quarta-feira, 1 de junho de 2011

ENTREVISTA: DEPUTADO JEAN WYLLYS

Na semana posterior ao Dia Nacional de Combate à Homofobia, parlamentares antigos no Congresso Nacional repetiram a mesma palavra para se referir ao deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ): "surpresa".

Novato na Câmara, o professor baiano que se tornou conhecido em 2005 no reality show Big Brother já é um dos principais líderes do movimento homossexual no país e, para ele, a causa ganharia força se outros colegas assumissem sua orientação sexual.

Em entrevista, Jean diz também que Clodovil Hernandes, morto em 2009 e primeiro deputado abertamente homossexual, tinha "homofobia internalizada", o que muitas vezes o colocava contra as bandeiras do movimento, mas pondera que não cobrava dele nem de nenhum parlamentar que se transforme em porta-voz dos LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais -, embora torça para que outros colegas revelem sua homossexualidade.

UOL
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ)

"Eu respeito a decisão de cada pessoa. Cada um tem seu próprio tempo. Elas não precisam igualmente implodir o armário e abrir relação ao mundo, podem manter sigilo", disse Jean, eleito com 13 mil votos no Rio de Janeiro.

"Eu identifico outros homossexuais aqui [no Congresso]. Mas não quero forçosamente denunciá-los nem tirá-los do armário. Pelo contrário, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Não cabe a mim dizer quem é."

O deputado de 37 anos, que iniciou sua trajetória política em grupos de jovens da Igreja Católica em Alagoinhas, no interior da Bahia, diz que "seria o céu de brigadeiro" se outros parlamentares abrissem sua orientação.

"Assim poderia mostrar que a bandeira do movimento é só uma das que a gente pode defender aqui. Eu, por exemplo, estou na Comissão de Tributação e Finanças. Defendo direitos dos trabalhadores. Todos podem", afirmou.

Marcado pela experiência no programa da TV Globo, Jean se esforça para desviar da associação imediata com o reality show que o enclausurou com outras pessoas por três meses e do qual saiu vencedor.
"Trago um acúmulo de movimento social para trabalhar na política. Mesmo aqueles que se opõem às minhas bandeiras têm um respeito comigo. Anthony Garotinho (PR-RJ), que é adversário, me chama para conversar", disse.

"Se houve baixa expectativa pelo meu mandato não foi por mim. Tem gente que acha que eu nasci em 2005, que abriu um ovo gigante e eu saí. Quando eu apareci para o grande público, já tinha 30 anos", afirmou o deputado, que se diz socialista desde a juventude.

“Isso não quer dizer franciscano, como se não pudesse usar iPhone. Essa é uma compreensão pobre do socialismo, que é uma questão de justiça social e de defesa das liberdades”, avalia.

É exatamente por sua defesa das liberdades individuais que colegas se referem a ele como "o primeiro deputado gay e não-homofóbico" da Câmara.

A alfinetada em Clodovil, diz Jean, também vale para muitas outras vítimas de preconceito. "Ele não tinha qualquer afinidade com a pauta histórica do movimento homossexual. Muito pelo contrário. Ele tinha homofobia internalizada, ele não tinha orgulho da orientação sexual dele", afirmou.

"Eu o conhecia, era uma pessoa muito gentil. Ele me respeitava e me admirava exatamente pelo orgulho e pela maneira de colocar publicamente. Eu o respeitava também, apesar dos pesares. Ele não era uma má pessoa, mas precisava de esclarecimento como tantos homossexuais que têm homofobia internalizada, mulheres que têm machismo internalizado e negros que têm racismo internalizado. O Brasil ainda tem muito a melhorar nisso", disse.

Jean, formado em jornalismo pela UFBA - Universidade Federal da Bahia - guarda poucas palavras para seu principal antagonista na Câmara, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ):
"Ele não está à minha altura, não discute nos mesmos termos. Ele é uma caricatura e eu sou um intelectual, professor universitário, tenho história política e sou um parlamentar sério" -  ex-militar, Bolsonaro se diz homofóbico e defensor da família contra os movimentos gays.

Mesmo em um partido que não lhe deu material de campanha em 2010, ele sugere que pode mirar cargos mais altos no futuro, sem especificar quais.
"Não vai demorar muito tempo para termos prefeito, governador ou presidente homossexual. Muita coisa já mudou e novas mudanças virão. Quem sabe eu não possa ser o primeiro? Ou uma nova liderança que se identifique?", afirmou.

Ao menos uma vez  Jean Wyllys já surpreendeu seus colegas.

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Matéria do jornalista Maurício Savarese, do UOL Notícias em Brasília

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