segunda-feira, 13 de junho de 2011

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO FINALMENTE GANHA A IMPORTÂNCIA DEVIDA NO EXTERIOR E SUA OBRA AGORA PASSA A SER VISTA COMO A OBRA DE UM ARTISTA POPULAR

Com a presença anunciada na Bienal de Lyon, em setembro, em mostras na Bélgica e na Espanha, também em 2011, e um dos principais destaques da 30ª Bienal de São Paulo, no próximo ano, Arthur Bispo do Rosário parece ocupar o espaço que lhe reivindicavam: o de um artista contemporâneo.

"Ele mesmo dizia que seria um grande artista e as pessoas iriam falar muito dele. Apresentá-lo como um louco é uma glamourização desnecessária", diz Wilson Lázaro, curador do Museu Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira, no Rio.

Há anos, trava-se um debate sobre como deve ser vista a obra de Rosário (1911-1989), interno da Colônia Juliano Moreira, um hospital psiquiátrico: como feita por um artista contemporâneo, um louco ou um criador popular.

Divulgação
Arthur Bispo do Rosário, artista plástico que viveu mais de 50 anos num manicônio
O artista plástico Arthur Bispo do Rosário, ao lado de uma obra de sua autoria, em imagem de 1997

A inserção internacional de Bispo do Rosário como artista contemporâneo teve início em 1995, quando foi apresentado, com Nuno Ramos, na 46ª Bienal de Veneza.

"Até hoje essa presença é lembrada por curadores estrangeiros, mas creio que foi um erro ter incluído o Bispo no módulo 'Imagens do Inconsciente', em 2000, levando-o novamente para o gueto dos loucos", diz Lázaro.

Agora, com presença confirmada em duas grande bienais, a conversão de Bispo em artista contemporâneo parece definitiva.

"Bispo está inserido num eixo importante dessa Bienal, que é pensar a produção artística como atividade intelectual que rompe as fronteiras do que se denomina artes visuais", conta a argentina Victoria Noorthoorn, curadora da 11ª Bienal de Lyon, que terá nove brasileiros.

Dessa forma, a curadora retira o debate da obra de Bispo de dentro do campo dos manicômios. 
"Todos os artistas são loucos, e acho que o Bispo é um dos menos loucos", diz ela, que leva 23 trabalhos do artista para a cidade francesa.

"Queria ter apresentado o Bispo já na Bienal do Mercosul, em 2009, mas questões financeiras impossibilitaram essa ideia", afirma.

A consagração de Bispo no exterior começou no último dia 31 de maio, no Instituto Valenciano de Arte, na Espanha, onde ele faz parte da mostra Gigante pela Própria Natureza,  que tem 51 brasileiros, entre eles, Cildo Meireles, Hélio Oiticica e Lygia Clark, com curadoria de Lázaro.

Bispo será tema também de uma mostra individual no museu Art & Marge, em Bruxelas, uma das mostras que restaram da curadoria de Paulo Herkenhoff para o festival belga Europalia, que tem o Brasil como tema.

A institucionalização do artista, porém, corre o risco de reduzir sua transgressão, lembra Lisette Lagnado, que cuidou de um módulo dedicado a ele na mostra Por que Duchamp,  em 1999.

Para ela, isso encobre uma cilada.
"A contínua busca de uma racionalidade para uma produção, cujo sentido não pode ficar vagueando sem rumo, assim como são suspeitos aqueles que divagam pelas ruas a esmo."

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