O munícipe de São Paulo que só quer enterrar com dignidade um ente querido sofre, e sofre muito.
A morte de um querido tio – ontem de manhã – foi uma sucessão de ‘burrocracias’ de fazer inveja aos torturadores da ditadura.
PRIMEIRO:
Ele morreu no Hospital Salvalus, que pertence à Green Line, plano de saúde que ele tinha faz tempo.
O médico do hospital – apesar dele estar internado desde sexta, não quis atestar a causa de sua morte - o que é ilegal - e essa omissão foi a desencadeadora de toda sorte de agruras, que duraram mais de 24 horas.
A omissão do médico obrigou minha prima, sua filha, a primeiro ir à delegacia fazer BO e o corpo aguardar translado para o SVO - Serviço de Verificação de Óbitos, gerido pela USP e que ocupa uma grande área na Av. Enéas Carvalho Aguiar, defronte ao PS do HC. – para autópsia.
Ele morreu domingo de manhã, o corpo só chegou ao SVO no começo da madrugada de hoje - o que aconteceu nesse meio tempo e o porquê da demora do translado hospital-SVO, ninguém sabe.
O serviço é centralizado, o que sem dúvida faz com que tudo demore muito mais.
SEGUNDO:
Aí sim, pudemos ir ao SVO, que como toda 'burrocracia', demora pra burro.
Pior: ainda tivemos de ir lá por três vezes para:
1. autorizar a autópsia
2. buscar o resultado da autópsia que libera o corpo, para só aí irmos ao serviço funerário contratar o enterro, e
3. voltar lá, já com o enterro contratado, com as roupas do morto e esperar e esperar e esperar o rabecão retirar o corpo e translada-lo finalmente ao cemitério Santana, onde foi sepultado hoje, às 11h – chegou às 9:10h e portanto, teve um velório muito rápido, justamente pela demora na liberação.
Levando a máxima do ‘SE PODEMOS COMPLICAR, PRA QUE FACILITAR?’, como prioridade, o SVO também tem uma grande área de estacionamento subutilizada: lá dentro, com mais de 40 vagas, só param os carros e motos de suas excelências, os funcionários.
Os parentes dos mortos – e tem de ser parentes em primeiro grau, se forem outros, tem de ir a uma delegacia primeiro pra pedir autorização – não podem parar lá dentro, os carros ficam estacionados na Enéas, sem polícia, sem nada – e aquele páteo enorme lá dentro, VAZIO...
O estacionamento subterrâneo da Estapar na Avenida, soube agora, funciona 24h, mas surpreendentemente não baixa seus preços - maiores que os dos bons shoppings da cidade - durante a noite, quando o movimento no complexo hospitalar do HC cai a menos de 10% do que é durante o dia – uma vergonha.
Entrada do Serviço de Verificação de Óbitos de SP - foto: Juliana Cardilli/G1
TERCEIRO:
O marido de minha prima - que estava nos documentos do hospital como responsável pelo sogro - recebeu desde minutos depois da sua morte várias e várias ligações de funerárias oferecendo seus serviços.
Se o serviço na cidade de São Paulo é estatal, da Prefeitura, o que essas funerárias – de cidades da grande São Paulo – querem?
Como conseguem nome e telefone dos responsáveis?
Lógico, alguém do hospital passa a informação - UMA VERGONHA, HOSPITAL SALVALUS, UMA VERGONHA, GREEN LINE!
QUARTO:
Todo monopolio é um desserviço ao cidadão, e o Serviço Funerário do Município de São Paulo não foge à regra.
Entra governo, sai governo, o serviço é loteado ao PC do B, que enche a repartição dos seus apaniguados e nada faz para melhorar a qualidade dos serviços que presta à população.
Atestei isso, porquê enterrei uma tia dois anos atrás – era o governo Kassab – e hoje - já no governo Haddad - não vi melhora nenhuma, a começar pelas acanhadíssimas instalações do serviço no prédio do velório do Cemitério Araçá, que como agência central deveria ao menos ter cadeiras dignas para os munícipes se sentarem – todas estão rasgadas e com o estofamento saindo, uma vergonha.
A contratação do funeral e todo o serviço não tem variedade – os caixões vão do eucatex puro e simples aos esquifes, sem muitas opções intermediárias.
CUIDADO NESSA HORA:
O atendente do serviço funerário - e que também é o vendedor dos caixões - oferece também toda sorte de supérfluos para ganhar mais: uma coroa de flores custa quase tanto quanto o caixão, cada vela custa R$ 50, e assim por diante.
Na hora, o marido de minha prima cortou todos os penduricalhos e conseguiu um bom preço, mas utilizar-se da dor e eventual desatenção das famílias para vender mais é de uma crueldade atroz.
Tudo isso aconteceu com três pessoas esclarecidas.
Imaginem o que deve acontecer com as famílias mais humildes dessa cidade.
Vergonha de ser paulistano.
#PRONTOFALEI
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