SINOPSE:
A história de uma das figuras mais enigmáticas e incompreendidas da história bíblica: Maria Madalena (Rooney Mara).
Em busca de uma nova maneira de viver, contrariando as pressões da sociedade, sua família e o machismo de alguns apóstolos, como Pedro (Chiwetel Ejiofor) a jovem pescadora junta-se a Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix) em sua incansável missão de propagar a fé.
CRÍTICA:
Mulher mais controversa da Bíblia, Maria Madalena é uma personagem tão importante quanto misteriosa, descrita de diferentes maneiras ao longo dos séculos.
É a “apóstola dos apóstolos”, a prostituta apedrejada, a atormentada por sete demônios, a esposa de Jesus ou a irmã de Marta e Lázaro, dependendo da fonte.
Os únicos consensos são sua proximidade com Cristo, o privilegiado testemunho da ressurreição e a ligação com a aldeia de nome Magdala.
Agora, finalmente a controversa personagem ganhou um longa que conta a sua trajetória, à altura da sua importância para o cristianismo.
'Maria Madalena', filme de Garth Davis que estreia nesta quinta aqui no Brasil, se presta a contar a verdadeira história da enigmática figura, não a colocando uma vez mais como coadjuvante de Jesus, mas sim como protagonista - não apenas observada e descrita por homens, mas dona do ponto de vista.
Joaquin Phoenix e Rooney Mara, em cena do longa - Fotos dessa Postagem - Divulgação - Universal Pictures |
Não espere, no entanto, uma visão da Paixão por um ângulo inédito, já que as passagens mais famosas do texto sagrado não são os trechos fundamentais desta narrativa.
A primeira lição que o filme nos ensina é o descolamento da imagem de prostituta.
Interpretada por Rooney Mara, Madalena é uma jovem pescadora, que aqui não exala a extrema sensualidade anteriormente mostrada Debra Messing, Barbara Hershey e Monica Bellucci, algumas de suas intérpretes anteriores na telona.
Moça de família, tímida e religiosa, seu maior pecado é não querer casar, envergonhando irmãos e pai.
Seu grito desesperado de liberdade é mal interpretado e a última esperança de salvação da débil e aparentemente endemoniada moça torna-se o curador cada vez mais famoso nas redondezas - Jesus, óbvio.
A revelação é gradual para o público e Maria, ambos ansiosos pelo primeiro contato com aquele sobre o qual tanto já ouviram falar.
Tahar Rahim brilha como um comovente Judas |
Encerrado o breve suspense, o Jesus de Joaquin Phoenix explode na telona e o espectador fica inevitavelmente frustrado, ao ver o Cristo dono de olhar entre o perdido e o infantil, oscilando entre o riso bobo e a melancolia pela dor do inevitável destino.
A aproximação dos dois é um forte flerte, com direito a negação familiar e desnecessário apelo sexual via seminudez.
Confira como foi a trajetória de Rooney Mara, Joaquin Phoenix e Chiwetel Ejiofor durante as gravações:
Confira como foi a trajetória de Rooney Mara, Joaquin Phoenix e Chiwetel Ejiofor durante as gravações:
Mas o diretor não toma o polêmico caminho do estabelecimento do casal, seguido por 'O Código da Vinci' e 'A Última Tentação de Cristo'.
Aqui, a relação dos dois é retratada o amor como um sentimento profundo, com entrega apaixonada e união total, uma conexão intensa e exclusiva - mas sem os beijos e o sexo dos homens.
Joaquin Phoenix como Jesus de Nazaré |
Num outro contexto as trocas de olhares, conversas íntimas, ciúmes e afagos configurariam tensão carnal, mas aqui Maria Madalena realmente passa como uma mulher comprometida com o divino e Jesus é o incompreendido solitário que tem um pouco do peso que carrega aliviado por esse novo braço direito, promissora aprendiz.
Mais do que isso. Madalena aqui é retratada como seu equivalente feminino, já que os dois salvam vidas usando os mesmos gestos encantadores – ela transmitindo paz, ele operando milagres – e enquanto ela leva às mulheres que não ousam se juntar aos homens as palavras do mestre e também as batiza, ambos encaram sem medo os romanos.
Ao ver seu Rabi sofrer, Madalena igualmente desmorona de dor.
Ou seja: finalmente temos aqui um roteiro - assinado por Helen Edmundson e Philippa Goslett - bastante progressista, que afirma a valente Maria Madalena como substituta natural do Salvador em termos de pregação e liderança e a coloca ao seu lado na Santa Ceia.
O roteiro é bastante didático nesse sentido – e em todos os outros – ressaltando a todo momento o machismo responsável pelo seu apagamento e a grande proximidade entre Madalena e Jesus.
Rooney Mara como Madalena: grande protagonista |
Road movie de caminhada com muitas elipses e avanço temporal indiscriminado, o longa adapta bem as mensagens do Filho de Deus, mas coloca na boca dos outros personagens frases ridículas e engessadas.
Em mais uma atuação extremamente contida , mas sensacional, Rooney Mara às vezes lembra a Therese Belivet de 'Carol', observadora e silenciosa.
O arco das duas é semelhante: ambas levam uma vida infeliz até que despertam graças ao amor e por ele se jogam na estrada sem destino ou garantias, numa jornada também de amadurecimento pessoal.
Enquanto o final do romance de Todd Haynes encontra uma Therese por completo diferente da inicial, aqui a transformação é notada exclusivamente em seu discurso, a partir da compreensão do real significado palavras de Jesus.
Mas Mara se sai muito bem na tarefa.
Chiwetel Ejiofor é Pedro |
Já Chiwetel Ejiofor interpreta o antagonista Pedro, vilão egoísta que desde o começo rejeita Maria Madalena e condena a intromissão feminina no apostolado; Tahar Rahim brilha como um comovente Judas e estrela um dos momentos mais emocionantes da trama; e Ariane Labed, Denis Ménochet e Lubna Azabal fazem pequenas participações.
Elenco talentoso e internacional, algumas atuações são acima da média e apesar de Jesus ainda ser branco, há diversidade no elenco, enfim.
Pena que o cineasta parece preso a um estilo de cinema ultrapassado, apegado a pomposos planos, usando música incidental exagerada em drama e ininterrupção e comandando tudo da forma mais conservadora possível.
A maior ousadia – ou falta de noção – talvez seja um movimento de câmera do casal principal para a lua - aquela mesma cena que já vimos centenas de vezes no cinema e na TV.
Em seu terceiro longa, Garth Davis ainda não mostrou a que veio: salvo pela fofura de Sunny Pawar em 'Lion - Uma Jornada Para Casa', desta vez ele ao menos ganha pontos extras pelo louvável revisionismo.
Afinal, o filme prova que os apóstolos homens entenderam tudo errado e tivesse a voz de Maria Madalena superado a de Pedro, hoje teríamos um catolicismo completamente diferente, com uma toada mais suave.
Enfim, um Evangelho segundo o Feminismo.
Vale uma olhada.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
MARIA MADALENA
Título Original:
MARY MAGDALENE
Gênero:
Drama
Direção:
Garth Davis
Elenco:
Ariane Labed, Chiwetel Ejiofor, Denis Ménochet, Hadas Yaron, Irit Sheleg, Joaquin Phoenix, Lubna Azabal, Rooney Mara, Ryan Corr, Tahar Rahim, Tcheky Karyo
Roteiro:
Helen Edmundson, Philippa Goslett
Produção:
Emile Sherman, Iain Canning, Liz Watts
Fotografia:
Greig Fraser
Trilha Sonora:
Hildur Guðnadóttir, Jóhann Jóhannsson
Montador:
Alexandre de Franceschi, Melanie Oliver
Estúdio:
Film4, Porchlight Films, See-Saw Films, Universal Pictures International Production (UPIP)
Distribuidora:
Universal Pictures
País:
Reino Unido
Ano de Produção:
2017
Duração:
120 min.
Estréia no Brasil:
15/03/2018
Classificação Indicativa:
12 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
Nenhum comentário:
Postar um comentário