivo no Brasil, o Sports +.
Para quem não se lembra, o Sports + chegou a ter os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Espanhol, da Liga dos Campeões, da NBA, liga norte-americana de basquete, e de torneios de tênis.
O canal entrou na mira do governo justamente por ser propriedade da operadora Sky.
Propriedade exclusiva ou majoritária, nesse caso, são vetadas pela legislação nacional.
No momento, o canal Esporte Interativo, do grupo Turner, e o SporTV, da Globosat, travam uma disputa acirrada pelos direitos do Brasileirão a partir de 2019.
Os dois canais fecharam contratos individuais com dezenas de times nacionais de futebol.
Vale lembrar que cada um dos canais só poderá transmitir uma partida caso os dois times que se enfrentarem tiverem contrato fechado com o canal.
No caso, o que prevalece não é o mando de campo, mas o que determina a Lei Pelé.
O destaque atual da programação do Esporte Interativo é a Liga de Campeões.
Até o momento, ninguém dos canais da Turner no Brasil se pronunciou.
Só nos restar aguardar.
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