quinta-feira, 29 de março de 2018

'JOGADOR Nº1': SPIELBERG VOLTA EM ÓTIMA FORMA FAZENDO O QUE ELE SABE FAZER DE MELHOR: CONTAR UMA HISTÓRIA QUE PRENDA O ESPECTADOR


SINOPSE:

Num futuro distópico, em 2044, Wade Watts (Tye Sheridan), como o resto da humanidade, prefere a realidade virtual do jogo OASIS ao mundo real.

Quando o criador do jogo, o excêntrico James Halliday (Mark Rylance) morre, os jogadores devem descobrir a chave de um quebra-cabeça diabólico para conquistar sua fortuna inestimável.

Para vencer, porém, Watts terá de abandonar a existência virtual e ceder a uma vida de amor e realidade da qual sempre tentou fugir.

CRÍTICA:

Quem leu o livro, leu uma história simples, com diversas referências da cultura pop e situações interessantes vividas por personagens carismáticos, tudo muito divertido, mas não profundo.

Quando saiu o primeiro trailer de 'Jogador Nº1', que estreia hoje aqui no Brasil, parecia que o filme seria ainda mais raso, reunindo um monte de easter eggs para fazer a alegria do espectador.

A surpresa é que o filme funciona muito bem.

A lenda da direção Steven Spielberg, depois de alguns projetos equivocados, criou aqui um belo filme de ação, que funciona tanto no mundo real quanto no virtua e que tem a marca dos melhores filmes do diretor, por ser leve, inteligente, com sequências emocionantes e uma aventura divertida de acompanhar.

O longa se passa parte em Columbus, Ohio e parte no mundo virtual do jogo Oásis.

O protagonista é Wade Watts (Tye Sheridan), que dedica sua vida a procurar o easter egg criado pelo criador desse mundo virtual, James Halliday (Mark Rylance), que não só dará controle do jogo, como também a fortuna do homem mais rico do mundo.

Jogador Nº1 : Foto Tye Sheridan
Tye Sheridan é o protagonista Wade Watts - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Warner Bros.
É um desafio interessante, potencialmente realista, já que, em alguns anos, podemos estar vivendo em um mundo dominado por realidade virtual, e que garante alguns grandes momentos nas telonas.

A verdade é que a caça ao tesouro é o motivo perfeito para uma aventura leve, estilo 'Os Goonies', enquanto os temas reais do filme são a dependência da tecnologia, a liberdade individual e a luta contra uma opressão disfarçada de liberdade.

São temas interessantes, mas o longa está longe de aprofundá-los, já que procurar uma discussão absurdamente relevante no livro ou no filme é um erro.

Apesar de algumas críticas estarem presentes e serem importantes para proporcionar relevância ao tema, o lance aqui é a diversão e nostalgia.

Jogador Nº1 : Foto Mark Rylance
James Halliday (Mark Rylance) é o criador do mundo virtual
O "mal" ganha vida na pele da Innovative Online Industries (IOI), liderados por Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn, sensacional), empresa de tecnologia concorrente que luta para controlar o Oásis pelo dinheiro e poder.

Eles basicamente usam a criação de Halliday para escravizar pessoas e lucrar alto, o que, obviamente, nos leva a comparações com corporações da vida real, mas extrapoladas para um futuro distópico,funcionando muito bem para criar um antagonista realista e cruel.

Jogador Nº1 : Foto Ben Mendelsohn
Ben Mendelsohn é Nolan Sorrento 
O filme tem personagens carismáticos e atuações realmente boas do lado dos mocinhos e dos bandidos - Hannah John-Kamen, famosa pela série 'Killjoys', poderia ser menos robótica, mas mesmo sua frieza é justificada dentro de sua missão de oprimir a liberdade das pessoas na vida real.

Dentro do Oásis, as dublagens funcionam muito bem e o único problema é a confusão na hora de misturar a ótima trilha-sonora com cenas de muita ação, deixando o áudio um pouco confuso.

Já o visual, especialmente em Imax, é simplesmente incrível e as cenas de perseguições e batalhas são inesquecíveis - Spielberg deve ter adorado a chance de enlouquecer com os efeitos visuais sem se preocupar com realismo, abusando do movimento, gravidade e manipulando o tempo e espaço.

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Hannah John-Kamen em cena do longa
Apesar da potencial confusão visual para entender as batalhas devido à velocidade e da quantidade de personagens presentes, tudo fica claro e compreensível.

A cena inspirada em um famoso filme de terror foi uma bela sacada, pois usa conhecimento comum para colocar personagens em situações inusitadas e é para vivenciar momentos como esse que os fãs do livro esperaram ansiosos pelo filme.

Oásis é um lugar fantástico, onde as leis da física podem ser manipuladas de formas inusitadas e os personagens são criativos, isso quando não saem diretamente de filmes, games, quadrinhos, séries que amamos.

Robocop, Marv, Street Fighter, Starcraft, Overwatch, Battletoads, Jurassic Park, Tomb Raider, Mass Effect, Embalos de Sábado à noite, Akira, De Volta para o Futuro, Halo, King Kong, DC Comics, Firefly e muito mais aparece no mundo virtual de forma natural e o fato do vilão usar um visual inspirado em Superman é bem interessante.

Porém, o longa falha ao usar narração em off, desnecessária, e o desenvolvimento dos personagens é raso, embora esteja lá.

Além disso, o roteiro em momento algum explica porque a situação mundial de 2045 é tão desesperadora a ponto das pessoas dependerem do Oásis.

A pobreza e a escravidão por dívidas são bem exploradas, mas como funciona esse mundo?

Existe um governo ou só as corporações dominam?

Em que momento as coisas deram tão errado?

Como as pessoas lidam com essa obsessão virtual?

E é possível ganhar dinheiro real no Oásis para poder abrir mão da vida real como parece o caso da maioria dos jogadores?

São questões que precisavam ser melhor exploradas, mesmo que cada espectador preencha as lacunas para tudo fazer sentido.

Porém, são essas questões que fazem o longa funcionar tão bem e ser tão leve, não se levando a sério demais, com as piadas no ponto certo, a trama evoluindo bem com as referências encantando qualquer apreciador de cultura pop.

Apesar de não seguir exatamente o livro, o longa adapta muito bem a ideia central da obra de Ernest Cline, adicionando uma necessária sutileza para fazer o filme funcionar muito bem.

E é muito bom vermos Spielberg de volta em ótima forma.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
JOGADOR Nº1
Título Original:
READY PLAYER ONE
Gênero:
Ficção Científica
Direção:
Steven Spielberg
Elenco:
Amanda LaCount, Amy Clare Beales, Armani Jackson, Asan N'Jie, Ben Mendelsohn, Britain Dalton, Cara Pifko, Carter Hastings, Daniel Tuite, Daniel Zolghadri, David Barrera, Elisa Perry, Fran Targ, Gem Refoufi, Hannah John-Kamen, Jacob Bertrand, Jacqueline Ramnarine, Jaeden Bettencourt, Jorge Leon Martinez, Julia Nickson, Julian Edwards, Kae Alexander, Kathryn Wilder, Kiera Bell, Kit Connor, Laurence Spellman, Lena Waithe, Letitia Wright, Lynne Wilmot, Mandy June Turpin, Mark Rylance, Mckenna Grace, Michael Wildman, Nasir Jama, Neet Mohan, Olivia Cooke, Philip Zhao, Ralph Ineson, Rona Morison, Sarah Sharman, Simon Pegg, Susan Lynch, Sydney Brower, T.J. Miller, Tye Sheridan, Violet McGraw, Win Morisaki
Roteiro:
Eric Eason, Ernest Cline, Zak Penn
Produção:
Dan Farah, Donald De Line, Kristie Macosko Krieger, Steven Spielberg
Fotografia:
Janusz Kaminski
Trilha Sonora:
Alan Silvestri
Montador:
Michael Kahn, Sarah Broshar
Estúdio:
Amblin Entertainment, De Line Pictures, Dreamworks
Distribuidora:
Warner Bros.
Estréia no Brasil:
29/03/2018
Ano de Produção:
2017
Duração:
140 min.
Classificação Indicativa:
13 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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