terça-feira, 21 de maio de 2013

FESTIVAL DE CANNES: ULTRA HÉTEROS, MICHAEL DOUGLAS E MATT DAMON DÃO SHOW DE INTERPRETAÇÃO COMO CASAL GAY EM 'BEHIND THE CANDELABRA', NOVO LONGA DE STEVEN SODERBERGH


O Festival de Cannes atingiu seu ponto alto nessa terça, quando dois conhecidos atores heterossexuais e um diretor provocativo e polêmico apresentaram ao público presente uma história real de amor gay com muito beijo na boca, uma boa dose de viadagem, luxo, sexo, show bizz e traições.

O premiado diretor Steven Soderbergh se despediu do cinema com um filme sobre o conturbado amor entre o excêntrico pianista Liberace e seu jovem amante Scott Thorson - interpretados no filme por Michael Douglas e Matt Damon - e que disputa a Palma de Ouro em Cannes.

O diretor confirmou à imprensa hoje que "Behind the Candelabra", que  estreou mundialmente em Cannes, será seu último filme, pelo menos por um tempo.

O longa foi considerado "gay demais" por vários estúdios de Hollywood - que não quiseram financia-lo - e vai ser exibido somente no canal HBO nos EUA.

"Vou fazer uma pausa (do cinema), mas não posso dizer quanto tempo vai durar. Não posso afirmar que será o último filme que vou fazer", disse Soderbergh, que tem vontade de explorar outras formas de expressão, depois de uma trajetória de 25 anos na sétima arte.

O longa retrata à perfeição Wladziu Valentino Liberace, pianista e cantor que morreu em 1987 e que sempre temeu que a divulgação da sua homossexualidade arruinasse sua carreira.

O ultra hétero Michael Douglas encarna a lenda do show bizz americano,  com seus ternos de lamê, candelabros dourados sobre o piano, maquiagem pesada, peles, perucas, lantejoulas e que tinha prazer em desembarcar direto no palco de um Rolls Royce branco.

O ator americano de 68 anos, que foi diagnosticado com câncer de garganta em 2010, contou em Cannes que a rodagem do filme precisou esperar até o fim da sua luta contra a doença.

"Me sinto muito grato por terem me esperado. Foi um presente", disse um emocionado Michael, filho de outra lenda de Hollywood, Kirk.

Lógico que, diante de um depoimento tão emocionado de um ator do quilate de Michael, nem a mídia, nem sua mulher - a diva Catherine Zeta-Jones, também presente - aguentaram e corresponderam com calorosos e demorados aplausos.

Matt Damon, outro ultra hétero, dá vida ao amante de Liberace, o jovem Scott Thorson, que chega a passar pelo bisturi para agradar o seu amado.

No tapete vermelho da première de 'Behind the Candelabra' agora pouco - da esq. para a direita: o roteirista Scott Thorson, o diretor Steven Soderbergh, Michael Douglas, o produtor Jerry Weintraub, Matt Damon e o roteirista Richard LaGravenese - foto: Danny Martindale/WireImage

Soderbergh revelou na entrevista que se seguiu após a sessão que começou a pensar em fazer um filme biográfico sobre Liberace há 13 anos - quando trabalhou com Douglas em "Traffic".

Quando comentou a ideia com Douglas, a lenda pensou que o cineasta estava brincando - Michael, conhecido por seus papéis de macho, não se imaginava interpretando uma bichona, e relutou até finalmente aceitar o papel.

Só que ele ficou doente, enfrentou um longo tratamento de câncer, mas Soderbergh o manteve tranquilo todo o tempo, dizendo que o seu Liberace era ele, Michael, e mais ninguém - Douglas se emocionou e chorou ao contar que se encantou com o roteiro de primeira.

 A lenda também  se lembrou que, quando tinha 12 anos, Liberace o visitou na casa de seu pai Kirk, em Palm Springs.
"Ele chegou numa Rolls Royce conversível, com muitos anéis e a peruca um pouco fora do lugar. Era um grande artista, muito generoso. No estilo, Liberace é como um padrinho para Elton John e Lady Gaga", disse.

Douglas confessou também na coletiva que esse desafio - de fazer um personagem tão diferente de tudo o que já tinha feito - foi o que o moveu em direção à cura - lógico, foi novamente ovacionado.

É muito raro que um filme direcionado para a televisão, como esse, participe da competição do maior festival de cinema do planeta, mas Soderbergh é um diretor de imenso prestígio que, mesmo diante da recusa de financiamento dos grandes estúdios de Hollywood, foi esperto o suficiente para negociar com o canal de TV HBO, do conglomerado Time Warner, que não só liberou o dinheiro, como garantiu sua exibição.

"Eles calculavam que seria preciso US$ 25 milhões para divulgar o filme, e havia o medo de que só interessasse ao público gay. Mas é difícil apenas ler o roteiro e imaginar como seriam essas grandes performances", disse Soderbergh.

"Acho que o problema dos estúdios não foi com a questão gay. Eles simplesmente não querem perder tempo com filmes pequenos", disse Douglas.

Liberace pode ser considerado um pré Élton John do show bizz: fez pequenos papéis em Hollywood, assinou a trilha sonora de filmes como "Sincerely Yours", teve um programa de sucesso na TV americana - "The Liberace Show" - e deu show de interpretação ao interpretar um pianista bichérrimo chamado Chandell (ou seja, ele mesmo) e seu irmão gêmeo (gângster e muito macho), num dos episódios da cult série "Batman" (1966-1968) que eu mais gosto.

Foi também o primeiro grande astro - além de Frank Sinatra - a assinar para uma longa temporada em cassinos de Las Vegas, caminho que agora até Cher e Celline Dion seguiram.

É dele uma das mais famosas frases do show bizz americano.
Quando lançava um novo disco e a crítica caía de pau, Liberace dava entrevistas, lembrava que os cachês em Las Vegas eram pagos toda noite após o show em dinheiro vivo recolhido das apostas e comentava: 
"A crítica me deixa muito triste, tanto que, toda manhã, quando eu chego no banco com meus quatro sacos grandes de dinheiro pra depositar, o gerente já vem me receber com um lenço..."

Sem nunca sair do armário publicamente, Liberace morreu de Aids em 1987, mas seu atestado de óbito diz que foi de "ataque cardíaco".

O filme começa em 1977, com um Liberace (Michael Douglas) já no auge do sucesso, principalmente entre o público feminino – mas que naquela época fingia não perceber que ele era não só gay, como bichíssima.

Ele conhece o jovem Scott (Matt Damon) e o leva para morar com ele em sua mansão.

O romance entre os dois vai bem, até que Liberace, famoso por seu furor sexual, começa a sair com outros homens e Scott se afunda nas drogas.

O título do longa é o mesmo do livro de Scott - onde ele entrega toda a relação dos dois.

Michael Douglas e Matt Damon, em cena de "Behind the Candelabra" - reprodução/Vanity Fair

Segundo os jornalistas presentes à sessão em Cannes, Douglas dá um show de interpretação ao compor um Liberace exuberante, mas que nunca cai na caricatura.

Sem medo de se exporem, os dois grandes atores demonstram a grandeza do seu talento em cada fotograma do longa.

Ao final da sessão, o longa foi ovacionado de pé.

Soderbergh – que tem seu trabalho anterior, "Terapia de Risco", em cartaz aqui em SP e que levou a Palma de Ouro em Cannes 1990 por "Sexo, Mentiras e Videotape" – não economiza nas cenas de beijo na boca entre Damon e Douglas - há até uma cena de sexo entre os dois, mas filmada de maneira mujito discreta.

Damon contou na coletiva que não teve nenhum problema em rodar a cena.

"Agora tenho algo em comum com a Sharon Stone, a Glenn Close, a Demi Moore... Posso trocar algumas histórias com elas", brincou Damon, para delírio e risadas da plateia.

Em algumas cenas, Damon aparece nu de costas com uma absurda marca de fio dental.

O próprio ator falou a Soderbergh sobre uma técnica brasileira de bronzeamento artificial do qual ele tinha ouvido falar.
"Quando Matt me contou sobre esse bronzeamento, achei que o mundo precisava conhecer isso", brincou o diretor.

Damon completou:
"Avisei a todo mundo no set que era algo que eles não conseguiriam deixar de olhar, mas que não era pra se empolgar".

O canal HBO EUA estreará "Behind the Candelabra" no próximo domingo, quando o júri do Festival de Cannes, presidido pelo cineasta e produtor Steven Spielberg, anunciará os vencedores da edição 2013.

A HBO BRASIL também promete exibir o longa até o final do ano.

Confira o trailer do longa:
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Com Daily Mail e Agências Internacionais

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