segunda-feira, 26 de março de 2018

'O MECANISMO': NETFLIX SE JUNTA A JOSÉ PADILHA PARA ESPALHAR MAIS FAKE NEWS, FASCISMO E ÓDIO EM ANO ELEITORAL NO BRASIL



SINOPSE:

Marco Ruffo (Selton Mello) é um delegado aposentado da Polícia Federal obcecado pelo caso que está investigando.

Quando menos espera, ele e sua aprendiz, Verena Cardoni (Carol Abras) já estão mergulhados em uma das maiores investigações de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil.

A proporção é tamanha que o rumo das investigações muda completamente a vida de todos os envolvidos.

CRÍTICA:

Logo na abertura, somos avisados por um letreiro de que a nova série brasileira da Netflix, 'O Mecanismo', já disponível no streaming desde 23 de março, é 'baseada livremente em fatos reais'.

Mas seria mais honesto se o letreiro em questão trouxesse escrito: 
"Baseado em delírios toscos, alucinações ingênuas e arrogância elitista".

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Carolina Abras e Selton Mello são os protagonistas da série - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Netflix
Na obra, os seus criadores, José Padilha, Elena Soarez e o time de roteiristas se esforçam para vender a ideia de que o tal 'mecanismo' engloba todas as partes, da esquerda e da direita, do Presidente da República ao funcionário da companhia de água, passando pelo jovem da classe média e alta que falsifica carteira de estudante e dá uma "cervejinha" para o policial.

Por alguns breves momentos, a série até consegue passar ao espectador essa imagem, mas logo, fica clara a postura tendenciosa e fascista da obra, como quando vemos o personagem do 'ex-presidente João Higino' (Arthur Kohl), claramente inspirado em Lula  usando frases como "estancar a sangria" e "construir um grande acordo nacional".

Usar fala do conhecido diálogo entre Sérgio Machado e Romero Jucá como sendo de Lula é extremamente desonesto, para não dizer canalha - e isso é algo que deveria ser claro para pessoas das mais diversas visões ideológicas.

Arthur Kohl é o ex-presidente João Higino (Lula)
Padilha é um diretor muito talentoso e com grande domínio da narrativa.

Aqui, usa a experiência adquirida em 'Tropa de Elite' e 'Narcos' para criar um jogo investigativo a princípio instigante, onde os espectadores se envolvem com os protagonistas, os detetives Marco Ruffo (Selton Mello) e Verena (Caroline Abras), que dividem a função de narradores da história - Padilha sempre apela para o mesmo voice over nos seus trabalhos, escancarando sua insegurança para que a necessidade de uma narração explique os buracos do roteiro e o sentimento por trás das ações, o que é bastante incômodo.

Padilha se inspira 'livremente em fatos reais' para narrar a novela política que o Brasil inteiro acompanha há anos e se dá a liberdade de criar um personagem central para a trama que não existe.

Se permite colocar a frase que explica e legitima o impeachment na boca do ex-presidente Lula, mesmo porque para ele, é tudo farinha do mesmo saco, estão todos presos no mecanismo, então não interessa quem disse o que.

Interessa mostrar como é o mecanismo e no mecanismo dele, o escândalo do Banestado acontece no governo do PT e a investigação não vai adiante porque o MP comete "um erro" - quando na verdade o governo FHC pagou muito por uma operação abafa.

Mas nada disso importa.

Sura Berroitchevsky é Janete Ruscov (Dilma Rouseff)

"É livremente inspirado em fatos reais" - e se precisar ser desonesto pra caber na tese do diretor, não tem problema. 

Se o lado da investigação policial funciona, principalmente por mostrar os conflitos internos com o Ministério Público e por não tentar transformar os personagens em super-heróis, com a série acertando ao criar policiais complexos e interessantes, ela desce a ladeira ao desnudar (literalmente) o juiz Paulo Rigo (Otto Jr) obviamente Sérgio Moro, retratado como extremamente vaidoso e colocado em uma posição acima do bem e do mal, como seu pavão inspirador.

Otto Jr é o juiz Paulo Rigo
Rigo é o sujeito que anda de bicicleta, instala a cortina do chuveiro, aparece muito feliz ao dar autógrafo na rua e aparece lendo uma HQ chamada "Vigilante Sombrio" - numa demonstração clara da falta de sutileza do roteiro.

Há referências a Aécio Neves e Michel Temer (sempre usando um nome falso) e aponta para aprofundar no processo do Impeachment numa eventual segunda temporada.

Aqui, a desonestidade é sempre dos outros, não de Padilha: ele não está roubando, está fazendo obra visual como um verdadeiro herói, alguém que tem a coragem de filmar, revelar e, portanto, combater o mecanismo.

Seus métodos, assim como os do Rufo, não importam.

Mentir, distorcer, caluniar pode, mesmo porque a causa é nobre e maior: combater o mecanismo.

Já vimos este filme na realidade e ele não acaba bem, acaba em totalitarismo, seja de esquerda ou de direita.

Se Selton Mello surge bastante afetado no primeiro episódio, melhora a seguir.

Abras mantém uma boa performance por todos os capítulos: a presença de uma mulher forte em um ambiente tradicionalmente masculino é fascinante, mas ao mesmo tempo, o roteiro trata de prejudica-la com uma trama envolvendo um relacionamento instável, previsível e desinteressante.

Na galeria dos vilões, o destaque vai para Enrique Diaz no papel do doleiro Roberto Ibrahim (Alberto Youssef na vida real), que com carisma, conquista o espectador - mais ou menos o que aconteceu com o Pablo Escobar de Wagner Moura em 'Narcos'.

Enrique Diaz é o doleiro Roberto Ibrahim
Enfim, a série passa boa parte de seus oito episódios tentando se vender como isenta - e se precisa falar tantas vezes que é isenta, bom sinal não é - e é enxuta, contando apenas com um episódio mais longo (o último) mesmo não conseguindo deixar de ser repetitiva ao oferecer as mesmas jornadas várias vezes.

Isso vale para arcos de personagens, mas também para situações que se repetem, como o personagem que é preso/detido inúmeras vezes - onde em todas, acompanhamos o efeito da situação em um familiar.

Cabotina e feita para o atual momento da política brasileira, a série cumpre bem o seu papel de endeusar os já conhecidos ídolos de barro, como Moro - e acirrar ainda mais os discursos de ódio tão presentes.

Ao escolher ficar do lado dos fascistas e golpistas, a série só vai agradar mesmo aos desavisados e aos analfabetos políticos, mesmo porque ainda estamos muito perto de tudo, tudo muito presente, sem o distanciamento que obras sobre momentos históricos exigem,

Mesmo sob a ótica autoritária de direita, simplificadora do real, a série poderia ser melhor realizada como entretenimento e para quem, como eu, acompanha diariamente a política brasileira, salvo as grosserias, poderá ser vista por muitos como uma comédia involuntária.

Como bem escreveu no Twitter hoje o ótimo jornalista Glenn Greenwald:

"Caro @NetflixBrasil: Estou escrevendo um filme sobre a corrupção na Petrobras. Ele mostra Geraldo Alckmin como o presidente da Petrobras durante os escândalos de corrupção, e como Rodrigo Maia comandou mensalão. É licença dramática! Me liga".

Ainda dá tempo da produção retirar a referencia da série ser 'fundamentado em fatos reais', já que na verdade, ela é mais um mix de apologia à PF e ao mau judiciário com fofocas de mídia, mostrando eventos acintosamente falsos,que passam longe dos fatos.

Afinal, em ano de eleição não podemos deixar que nos manipulem com essa peça de propaganda de direita travestida de seriado.

REPERCUSSÃO:

A série 'O Mecanismo', vem recebendo uma enxurrada de críticas devido a distorções e manipulações de diálogos e situações que têm como objetivo detratar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Em uma das cenas que exemplifica as manipulação executadas pela série, frases do célebre diálogo entre o senador Romero Jucá (MDB) e o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, sobre a necessidade de derrubar Dilma para ‘estancar a sangria’ da Lava Jato, num “grande acordo, com o Supremo, com tudo”, foi parar na boca do personagem que represente Lula na trama.

“Reparem. Na vida real, Lula jamais deu tais declarações. O senador Romero Jucá, líder do golpe, afirmou isso numa conversa com o delator Sérgio Machado, que o gravou e a quem esclarecia sobre o caráter estratégico do meu impeachment”, criticou Dilma.

“Na ocasião, Jucá e Machado debatiam como paralisar as investigações da Lava Jato contra membros do PMDB e do governo Temer, o que seria obtido pela chegada dos golpistas ao poder, a partir do meu afastamento da Presidência da República, em 2016”, explica Dilma - para ela, a série traz “uma visão distorcida da história, com tons típicos do fascismo latente no país.”

Segundo ela, Padilha não reproduz fake news – as ditas notícias falsas – ele as cria.

Outra manipulação explicitada por Dilma é que o caso Banestado – envolvendo o desvio de recursos do banco estatal paranaense, que tem o doleiro Alberto Yousseff como um dos pivôs – é retratado como tendo ocorrido em 2003, primeiro ano do governo petista, quando, na verdade, ocorreu em 1996, durante o governo FHC.

Ainda em 2000, o banco seria privatizado e vendido ao Itaú.

“Sobre mim, o diretor de cinema usa as mesmas tintas de parte da imprensa brasileira para praticar assassinato de reputações, vertendo mentiras na série de TV, algumas que nem mesmo parte da grande mídia nacional teve coragem de insinuar”, acusa a ex-presidente.

Em entrevista ao site Observatório do Cinema, o cineasta José Padilha classifica a polêmica com relação a manipulação da frase de Jucá na boca de Lula como “boboca”, e diz que o fato de o senador ter usado a expressão “estancar a sangria” não a impediria o seu uso livre, ainda que com a completa inversão de sentido.

“Escritores continuam livres para fazer uso dela.”

À Folha de S.Paulo, jornal onde também é colunista, Padilha se justifica novamente e diz que na abertura de cada episódio “está escrito que os fatos são dramatizados”, e atacou grosseiramente  a ex-presidenta, alegando que “se a Dilma soubesse ler”, a polêmica sobre as grosseiras manipulações não teria ocorrido.

Devido às tentativas de enganação e manipulação política, usuários têm manifestado críticas não só a Padilha, mas também à Netflix, muitos inclusive anunciando que não assinam mais o produto.

Um dos que anunciou o boicote à Netfix foi o crítico de cinema Pablo Villaça.

“Minha consciência é meu guia; pode não fazer diferença pra Netflix, mas faz PRA MIM”, afirmou ele pelo Twitter.

Contra a manipulação, você pode tomar uma ou todas essas decisões:
* Ligue 0800-887-0201 e deixe seu protesto para a Netflix.
* Entre na sua conta da Netflix, vá na série e marque negativo em "minha classificação".
* Entre em sua conta da Netflix e reclame pelo chat ao vivo.
* E a decisão mais extremada: cancele sua conta Netflix.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
'O MECANISMO'
Gênero:
Drama
Direção:
José Padilha (Ep. 1), Felipe Prado (Ep. 2 3), Marcos Prado (Ep. 4 5 6) e Daniel Rezende (Ep. 7 8)
Elenco:
Selton Mello, Caroline Abras, Enrique Díaz, Lee Taylor, Antonio Saboia, Otto Jr, e outros
Roteiro:
Elena Soarez
Produção:
José Padilha
Zazen produções
País:
Brasil
Exibição:
Netflix
Número de Episódios:
Oito
Status:
Em andamento
Duração:
60 minutos

COTAÇÃO DO KLAU:

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