SINOPSE:
No início da noite de 21 de agosto de 2015, o mundo assistiu atônito às notícias de um ataque terrorista frustrado no trem n° 9364 da Thalys a caminho de Paris – uma tentativa impedida por três corajosos jovens americanos que viajavam pela Europa.
O filme acompanha a vida dos três amigos, das dificuldades da infância, passando pela descoberta de seu propósito na vida, até a série de eventos improváveis que culminaram com o ataque.
Durante essa experiência angustiante, a amizade entre eles, que nunca se abala, tornou-se sua melhor arma, permitindo que eles salvassem a vida de mais de 500 passageiros a bordo.
CRÍTICA:
Em seus três últimos filmes como diretor, Clint Eastwood abraçou de vez a temática do herói.
'Sniper Americano' mostrava a ideologia pela forma preconceituosa como caracterizava o inimigo iraquiano.
Em 'Sully', a narrativa situava o piloto de avião, personagem-título, contra a agência federal que colocava em dúvida seu comportamento ao salvar a vida de todos os passageiros, optando por pousar no rio Hudson ao invés de retornar ao aeroporto de onde partira.
Agora, em '15h17 - Trem para Paris', que estreia hoje aqui no Brasil, a luta de um homem contra o sistema está de volta - mas sob outro aspecto.
Cena do longa monstra os protagonistas Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler - Fotos dessa postagem: Divulgação/Warner Bros.
Desta vez, Eastwood não está propriamente interessado em apontar o dedo para agências ou governos, mas sim para a crença geral com base na ciência.
Ao adaptar mais uma história verídica, o diretor se apropria dos fatos para se posicionar contra a pré-determinação com base em estatísticas e conceitos, de forma a minimizar - ou até menosprezar - pessoas.
É o velho Clint acreditando no potencial humano acima de tudo, capaz de superar adversidades e limitações em momentos cruciais da vida - como ele mesmo tanto fez, nos personagens fortes que interpretou.
Se é fácil entender o porquê de seu interesse por esta história, é difícil compreender certas decisões sobre a forma como ela é contada.
A começar pela estranhíssima decisão em escalar os três americanos que impediram o ataque terrorista no trem do título para que interpretassem a si mesmos - o que de imediato traz tanto problemas de "atuação" como, também, diversas limitações de narrativa.
Por não serem atores e nem terem o menor traquejo para tanto, o trio formado por Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler estrela um punhado de situações extremamente simplórias, justamente pela incapacidade em desenvolver melhor a trama.
Não por acaso, o roteiro entrega um punhado de diálogos terríveis, de uma superficialidade assustadora, como acontece especialmente na visita a Veneza.
Cena do longa
Mas este não é o único problema.
O prólogo do filme, com o trio retratado quando criança, é pura caricatura: do professor mal-humorado ao diretor punitivo, há um punhado de "verdades" ditas a esmo, sem a menor profundidade, o que prejudica demais na crença de tal ambiente.
De forma canhestra, Clint constrói uma espécie de síntese do americano médio, com sua devoção religiosa e a crença absoluta na cultura da guerra, materializada seja nos uniformes militares e continências que surgem aqui e ali ou, ainda, na absoluta normalidade com a qual crianças lidam com armas guardadas em casa - e tudo isto, sem jamais questionar tal realidade.
Cena do longa
Tal questionamento vem apenas em dois momentos, na contestação ao uso de remédios para tratar crianças com TDA (transtorno de deficit de atenção) e, mais perto do fim, como uma irônica provocação à fama norte-americana de sempre se posicionar como o herói da história - algo que, de certa forma, o próprio filme também faz, especialmente ao omitir a participação do francês no quase atentado ocorrido no trem do título.
Trata-se do único momento, ao longo de todo o filme, em que se pode perceber um certo toque de autor.
Por mais que seja admirável ver um diretor de 87 anos ainda se arriscando, tanto esteticamente quanto na narrativa, é espantoso notar como as decisões tomadas não funcionam bem em uma história até mesmo simples, que acompanha a amizade formada ainda criança que resultou em uma viagem pela Europa, já adultos, que por acaso os levou a um trem sob ataque terrorista.
Mesmo o enfrentamento anunciado, que deveria ser o clímax prometido, surge burocrático, assim como a inevitável homenagem derradeira.
Chato, cansativo, repetitivo demais, o filme só vai interessar aos americanos xaropes da cabeça e fãs de Donald Trump.
Aqui no Brasil, os Bolsobostinhas vão amar.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'15:17 - TREM PARA PARIS'
Título Original:
THE 15:17 TO PARIS
Gênero:
Drama
Direção:
Clint Eastwood
Elenco:
Adam Rosenberg, Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Bryce Gheisar, Chirstine Hooper, Cyrille Hertel, David An, Deborah Grall, Ethan Rains, Gary Weeks, Grant Weaver, Heidi Sulzman, Irene White, Isabelle Risacher Moogalian, Jaleel White, Jamie Renell, Jenna Fischer, Judy Greer, Lillian Solange Beaudoin, Mark Moogalian, Matt Thompson, Matthew Barnes, P.J. Byrne, Paul-Mikél Williams, Ray Corasani, Robert Pralgo, Seth Meriwether, Sinqua Walls, Spencer Stone, Stephen Matthew Smith, Thomas Lennon, Tony Hale, Vernon Dobtcheff, William Jennings
Roteiro:
Dorothy Blyskal
Produção:
Clint Eastwood, Jessica Meier, Kristina Rivera, Tim Moore
Fotografia:
Tom Stern
Trilha Sonora:
Christian Jacob
Montador:
Blu Murray
Estúdio:
Warner Bros.
Distribuidora:
Warner Bros
País:
EUA
Ano de Produção:
2017
Duração:
94 min.
Estreia no Brasil:
08.3.2018
Classificação Indicativa:
13 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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