sexta-feira, 23 de março de 2018

'AMERICAN CRIME STORY: O ASSASSINATO DE GIANNI VERSACE' - TRAMA CONFUSA TROUXE DARREN CRISS ARREBATADOR E SENSACIONAL


SINOPSE:

A série 'American Crime Story', criada por Ryan Murphy, é uma antologia de crimes, onde cada temporada conta uma história independente, baseada em algum crime real que ganhou comoção pública e foi pauta de notícias.

Se a primeira temporada mostrou a prisão de O.J. Simpson, a segunda temporada mostra a fundo a vida de Andrew Cunanan, o assassino de Gianni Versace.

Em 1997, o famoso estilista italiano Gianni Versace (Édgar Ramirez) foi morto na escadaria de sua mansão, em Miami, pelo serial killer Andrew Cunanan (Darren Criss).

A temporada mergulha fundo no psicológico do assassino, seus motivos e suas obsessões, e na repercussão da morte de Gianni e dos destinos do seu companheiro Antonio D'Amico (Ricky Martin), sua irmã, Donatella (Penélope Cruz) e o futuro da grife, ainda hoje uma das mais rentáveis do mundo.

CRÍTICA:

Primeiramente, não dá para comparar 'ACS:The Assassination of Gianni Versace' com a excepcional 'ACS:The People vs O.J. Simpson'.

Mas como a comparação entre a primeira e a segunda temporadas da série criada por Ryan Myrphy acaba sendo inevitável, esta segunda já começa em desvantagem, já que as expectativas do público bateram nas alturas, mesmo antes de seu lançamento.

Segundo, o espectador não pôde se ater ao título: se é o nome do estilista aclamado que está ali, a antologia apenas usa sua tragédia como pontapé inicial para estudar a polêmica figura do assassino em série Andrew Cunanan (interpretado excepcionalmente bem por Darren Criss).

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Darren Criss em cena como o serial killer Andrew Kunanan - Fotos dessa postagem: Divulgação/FX
Feito isso, o espectador pode, enfim, mergulhar numa interessante história.

Após um primeiro episódio luxuoso retratando o assassinato do designer, vivido por Édgar Ramirez, a série ousa muito, ao contar a jornada de Cunanan de trás para frente - apresentando os outros quatro crimes cometidos pelo serial killer, passando por seu vício em drogas e relacionamentos com homens mais velhos, até chegar em sua infância.

Só no último episódio, retoma ao ano de 1997 e conta o final dessa tragédia, tudo isso tomando liberdades criativas, pois certos detalhes sobre essa bizarra jornada ainda são difíceis de serem desvendados até hoje.

Foto Édgar Ramírez, Penélope Cruz
Édgar Ramirez como Gianni e Penélope Cruz, como Donatella Versace
Usando como base o livro 'Vulgar Favors', de Maureen Orth, a trama mostra Andrew obcecado pela figura de Versace para construir um paralelo entre os dois - e essa comparação ajuda a aprofundar as diferenças entre eles, explicando como surgiram dois estilos de vidas tão opostos (e com algumas semelhanças bizarras).

Como a ideia nem sempre funciona, a história do designer fica ofuscada pelas breves pinceladas nas vidas das outras vítimas de Cunanan, que acabam trazendo momentos mais intrigantes.

Assim, se aparentemente o ritmo traz uma maneira criativa de contar a história, na prática o resultado foi outro.

Desde o início, fica fácil ao espectador compreender o estilo mentiroso, ambicioso e egocêntrico de Andrew Cunanan, vivido com uma verdade mais que absoluta pelo ex-Glee Darren Criss.

Se até agora só tínhamos conferido performances absolutamente corriqueiras do ator, aqui ele se transforma e cresce em cada cena, mesmo com o roteiro tendo dificuldades para explicar as motivações por trás de suas ações tão violentas.

Foto Darren Criss
Criss: sensacional
Se no release de apresentação, Murphy escreveu que usaria a história para retratar os preconceitos sofridos por homossexuais na década de 1990, a mensagem política perde força nos primeiros episódios, pois o espectador fica tentando descobrir o que há por trás da mente doentia daquele personagem.

Ele era realmente obcecado por Versace?

Tinha inveja de gays bem sucedidos?

Queria fazer algum tipo de posicionamento político em certos detalhes de seus crimes?

Ou era apenas uma pessoa perturbada que passou por uma infância sendo paparicado e abusado sexualmente pelo pai, um filipino arrogante e golpista, e que não conseguia se expressar numa sociedade homofóbica?

As respostas são: tudo isso e muito mais.

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Jon Jon Briones interpreta o pai abusador de Andrew
Pena que, com o passar dos episódios, os assassinatos perdem qualquer tipo de impacto dramático pela falta de uma ordem cronológica, se tornam cenas apenas chocantes, pois o espectador ainda não conhece as vítimas e mal conhece o criminoso também.

Só depois, com o andar dos episódios, quem assiste começa a conhecer, se importar e entender as ações de cada personagem - e essa descoberta é simplesmente irresistível e sensacional, mesmo com a demora para o público conseguir conectar todas as peças do quebra-cabeças.

Eu mesmo só consegui entender todas as nuances quando revi cada episódio pela segunda vez.

O terceiro tópico que Murphy desejou abordar, mas acabou falhando na execução final, era mostrar como a homofobia e a incompetência policial também tem culpa nos crimes de Cunanan.

Com nomes menos conhecidos (como Judith Light e Mike Farrell), esse arco dramático - do empresário idoso casado com uma famosa propagandista/perfumista da tv, que acaba tendo sua homossexualidade revelada após ser assassinado por Cunanan - acabou sendo desperdiçado, aparecendo apenas brevemente em alguns episódios - felizmente, teve um ótimo desfecho no episódio final, 'Alone'.

Foto Judith Light, Mike Farrell
Jurith Light e Mike Farrel, em cena: casal bem sucedido, mas ele dentro do armário
Daí poderia surgir uma outra crítica muito interessante, ressoando num momento político tão instável para os americanos, onde o preconceito infelizmente não só não desapareceu, como vem se tornando mais e mais insuportável.

Por sinal, o último capítulo, 'Alone', ganhou o mesmo estilo requintado do piloto - pois são sequências diretas, ao contrário do restante da temporada - para, finalmente, conectar todas as pontas soltas apresentadas até ali.

Assim, três personagens precisaram falar sobre a incompetência e a ignorância da polícia ao lidar com os crimes contra gays, de uma forma nada sutil e bem corrida, ao invés de desenvolver a crítica ao longo dos episódios.

Se a edição e a história contada de trás para frente prejudica a experiência de alguns, o mesmo não pode ser dito de suas performances.

Darren Criss está espetacular e aqui, tem a melhor atuação de sua carreira.

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Cunanam, na cena em que assassina Versace
Incrivelmente parecido com o Gianni real, Ramirez consegue demonstrar toda a confiança e genialidade do renomado estilista, um dos gênios do seu tempo.

Também é impossível não ouvir e ver Penélope Cruz em cena e não lembrar imediatamente da irmã do artista, Donatella - uma pena que a moça apareça pouco, pois desejamos ver mais da dinâmica entre os irmãos.

Já Ricky Martin surge no papel de Antonio D'Amico, companheiro de Gianni - e se não atrapalha o rumo da trama, até surpreende na cena em que toma o companheiro ensanguentado no primeiro capítulo e no episódio final, dá show nas cenas da missa de sétimo dia de Versace, no embate com Donatella e no seu suicídio.

Para quem só o conhecia como o astro da música, vê-lo em cena foi mais um achado da série.

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Ramirez e Martin, em foto promocional da série
Curiosamente, são os personagens coadjuvantes quem realmente despertam emoções no espectador.

Assumindo o papel da primeira vítima de Cunanan, Finn Wittrock é responsável por um dos melhores episódios da temporada, ao retratar o sofrimento de Jeff Trail diante da homofobia na marinha, num cenário movido pelo "Don't Ask, Don't Tell" - antiga política do governo Clinto, que proibia homossexuais assumidos nas forças armadas norte-americanas.

Resultado de imagem para acs the assassination of gianni versace Finn Wittrock
Finn Wittrock é o marinheiro Jeff Trail 
Cody Fern é uma grata surpresa ao trazer vulnerabilidade para a segunda vítima - o ex-namorado de Cunanan, David Madson - e realmente poderia ganhar mais tempo de tela.

Finalmente, Max Greenfield está irreconhecível como um dos poucos amigos de Andrew, Ronnie.

Judith Light e Jon Jon Briones devem ser indicados na próxima temporada de premiações como convidados em série dramática ,já que ambos estrelam algumas das melhores cenas da atração.

Visualmente, a série é tão bela quanto os vestidos criados por Versace, o que também pode render mais alguns prêmios para o canal FX.

A equipe de figurino e design de produção conseguiu resgatar o estilo dos anos 1990 (e recriar o universo luxuoso do estilista), enquanto longas sequências sem diálogo destacam um belo trabalho de fotografia.

No fim, o espectador, extasiado, viu passo a passo uma história que mereceu ser contada.

E não se trata apenas de Gianni Versace, já que também foi relevante conhecermos as histórias de Jeff Trail, David Madson e Lee Miglin (Mike Farrell) para questionarmos como a sociedade trata a homofobia e até quando vamos permitir que o preconceito cause tanta dor alheia.

Se a série não é perfeita, o importante é que o resultado final foi além do sensacionalismo da tragédia, mostrando ao espectador como aprender a criar empatia pelo ser humano - algo absolutamente em falta na nossa sociedade.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
AMERICAN CRIME STORY: O ASSASSINATO DE GIANNI VERSACE
Título Original:
American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace
Criação:
Ryan Murphy
Elenco Principal:
Darren Criss, Édgar Ramírez, Penélope Cruz, Ricky Martin
Emissora:
FX
País:

EUA
Número de episódios:
09
Transmissão Original:
18.2 a 21.3.2018
Transmissão Brasileira:
19.2 a 22.3.2018

COTAÇÃO DO KLAU:

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