sexta-feira, 17 de maio de 2013

FESTIVAL DE CANNES: SEXTA TEVE ROUBO DE JÓIAS E TIROTEIO REAIS, JANE CAMPION, OZON, FARHADI E JACKIE CHAN


O Festival de Cannes teve um dia agitado hoje, com o roubo de joias da marca Chopard em um quarto de hotel e tiros de balas de festim disparados por um homem nas imediações do estúdio do programa 'Grand Journal' do Canal+, que era transmitido ao vivo da Croisette - avenida à beira mar da linda cidade da Riviera Francesa.

As joias da Chopard, avaliadas pela polícia em 1,4 milhão de dólares, estavam em um cofre no quarto do hotel Novotel de uma funcionária americana da Chopard e foram roubadas à noite.

Esse valor foi contestado pela marca suíça, fornecedora de joias para estrelas que desfilam pelo tapete vermelho e concorrem à Palma de Ouro, que menciona um valor "bem abaixo dos números anunciados".
"As peças roubadas não fazem parte da coleção destinada às atrizes durante o Festival de Cannes", indicou uma porta-voz da Chopard.

O cofre que continha as joias teria sido retirado do armário do quarto e depois levado, de acordo com uma fonte policial.

A Chopard é a principal joalheria das estrelas no festival.
Este ano, a célebre marca suíça de joias e de relojoaria já emprestou joias a Julianne Moore, Lana Del Rey, Cindy Crawford, à atriz chinesa Fan Bing Bing e à espanhola Blanca Suarez.

Como parte de uma parceria com o Festival de Cannes, a Chopard fornece todos os anos a Palma de Ouro, joia de 118 gramas de ouro que recompensa o melhor filme da competição oficial, é avaliada em mais de 20.000 euros e será entregue no dia 26 de maio no final do Festival - a Palma de 2013 está em segurança, garantiram os organizadores.



Policial defronte ao Novotel de Cannes, momentos após o roubo ter sido divulgado - foto: AFP

Todos comentaram que o roubo lembrou muito a trama do filme "Ladrão de Casaca" (1955) - de Hitchcock, estrelado por Cary Grant e Grace Kelly e filmado em parte no Carlton de Cannes, sobre uma série de roubos misteriosos de joias nos palácios da Riviera Francesa.

Já no começo da noite, a Croisette foi agitada novamente, quando um homem armado com uma pistola de festim e com uma granada falsa atirou duas vezes para o alto perto do cenário montado à beira mar do programa 'Grand Journal' do Canal +, que era transmitido ao vivo e que desencadeou um breve pânico, mas sem deixar feridos.

"Foi um indivíduo de 42 anos que utilizou sua arma nas proximidades do estúdio. Era um desequilibrado que logo foi detido pela polícia", declarou à AFP Marcel Authier, diretor do Departamento de Segurança Pública (DDSP) dos Alpes Marítimos.

Segundo fontes policiais, o homem, que também estava armado de um canivete, foi colocado sob custódia.

'O Grand Journal', que no momento entrevistava ao vivo os membros do juri do festival desde ano, Christoph Waltz e Daniel Auteuil, retomou sua transmissão às 20h35.

Confira matéria sobre os dois incidentes do 'Jornal do SBT':


Voltando a falar do festival e de filmes, a neozelandesa Jane Campion - diretora, entre outros filmes, de "O Piano" - recebeu ontem a 'Carruagem de Ouro', homenagem feita pelo próprio grêmio à independência, ambição e ousadia dos premiados.

A cerimônia aconteceu na abertura da 'Quinzena de Produtores', mostra paralela que a recebeu com um aplauso e que elogiou "uma das poucas cineastas capazes de refletir as emoções mais difíceis e sutis".

Campion tem uma longa carreira, na qual também se destacam "Retratos de Uma Mulher" (1996) e "Fogo Sagrado!" (1999), dedicou o prêmio ao francês Pierre Rissient - que em 1986, como responsável pela seleção de filmes do festival, descobriu três curtas da diretora e a encorajou a apresentá-los.

Um deles - "An Exercise in Discipline - Peel" - ganhou no mesmo ano a Palma de Ouro de melhor curta-metragem e representou o início de uma relação com Cannes que atingiu seu auge ao levar outra Palma de Ouro com "O Piano", que deu ainda o prêmio de melhor atriz para Holly Hunter.

Jane Campion é cumprimentada pela atriz Nicole Kidman - membro do júri principal desta edição - após seus discurso em que recebeu a 'Carruagem de Ouro' - foto: Paris Match

Jane, que nesta 66ª edição é presidente do júri de curtas-metragens e do 'Cine Fundación', dedicou o prêmio ainda a todos os diretores que a precederam em Cannes na lista de premiados e que com suas vozes e histórias, segundo explicou ao pegá-lo, a "educaram" como cineasta.

"A paixão que sinto por eles me fez querer ser diretora", concluiu em seu discurso, dizendo esperar que esse reconhecimento que dá à Sociedade de Produtores de Filmes (SFR) reflita "de alguma maneira" ter estado à altura de suas aspirações.

Ainda na quinta à noite, "Jeune et Jolie", filme de François Ozon, primeiro de quatro produções francesas na disputa pela Palma de Ouro, foi exibido.

O longa esboça o retrato de uma adolescente - a bela Marine Vacth - que mergulha na prostituição sem necessidade, sem um motivo aparente, como Catherine Deneuve em "A Bela da Tarde" (1967), obra prima do diretor Luis Buñuel.

Isabelle, jovem estudante - Lea para os clientes - se relaciona com homens maduros pela internet.
"É estudante? Ah, é a crise", diz um deles, referindo-se a um crescente fenômeno de estudantes que se prostituem ocasionalmente para arcar com suas despesas.

Marine Match como Lea, em cena de "Jeune et Jolie", de François Ozon - foto: Divulgação

"A ideia era fazer um retrato de uma jovem de hoje ancorado em uma certa realidade, mas sem dar todas as respostas, compartilhar com os espectadores o mistério de Isabelle", declarou Ozon após a exibição de seu filme para a mídia - que reagiu com aplausos.

Confira um teaser de "Jeune et Jolie":


O sexo também foi destaque no evento dois anos depois do escândalo de Dominique Strauss-Kahn, em pleno Festival de Cannes.

O ex-diretor do FMI voltou a dar o que falar, pois foram revelados os primeiros trechos do filme de Abel Ferrara "Welcome to New York", que narra sua queda em desgraça.

As imagens de forte cunho sexual do filme, protagonizado por Gerard Depardieu, que interpreta DSK - que não tem seu nome pronunciado - e pela Diva britânica Jacqueline Bisset, no papel da sua esposa, circulam em Cannes.

Já nessa sexta, o premiado diretor iraniano Asghar Farhadi apresentou "Le Passé", seu primeiro filme rodado na França e com boa parte do elenco francês.

"Le Passé" segue um caminho parecido do longa mais conhecido do diretor - "A Separação": é um drama familiar intenso sobre uma mulher, Marie (Bérénice Bejo, de "O Artista"), que recebe em sua casa, em Paris, a visita do ex-marido iraniano, Ahmad (Ali Mosaffa), que hoje mora em Teerã e que ela não vê há quatro anos - ele retorna para que eles oficializem os papéis do divórcio.

Marie agora mora com o marido, Samir (Tahar Rahim, de "O Profeta"), dono de uma lavanderia, e três filhos – dois de um casamento anterior a Ahmad e o terceiro é um menino filho de Samir.

Uma tragédia assombra a família: a ex-mulher de Samir vive em coma após tentar se matar quando descobriu a nova relação do marido e Lucie, a filha mais velha, não aceita a situação e vive deprimida.

Tahar Rahim e Berenice Bejo posam durante sessão de fotos para divulgação do filme "Le Passé" - foto: Loic Venance/AFP

Como em "A Separação", esse ato do passado encobre alguns segredos que proporcionam boas reviravoltas na parte final.

A Diva francesa Marion Cottilard - Oscar de melhor atriz por "Piaf" - era a primeira opção de Farhadi para o papel de Marie, mas teve de abandonar o projeto por problemas de agenda.

Ao final da projeção, o longa recebeu aplausos da mídia presente.

Confira o trailer de "Le Passé":


Quem deu o ar da graça hoje em Cannes foi a lenda Jackie Chan, que veio divulgar seu novo filme, "Skiptrace".

Chan deu uma concorrida entrevista a bordo de um luxuoso iate, disse que aceitou largar as cenas perigosas e que agora quer papéis mais sérios, mas sem nunca deixar de ser um astro de ação.

Aos 59 anos o ator nascido em Hong Kong disse que não é mais capaz de fazer sozinho as cenas mais físicas, pois demora muito para se recuperar de qualquer lesão.

Jackie Chan posa no iate onde concedeu entrevista hoje em Cannes - foto: Reuters

"Não sou super-herói", disse Chan à Reuters.

"Realmente quero ser mais como um Robert de Niro asiático, capaz de fazer todo tipo de coisa - comédia, drama, papéis pesados", afirmou, acrescentando que adoraria interpretar um vilão.

Depois de estrelar mais de 150 filmes ao longo de mais de quatro décadas, ele disse no ano passado que iria se aposentar dos grandes filmes de ação depois de "Chinese Zodiac 2012", lançado em dezembro.

Mas ele admite que em "Skiptrace" acabou fazendo mais um filme do gênero.

"Todo astro de ação sempre diz (que vai parar), mas no final precisa fazer de novo. Que nem o (Sylvester) Stallone, ele nunca para. Como eu, nunca vou parar.Mas a vida de um astro de ação é muito curta. Quero que o público saiba que sou um ator que sabe brigar. Não sou um astro de ação que sabe atuar."

Finalizando o dia em Cannes, foi exibido "A Touch of Sin" ("Tian Zhu Ding"), do diretor Jia Zhangke, corrosivo painel sobre a China contemporânea e que disputa a Palma de Ouro sem ter sido censurado pelas autoridades chinesas, que vigiam com rigor as obras do país.

O longa, muito ambicioso, foi exibido para a imprensa e relata quatro histórias, entre elas uma sobre uma trabalhadora sexual em um bordel de luxo, que refletem uma sociedade em plena mutação, na qual o capitalismo desenfreado gera uma grande desigualdade e uma colossal falta de humanidade.

O protagonista de uma das histórias, ambientadas em quatro províncias do gigante asiático, é Dahai, operário de Shanxi, que se rebela contra a corrupção dos dirigentes locais e recebe um castigo digno dos filmes de Quentin Tarantino.

A personagem de outro relato é uma recepcionista em uma sauna de Hubei, no centro da China, que vira uma lutadora quando um cliente tenta abusar dela.

O episódio, como o título do filme, faz referência a "A Touch of Zen", do taiwanês King Hu, um clássico das artes marciais de 1969.

O protagonista do último segmento, talvez o mais triste, é um jovem de Dongguan (sudeste), que, pressionado pelo trabalho, pela família e pela falta de esperanças, se joga pela janela de um prédio.

Shozo Ichiyama, Lik Wai Yu, Meng Li, Wang Baoqiang, Wu Jiang, ,Zhangke Jia, Tao Zhao e Lanshan Luo divulgam "Tian Zhu Ding" no Festival de Cannes 2013 - foto: Valery Hache/AFP
Em entrevista à AFP, o diretor explicou que todas as histórias são baseadas em eventos reais, conhecidos por quase todos na China.

"Muitas pessoas na China enfrentam crises pessoais pela grande desigualdade entre ricos e pobres", disse o diretor de 43 anos.

"Antes, em meus filmes eu tentava relatar a vida cotidiana. Neste eu tinha vontade de ir mais longe. Com o desenvolvimento fulgurante da sociedade chinesa, há muitas coisas que se tornam extremas. E quando digo extremo, digo violência", disse Jia Zhangke.

Quando as primeiras cenas do filme foram divulgadas há alguns dias no Youku - o Youtube chinês -, os internautas previram que o longa-metragem nunca será visto no país em consequência da censura do regime comunista.

Mas Jia afirma que "A touch of sin" poderá ser assistido nos cinemas chineses.

"Recebi a autorização antes de viajar a Cannes. É uma boa notícia", afirmou o cineasta.

"Estamos entrando em uma era na qual você é seu próprio meio de divulgação. Há muitas decisões que são tomadas por meio do twitter", afirmou.

O filme, parcialmente produzido por recursos chineses, foi aplaudido na sessão para a imprensa.

Esta é a terceira participação do diretor em Cannes, onde nunca foi premiado.

"O que mais me interessa é que o filme seja assistido por muitas pessoas, que provoque discussões, que provoque reações. Esta seria a maior recompensa", concluiu.

Confira o trailer de "A Touch of Sin":

Na mostra paralela 'Semana da Crítica', o destaque foi o filme italiano "Salvo", de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, que conta a história de um assassino da máfia, Salvo (interpretado pelo palestino Saleh Bakri), que deve matar Rita (Sara Serraioco), cega de nascimento, e que acompanha impotente o assassinato do irmão.

No momento em que Salvo deve matar Rita, algo acontece, Rita recupera a visão e o mafioso desiste do crime, o que une o destino de ambos para sempre.

Confira o trailer de "Salvo":


Segundo a revista "Hollywood Reporter", a produtora Independent Film anunciou hoje que conseguiu o financiamento total de US$ 60 milhões para o novo filme de Bruce Willis - o thriller de ação "Expiration".
No filme, Willis viverá um matador que é envenenado e precisa encontrar uma cura para o veneno antes que ele faça efeito.

Foi anunciado também nesta sexta em Cannes que Scarlett Johansson agora quer ser diretora e vai assinar seu primeiro longa-metragem - "Summer Crossing", baseado num livro do escritor Truman Capote que ficou desaparecido durante anos.

O filme contará a história de uma garota de 17 anos durante o verão de 1945, que deixa de viajar a Paris com a família para manter um romance com um empregado.

Scarlett Johansson em Cannes, hoje - foto: Hollywood Reporter
Antes da nova empreitada, Scarlett havia dirigido um curta-metragem de seis minutos em 2009 chamado "These Vagabond Shoes".

Já a revista "Variety", que circula diariamente em Cannes, publicou hoje três páginas de reportagem com um balanço do momento atual do cinema brasileiro.

A reportagem lembra que o país teve um aumento de 10% no número de cinemas desde 2008 e vendeu 164% mais ingressos no período.

A previsão para 2013 é que os filmes brasileiros fiquem com 18% da bilheteria do ano, um bom aumento em relação à média de 13% obtida desde 2001.

A revista destaca filmes prontos a serem lançados no Brasil, como "Flores Raras" e "Faroeste Caboclo", projetos em andamento como o coletivo "Rio, Eu Te Amo" e ainda cinco novas promessas do cinema brasileiro: Fernando Coimbra, que finaliza seu primeiro longa, "O Lobo atrás da Porta"; Ricardo Targino, que prepara "Quase Samba"; Marco Dutra, diretor de "Trabalhar Cansa" que finaliza seu segundo longa, "Quando Eu Era Vivo"; o diretor e produtor Rodrigo Letier, que prepara a comédia "Julio Sumiu"; e Afonso Poyart, diretor de "Dois Coelhos", atualmente em Hollywood para dirigir "Solace", com Colin Farrell e Sir Anthony Hopkins.

Para um país que não tem nenhum filme na edição 2013 de Cannes, tá de bom tamanho, né?
*****
Com agências internacionais, Belinda Goldsmith e Tiago Stivaletti

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