sábado, 18 de maio de 2013

FESTIVAL DE CANNES: O SÁBADO TEVE DRAMA FAMILIAR JAPONÊS, BENICIO DEL TORO, SCORSESE, OS OSCARIZADOS IRMÃOS WEINSTEIN E 'KAMA SUTRA 3D'


"Soshite Chichi Ni Naru" (Tal Pai, Tal Filho), do diretor japonês Kore-eda Hirokazu, que fala sobre troca de bebês e que põe em questão a natureza versus criação, estreou hoje no Festival de Cinema de Cannes e já se tornou um dos favoritos ao prêmio principal - o longa é um dos dois filmes japoneses da lista de 20 que tentarão levar para casa em 26 de maio a Palma de Ouro, o prêmio principal do maior festival de cinema do mundo, realizado na Riviera Francesa.

O Japão já venceu por quatro vezes - a mais recente em 1997, com "A Enguia" (Unagi), de Shohei Imamura e a outra produção do país na mostra deste ano é o thriller policial "Wara No Tate" (Escudo de Palha), de Takashi Miike.

O filme de Kore-eda é estrelado pelo cantor e ator Masaharu Fukuyama como o alcoólatra Ryota que, com sua meiga esposa - Midori, interpretada por Machiko Ono - educa o filho Keita, de 6 anos, para que conquiste o sucesso.

Sua vida familiar vista exteriormente como perfeita é rompida um dia depois de o hospital onde Keita nasceu informar que cometeu um erro, pois o menino não é seu filho biológico.

"Por que eu não percebi? Eu sou uma mãe!", lamenta Midori depois da revelação, que obriga o casal a tomar uma decisão angustiante: manter Keita como seu filho ou desfazer a troca de crianças.

O filme encontra momentos de humor e humanidade quando Ryota e Midori conhecem o casal - interpretado por Yoko Maki e Lily Franky - que ficou com seu filho biológico.

Lojistas, de classe social diferente do casal Fukuyama, eles ficam horrorizados com o comportamento de Ryota, que os vê como simplórios, incapazes de criar seu filho.

Mas a primeira impressão é ofuscada pelo reconhecimento da afetuosidade e evidente amor por seu filho.

A partir da esquerda: os atores Masaharu Fukuyama, Keita Ninomiya e Machiko Ono, o diretor Hirokazu Kore-eda, e os atores Yoko Maki, Shogen Hwang e Lily Frank apresentam 'Soshite chichi ni naru' em Cannes neste sábado - Foto: Anne-Christine Poujoulat/AFP

"Eu queria criar esta reviravolta total na moralidade do personagem principal", comentou Kore-eda com os jornalistas.
"Queria criar um verdadeiro choque em sua mente."

O emotivo filme de Kore-eda contrasta com os primeiros quatro dias da competição, marcados por obras com temática de violência, como o mexicano "Heli", que inclui uma doentia sequência de tortura, enquanto no filme chinês "Tian Zhu Ding" um homem é levado a promover ataques sangrentos depois de fracassados esforços para deter autoridades corruptas.

Confira o trailer de 'Soshite chichi ni naru':


Já em "Jimmy P.", do francês Arnaud Despleschin, filme com tema freudiano, o ator Benicio del Toro interpreta um índio americano que combateu na Segunda Guerra Mundial.

O filme - que também concorre à Palma de Ouro - é baseado no livro "Psicoterapia de um índio das planícies", que relata os diálogos entre James Picard (Del Toro) e o antropólogo e psicanalista francês Georges Dévereux, interpretado por Mathieu Amalric, na famosa clínica Menninger de Topeka, Kansas, em 1948.

Dévereux curou Jimmy, um índio da tribo Blackfoot, das severas dores de cabeça que sofria, que não eram causadas pelos ferimentos sofridos na guerra nem por esquizofrenia, como se acreditava, mas por traumas de infância e juventude.

"Conhecer a situação dos índios americanos foi fundamental para entender meu personagem", declarou o ator de origem porto-riquenha, que divide todo o peso do filme com Amalric.

O ator Benicio del Toro chega para a coletiva, agora pouco - foto: News Times

Del Toro, 46 anos e que foi premiado em Cannes 2008 pelo papel de Ché Guevara no filme "Che", de Steven Soderbergh, explicou que quando Desplechin enviou o roteiro, o que mais chamou sua atenção foi a originalidade do tema.

"Leio muitos roteiros e este me impactou por sua originalidade", afirmou Del Toro em uma entrevista coletiva em Cannes após a exibição do filme à imprensa, que o aplaudiu, mas sem o entusiasmo quase unânime provocado na véspera por "Le passé", do iraniano Asghar Fahradi, já considerado um favorito à Palma de Ouro.

O ator - que ano passado integrou o júri internacional que atribuiu a Palma de Ouro ao filme "Amor" de Michael Haneke - destacou que o que mais o interessou no trabalho, para o qual estudou a fala e o sotaque dos índios da tribo, foi "o encontro de dois seres humanos".

Despleschin - diretor de filmes como "Reis e Rainha" (2004) - concordou que o longa-metragem fala do "encontro entre dois homens e da amizade que surge entre eles, o que está no coração da história".

Apesar do cineasta francês, de 53 anos, demonstrar grande habilidade ao traduzir para linguagem cinematográfica o interessante caso psicanalítico, e das grandes interpretações de Del Toro e Amalric, o tema de "Jimmy P." é extremamente árido.

No ano passado, um filme sobre Sigmund Freud exibido em uma das mostras do Festival de Cannes saiu do evento sem prêmios e foi um fracasso nas bilheterias.

Confira o trailer de "Jimmy P.":


Quem também está em Cannes é o diretor americano Martin Scorsese, que veio para arrecadar fundos para o seu sonhado longa 'Silence'.

Scorsese falou sobre o novo projeto.
"O assunto é muito próximo ao meu coração. Estive trabalhando nele desde que eu li o livro (obra homônima de Shusaku Endo) em 1989."

Tendo finalmente superado questões legais e com um roteiro escrito por Jay Cocks ('A Época da Inocência', 'Gangues de Nova York'), Scorsese pretende filmar em 2014 e descreve o projeto como um "filme menor", exigindo uma "abordagem menor, mais interna", mas solta sua famosa risada quando admite que "há luz do sol".

A trama de 'Silence' fala sobre dois padres jesuítas que enfrentam violência e perseguição quando saem de Nova York para o Japão a fim de difundir o cristianismo - um filme, sem dúvida, pessoal para o diretor.

O diretor americano Martin Scorsese, hoje em Cannes - foto: The Film Stage

"Ele volta a questão de crescer em Nova York, viver em uma área muito difícil, e também sobre a Igreja. É semelhante a 'Caminhos Perigosos' de certa forma. Trata de questões espirituais em um mundo concreto, físico, um mundo onde, invariavelmente, o pior da natureza humana é revelado."

Mas o cineasta também se refere a 'Silence' como um "filme com elementos de suspense combinados a temas que foram evidentes em 'Kundun' e 'Vivendo no Limite'".

Andrew Garfield já está confirmado no elenco e o diretor já tem outros atores em mente para papéis importantes - "mas isso ainda é segredo", finalizou Scorsese.

DROPS DA RIVIERA

1.
Como todo ano, os irmãos Bob e Harvey Weinstein atraíram muitos jornalistas para anunciar os filmes que devem lançar até o final do ano – muitos deles acabam se tornando grandes indicados ao Oscar.

Assim, a Diva Nicole Kidman deu um tempo na sua agenda de membro do júri do festival para falar sobre "Grace of Monaco", a cinebiografia de Grace Kelly que os Weinstein lançam no dia 27 de dezembro nos EUA.

"Pude conhecer e pesquisar muito sobre Grace e acabei me apaixonando por ela", disse a atriz.

Os Weinstein falaram ainda sobre o aguardado "The Butler" (O mordomo), de Lee Daniels ("Preciosa"), sobre um mordomo que trabalhou durante anos na Casa Branca, foi íntimo de diversos presidentes americanos e que tem no elenco Oprah Winfrey e Forrest Whitaker.

Mas o mais oscarizável de todos parece ser "August: Osage County", estrelado por Meryl Streep e Julia Roberts, sobre uma família bastante disfuncional, baseado numa peça da dramaturga Tracy Wells premiada com o Pulitzer.

Harvey Weinstein fez piada sobre a participação de Nicole Kidman no júri de Cannes: quando a atriz teve que sair para uma reunião do júri, disse: "se Deus quiser ela está indo decidir qual dos meus filmes vai ganhar a Palma de Ouro. Eu com certeza dei muito dinheiro a Steven (Spielberg) ao longo dos anos".

Nicole Kidman, hoje em Cannes - foto: AFP
2.
E a bruxa continua solta em Cannes: hoje, descobriu-se que diversas produtoras que vieram ao festival para fazer negócios no Mercado de filmes foram lesadas em milhares de euros por serviços fraudulentos de hospedagem online.

As produtoras chegam ao festival e descobrem que, apesar de já terem pago a reserva, a acomodação não existe – e aí precisam correr para realocar seu pessoal em algum dos pouquíssimos lugares ainda disponíveis na cidade.

A produtora de um filme selecionado pela mostra paralela 'Quinzena dos Realizadores' teve que encontrar de última hora um lugar para o diretor e o elenco do filme.

3.
A produtora brasileira RT Features, de Rodrigo Teixeira, entrou como coprodutora da ficção científica que será dirigida pelo americano James Gray, ainda sem título definido.

Gray está em competição este ano em Cannes com "The Immigrant" - estrelado por Joaquin Phoenix, Jeremy Renner e Marion Cottilard. 

O novo filme será escrito em parceria com Ethan Ross, um dos roteiristas da série "Fringe".

4.
Aproveitando as comemorações de cem anos de cinema indiano, uma produtora da Índia está anunciando no festival o filme "Kamasutra 3D", chamando-o de "o épico de todos os épicos".

Segundo o site do filme, a história gira em torno de "uma linda princesa indiana que sai em viagem à procura do marido. Na viagem, ela passa por transformações em seu corpo, mente e alma com um passageiro que a leva para um mundo proibido de amor sexual e sensualidade".

Ah, vá!

*****
Com Agências Internacionais, Alexandria Sage,Thiago Stivaletti (UOL), Total Film e revistas Variety e Screen

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