Primeiro filme do diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche em Cannes, a história de amor entre duas jovens recebeu críticas muito positivas no Festival hoje.
"La Vie d'Adele - Chapitre 1 & 2" ("Blue is the Warmest Colour") é uma comovente história de amor e sexualidade entre a adolescente de 15 anos Adele - interpretada brilhantemente por Adele Exarchopoulos - e sua parceira Emma (Lea Seydoux).
As cenas de sexo explícito e as três horas de duração fizeram do filme um dos mais comentados entre os 20 concorrentes à Palma de Ouro.
As prolongadas cenas de sexo vão causar impacto, podem diminuir o alcance do filme devido à precaução das distribuidoras, mas a mídia gostou.
Kaya Burguess, do London Times, chamou o longa de "uma das mais bonitas e discretamente contadas histórias de amor que já vi num filme."
Jordan Mintzer, do Hollywood Reporter, escreveu: "Com certeza levantando sobrancelhas com suas cenas sem simulação de cópula feminina, o filme é na verdade muito mais do que isso: é uma apaixonante história de amor contada de forma comovente."
Kechiche disse a jornalistas que não era sua intenção fazer um filme sobre os direitos homossexuais, no contexto do debate sobre a legalização do casamento gay na França este mês, e afirmou que a representação do sexo era para representar a beleza.
"Espero que nas cenas surja a ideia da beleza. Acho que a sensualidade é mais difícil de filmar e capturar na tela", disse.
Léa Seydoux, o diretor Abdellatif Kechiche e Adele Exarchopoulos, hoje em Cannes - foto: Reuters
O filme, baseado no romance de 2010 com o mesmo título em inglês, usa recorrentes imagens em close-up dos lábios da atriz principal, seja dormindo, comendo ou beijando sua parceira, numa técnica que cria uma ligação entre o espectador e a personagem.
Confira uma cena do filme:
E o aguardadíssimo novo longa da dupla de 'Drive' - o diretor Nicolas Winding Refn e o ator Ryan Gosling - decepcionou Cannes hoje.
Protagonizado por Gosling e Kristin Scott Thomas, "Only God Forgives" conta uma história de vingança, em que não falta violência gratuita.
Enquanto alguns exaltaram a estética apurada da direção de Refn como conceitual e artística, outros consideraram que a violência sem sentido não ajuda a contar a história.
O repúdio dos jornalistas foi tal que alguns abandonaram a première no meio de sua exibição, durante uma cena em que personagens são desmembrados - “Isto é uma porcaria!”, gritaram no meio da sessão.
A resenha da revista "Variety" afirmou que "um papel de parede demonstra mais emoção que Gosling" no novo filme de Refn, e que a "catatonia" do ator em "Drive" não é nada comparada à nova atuação.
De acordo com a revista "Time", Gosling conseguiu colocar mais emoção na nota que enviou a Cannes pedindo desculpas por não poder comparecer ao festival do que em seu papel no filme.
Para a revista, a atuação é uma "luz vermelha" para a carreira do ator canadense, sempre acima da média.
Já a "Time Out New York" afirmou que Gosling faz seu "patenteado ato emburrado".
O diretor Nicholas Winding Refn e a atriz Kristin Scott Thomas, hoje em Cannes - foto: AFP
Na entrevista coletiva, Refn admitiu que tem fetiche por emoções e imagens violentas.
“A arte é um ato de violência. Minha abordagem é um tanto pornográfica – é o que me excita e o que eu gosto de contar. Eu não posso censurar essa necessidade. Não se esqueça que o nosso próprio nascimento nos impele à violência. É instintivo, mas a arte nos permite expressá-la”, explica.
Sem a presença de Ryan Gosling, Refn dividiu a coletiva com a atriz Kristin Scott Thomas, cujo nome costuma ser mais associado a dramas sensíveis e papéis de mulheres aristocráticas.
A atriz confessou que aquele tipo de produção era uma novidade excitante para ela.
Na trama, ela interpreta uma mulher desprezível, que caminha em saltos altíssimos e traja vestidos super decotados com estampa de leopardo.
“Esse tipo de filme não é minha praia, mas, quando eu li o roteiro, fiquei empolgada em interpretar uma mulher diferente das personagens de classe alta que os ingleses parecem gostar de me ver interpretar”, ela contou.
De acordo com Refn, Scott Thomas “não teve problema nenhum em ser uma bruxa”.
Mais violento do que "Drive" - que deu o prêmio de Melhor Diretor a Refn em Cannes 2011 - em "Only God Forgives", Scott Thomas vive a mãe do personagem de Gosling, que após a morte de seu outro filho exige vingança.
Os dois irmãos vivem em Bagcoc, na Tailândia, onde mantém um clube de boxe usado como fachada de tráfico de drogas.
Tudo vai bem até que o irmão do protagonista estupra e mata uma jovem de 16 anos e, por consequência, é assassinado por um policial que controla o subúrbio da cidade.
A mãe ordena que o personagem de Gosling mate o policial como retaliação, o que motiva uma série de cenas violentas.
Gosling era esperado em Cannes, mas não foi porque está nos Estados Unidos rodando seu primeiro longa como diretor, "How to Catch a Monster".
Confira o trailer de "Only God Forgives":
O diretor americano Alexander Payne entrou com tudo na competição do Festival de Cannes.
Dois anos depois de "Os Descendentes" - que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme - ele volta à croisette com "Nebraska", uma tocante história em preto-e-branco sobre Woody Grant, um idoso que recebe uma daquelas cartas de promoção de revista dizendo que ganhou US$ 1 milhão - o velhinho acredita e insiste em viajar de Montana a Nebraska para pegar o dinheiro.
Mesmo sabendo que o pai está desiludido, um dos filhos topa levá-lo até lá e no caminho, Woody e toda a família param em sua cidade natal, visitando os parentes e velhos amigos.
Todos acreditam que o velhinho realmente se tornou milionário e querem uma parte do dinheiro, começando uma pequena confusão - um retrato ao mesmo tempo doce e amargo, engraçado e melancólico sobre a velhice e suas desilusões.
"Nebraska" parece o candidato perfeito para a Palma de Ouro: uma mistura sensível de drama e comédia com personagens muito humanos e atores em estado de graça e deve levar um bom prêmio do júri presidido por Steven Spielberg.
Como estreia apenas em novembro nos EUA, também deve chegar com força no Oscar.
Alexander Payne - esquerda - e a lenda Bruce Dern, hoje em Cannes - foto: Getty Images
"É a história de um filho que quer dar alguma dignidade ao pai. Meus pais também já estão velhinhos, sinto isso com eles, e acho lindo quando um filho faz isso. Recebi o roteiro nove anos atrás e me apaixonei, a história tem uma visão ao mesmo tempo engraçada e melancólica. É uma história tão modesta que merecia um visual despojado como o preto-e-branco. Mas sou só o diretor, é difícil pra mim dizer o que significa o filme. Terminei-o na última sexta-feira, ainda estou aprendendo com ele", disse o diretor.
Woody é vivido pela lenda Bruce Dern, de 77 anos e mais de 120 filmes no currículo - como o velho Carrucan de "Django Livre".
Hoje, Bruce é mais conhecido como o pai da acima da média Laura Dern ("Veludo Azul", "Jurassic Park') - que veio a Cannes prestigiar o pai e até se sentou no meio dos jornalistas na entrevista coletiva para acompanhar suas respostas.
Desde já, Bruce é o favorito ao Oscar de Melhor Ator em 2014 – com todo esse currículo, foi indicado apenas uma vez, por "Amargo Regresso" (1979), mas não levou.
A lenda brincou com o fato de que há 25 anos não vivia um protagonista nas telas.
"Quando você trabalha com outro Bruce, o Willis, não tem como não se sentir coadjuvante", disparou.
O ator levantou a bola de Payne ao colocá-lo no panteão dos grandes mestres com quem trabalhou.
"Ao longo da minha carreira, trabalhei com seis gênios: Kazan, Hitchcock, Dalton Trumbo, Coppola, Tarantino e agora Alexander Payne".
O diretor contou que recebeu o roteiro quando filmava "Sideways – Entre Umas e Outras", mas na época estava "de saco cheio de filmar dentro de carros".
O diretor escolheu Bruce Dern por ele estar em um de seus filmes preferidos, o drama "Amargo Regresso" (1978).
"A melhor coisa sobre Bruce é que ele é um grande ser humano. Qualquer um pode aprender a atuar, mas é o ser humano que faz o ator de destacar".
Payne trabalha agora em um filme de ficção científica que deve ser rodado na Noruega.
"Mas o roteiro está dando muito mais trabalho do que pensávamos, por isso ainda deve demorar um pouco", finalizou.
Confira o trailer de "Nebraska":
Esta talvez seja a melhor notícia de todo o festival: a lenda das lendas Jerry Lewis está de volta!
O maior comediante da história do cinema falado quebrou um jejum de 18 anos longe das telonas e está de volta em um drama - "Max Rose", de Daniel Noah, que estreou no Festival de Cannes.
No longa, Lewis vive um pianista de jazz de 87 anos que abdicou da carreira pela família e pelos filhos.
Quando fica viúvo, ele descobre que a mulher com quem viveu durante 65 anos talvez não tenha sido feliz com ele, e seu casamento tenha se baseado numa mentira.
O festival quebrou o protocolo e promoveu uma entrevista coletiva com Lewis antes mesmo de exibir o filme e a lenda das lendas matou os jornalistas de rir a cada resposta.
"Esse foi o melhor roteiro que recebi nos últimos 40 anos. E Daniel me trouxe os US$ 3 milhões que eu pedi, foi perfeito", brincou logo no início.
A lenda das lendas Jerry Lewis, hoje em Cannes - foto: People Magazine
Quando pediram a um repórter para levantar a voz para que Lewis entendesse a pergunta, desdenhou:
"Por que você está gritando?".
Quando ele abaixou a voz, mandou:
"Desculpe, não estou entendendo, você pode falar mais alto?"
Outro repórter pediu para ele comentar sua relação com Dean Martin.
"Ele morreu, você soube? Quando eu cheguei aqui e vi que ele não estava, sabia que algo estava errado."
Ao ser indagado sobre as mudanças no humor americano, deu uma aula magna:
"Não existe humor americano. Humor é humor, riso é riso. Se você faz um humor engraçado, as pessoas vão rir. Se você esticar muito a corda ou se esforçar demais, as pessoas não vão rir."
Confira a lenda das lendas de volta à ação, no trailer do longa:
DROPS DE CANNES
1.
Três anos depois de "Senna" - bem-sucedida biografia cinematográfica de Ayrton Senna - documentários esportivos sobre Jackie Stewart, Muhammad Ali e Pelé estão competindo no Festival de Cannes.
Em "Weekend of a Champion", o cineasta polonês-francês Roman Polanski segue Jack Stewart, seu amigo de longa data, enquanto ele se prepara para dirigir no Grande Prêmio de Mônaco em 1971, num momento em que os riscos para pilotos eram muito maiores do que são agora.
Polanski disse que tinha esquecido sobre o filme, que foi exibido no festival de cinema de Berlim, em 1972, mas nunca foi lançado, até que uma ligação recente de um laboratório de processamento que matinha a filmagem.
Ele decidiu ressuscitá-lo, acrescentando uma seqüência em que ele e Stewart se reúnem mais de 40 anos mais tarde para discutir como o esporte mudou.
Tri campeão mundial, Stewart, hoje com 73 anos, disse que a Fórmula 1 sempre esteve na vanguarda da tecnologia, "mas acho que a corrida ainda é tão boa hoje como sempre, talvez até melhor".
2.
Já o documentário do diretor britânico Stephen Frears, "Muhammad Ali's Greatest Fight", pretende chamar a atenção do público para a batalha judicial do boxeador depois que ele se recusou a lutar na Guerra do Vietnã, uma posição que o tornou conhecido muito além do seu esporte.
Ali recusou ser recrutado para o Exército dos EUA em 1967, com base em suas crenças religiosas e sua oposição à guerra - um herói para um crescente movimento anti-guerra, vilão para outros, que o consideraram culpado de evadir a convocação.
No auge de sua carreira, ele foi destituído de seu título mundial dos pesos pesados e banido dos ringues por quase quatro anos, enquanto o seu apelo judicial chegava até a Suprema Corte.
3.
Pelé, 72 anos, esteve em Cannes para discutir um filme sobre a sua vida que está sendo feito pelo produtor de Hollywood Brian Grazer e será lançado no próximo ano, quando o Brasil sedia a Copa do Mundo de 2014.
"Pelé" centra-se na ascensão do astro brasileiro a partir de uma infância pobre para levar seu país a sua primeira conquista de uma Copa do Mundo, na Suécia, em 1958.
Um documentário sobre sua vida chamado "Pelé Eterno" foi feito em 2004, mas ele disse que o novo está sendo feito para inspirar os jovens, muitos dos quais enfrentam perspectivas sombrias.
"A forma como construímos o filme é para a nova geração", disse o maior jogador de futebol de todos os tempos à Reuters em uma entrevista.
4.
A polícia procura pelo menos três homens suspeitos de participação no roubo de joias avaliadas em mais de US$ 1 milhão na semana passada em um hotel de Cannes, informou a polícia de Nice, que investiga o caso.
"São provavelmente pessoas especializadas neste tipo de roubo", disse à AFP o policial Philippe Frizon.
As joias - colares, pulseiras, brincos e anéis - foram roubadas durante a madrugada de sexta, quando pelo menos três homens entraram no quarto do Novotel ocupado por uma funcionária da joalheria suíça Chopard quando ela não estava no local, abriram um cofre e levaram as jóias que seriam usadas por várias estrelas de cinema nas festas e premières.
5.
Mas, ao que parece, os 'Ladrões de Casaca' estão à solta em Cannes.
Hoje, outro colar de grande valor foi roubado, disse à AFP a joalheria suíça De Grisogono.
Segundo a imprensa francesa, o preço do colar de diamantes roubado é estimado em 2 milhões de euros.
"Um colar foi roubado durante o Festival de Cannes e nós estamos colaborando com as autoridades", declarou à AFP uma porta-voz da joalheria, que não quis comentar as circunstâncias do roubo e o valor do colar.
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Com Alexandria Sage (Reuters), AFP, Times e The Hollywood Reporter
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