Havia muita expectativa em torno de "The Immigrant" - novo filme do americano James Gray ("Amantes", "Os Donos da Noite"), um filme lindo, sensível e muito bem dirigido, mas que deve sofrer com esse excesso de expectativa na reta final do festival.
Boa parte da imprensa saiu decepcionada da sessão na manhã desta sexta.
O longa foca a história de Ewa (Marion Cotillard), imigrante polonesa que desembarca em Nova York em 1921.
Sua irmã é detida por estar com tuberculose, e ela só consegue entrar nos EUA com a ajuda de um estranho, Bruno (Joaquin Phoenix) e lógico, Bruno não vai ajudá-la por nada, já que mantém um negócio de exploração sexual de mulheres e quer incluir Ewa no esquema.
Só que ele também se apaixona por ela e passa a tratá-la de forma diferente e as coisas se complicam quando seu primo, o mágico Orlando (Jeremy Renner) também se apaixona por ela, despertando o ciúme furioso de Bruno.
Conhecido por seu temperamento difícil com a imprensa, Joaquin Phoenix nem mesmo deu as caras em Cannes.
"Acreditem, Joaquin queria muito vir. Mas neste momento ele está rodando o novo filme de Paul Thomas Anderson (Vício Inerente)", disse o diretor.
Já Cotillard passou uma saia justa ao chegar para a sessão de fotos do filme: um cisco entrou em seu olho e ela teve que abandonar os holofotes às pressas.
Antes, disse que seu maior desafio em "The Immigrant" foi aprender o polonês.
"É uma língua bem complicada de aprender. Eu tinha 20 páginas de roteiro em polonês e apenas duas palavras que eu entendia", contou a atriz, que usou um professor para ajudá-la.
Gray brincou ao contar como escolheu a atriz para o papel.
"Estávamos jantando e Marion jogou um pão na minha cara quando eu disse que não gostava de certo ator. A expressão no rosto dela era incrível", disse.
O diretor fez uma defesa do imigrante nos EUA nos dias de hoje.
"A imigração mantém um país vital, interessante, flexível. Se você pega as várias ondas de imigrantes desde 1840, irlandeses ou italianos, as mesmas coisas era ditas contra eles: são sujos, burros, preguiçosos. E provaram que vieram para ficar. Quando vejo as mesmas palavras usadas para os latinos hoje, gostaria de lembrar que este é o mesmo argumento usado há mais de cem anos", defendeu.
O diretor James Gray, a atriz Marion Cottilard e o ator Jeremy Renner, hoje em Cannes - foto: AFP
Gray se inspirou em filmes como "O Poderoso Chefão 2" e "O Portal do Paraíso" para construir o visual do filme.
"Eu busquei algo como uma ópera, com emoções grandiosas. Queria a sinceridade das emoções. Kubrick dizia que queria fazer filmes mais ousados e mais sinceros. Quero fazer filmes tão sinceros, sem ironia, que se tornem ousados", explicou.
Se não cair nas graças do júri de Steven Spielberg para a Palma de Ouro, "The Immigrant" bem mereceria um prêmio de ator para Joaquin Phoenix ou de atriz para Cotillard.
Confira o trailer de "The Immigrant":
O ator dinamarquês Mads Mikkelsen - estrela da ótima série 'Haniball' e vencedor do prêmio de Melhor Ator em 2012 - voltou ao Festival de Cannes como protagonista do filme "Michael Kohlhaas", uma produção histórica de ação que reflete sobre o poder e a justiça.
Exibido nesta sexta e também na disputa pela Palma de Ouro, o filme do francês Arnaud des Pallieres e ambientado no século XVI nas montanhas de Cevennes (centro da França) é uma adaptação do livro de mesmo nome do alemão Heinrich von Kleist (1777-1811).
"Descobri este texto quando iniciava minha formação de cinema, aos 25 anos, e desde então não parei de pensar nele", explicou o diretor.
"Michael Kohlhaas" conta a história de um próspero comerciante de cavalos, que depois de ser vítima da injustiça de um homem poderoso termina criando um exército e recorre à violência para obter o que exige.
"É muito difícil julgar o personagem. Há uma resposta por espectador. O espectador pode chamá-lo de terrorista, justiceiro ou revolucionário e tomar partido, e esta era a base do meu projeto"", disse Pailleres.
O ator Mads Mikkelsen, hoje em Cannes - foto: AFP
O diretor destaca em particular o momento em que Kohlhaas, à frente de uma revolta que está perto de conquistar o poder, renuncia ao objetivo, baixa as armas e volta para casa - talvez por falta de recursos, a ação mostrada no filme não corresponde à trama relatada.
Pailleres, cuja câmera parece fascinada pelo rosto do ator dinamarquês, destacou "a sutileza, a gentileza e a intensidade da interpretação de Mads Mikkelsen, que consegue conservar a complexidade" do personagem de Kleist.
Mikkelsen recebeu em 2012 o prêmio de Melhor Ator em Cannes pelo papel de um professor injustamente acusado de pedofilia em "A Caça" e declarou na coletiva de imprensa que "um ano depois é muito gratificante estar em Cannes, deveria virar uma tradição".
Confira um trailer de "Michael Kohlhaas":
Um cineasta iraniano que foi preso sob a acusação de propaganda antigoverno em 2010 lançou nesta sexta em Cannes um novo filme sobre opressão estatal, que ele rodou em segredo em seu país.
Mohammad Rasoulof foi considerado culpado por "ações e propaganda contra o sistema", depois de tentar fazer um documentário sobre os distúrbios que se seguiram à controversa reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.
Ele foi condenado a 6 anos de prisão e proibido de fazer filmes e de deixar o Irã por 20 anos, mas, após recurso, a sentença foi reduzida para um ano de prisão e a Justiça removeu as proibições de viajar e fazer cinema.
Depois de todo esse calvário, a plateia ovacionou de pé seu novo filme, "Dast-Neveshtehaa Nemisoosand" (Manuscritos Não Queimam), em uma exibição para a imprensa.
Rasoulof disse que o filme foi baseado na história verdadeira de 21 escritores e acadêmicos iranianos que viajavam num ônibus e foram alvo de um atentado fracassado, ao qual sobreviveram.
O diretor Mohammad Rasoulof, hoje em Cannes - foto: The Independent
O cineasta descreveu o ataque como um "episódio obscuro" na comunidade intelectual iraniana, que se concentra especialmente em um autor que escreve secretamente suas memórias sobre o período em que foi prisioneiro político e as tentativas das autoridades para destruir sua obra.
Rasoulof disse que o filme nunca será mostrado no Irã por causa do tema: ele não tentou obter uma licença para rodá-lo, pois sabia que seria recusada, e se esforçou para reunir elenco e equipe de filmagem.
"Demorou dois anos para juntar as pessoas que poderiam fazer os papéis e que aceitariam fazer isso e cooperar com a gente", declarou Rasoulof à Reuters TV em entrevista realizada num jardim perto da orla de Cannes.
A película não tem créditos.
"Decidimos em conjunto permanecer no anonimato o quanto for possível, já que sabíamos que poderia haver consequências", disse Rasoulof, que pretende voltar para o Irã em breve.
O presidente do festival, Gilles Jacob, descreveu o festival como "uma terra de acolhimento", citando os esforços ao longo dos anos para prover uma plataforma de refúgio para os cineastas de todo o mundo que são perseguidos ou censurados pelos seus governos.
O filme anterior de Rasoulof, "Goodbye", sobre um jovem advogado de Teerã tentando obter um visto para deixar o país, ganhou o prêmio de melhor diretor na exibição "Um Certo Olhar" - mostra paralela de Cannes, na qual são apresentadas obras de cineastas emergentes e inovadores - em 2011.
A mulher dele recebeu o prêmio, já que Rasoulof estava em liberdade sob fiança no Irã e aguardava a decisão judicial sobre o recurso contra sua sentença de prisão.
O diretor e o elenco de "Dast-Neveshtehaa Nemisoosand", hoje em Cannes - foto: Reuters
A sexta se encerrou com um dos principais eventos de benemerência do mundo, quando, com a Diva Sharon Stone no comando, a amfAR - fundação americana criada por Elizabeth Taylor e que luta contra a Aids - arrecadou 25 milhões de euros em uma cerimônia de gala no Festival de Cannes.
Nicole Kidman, Leonardo DiCaprio, Janet Jackson, Duran Duran, Kylie Minogue e outros 900 convidados compareceram ao evento de caridade, que completou 20 anos na França.
A Diva Sharon Stone chega á festa da amfAR - fotos: Getty Images
Dame Shirley Bassey, que interpretou durante a noite vários clássicos - como o tema de 007, "Goldfinger" - Kristin Scott Thomas, o produtor Harvey Weinstein, Adrien Brody, os franceses Guillaume Canet, Mélanie Laurent, Ludivine Sagnier e Audrey Tautou também estavam presentes.
O evento, reservado a personalidades, grandes empresas e marcas de luxo, tem mesas de 10 lugares ao custo de 120.000 euros, enquanto o convite individual custa 3.000.
Uma viagem ao espaço com Leonardo DiCaprio arrecadou 1,2 milhão de euros - o ator surgiu como o convidado misterioso para acompanhar o vencedor de um voo da Virgin Galactic para o espaço.
O leilão começou em 1 milhão de euros e Sharon Stone disse que o vencedor iria passar três dias em treinamento com DiCaprio no México antes da decolagem.
"Você não consegue ir ao espaço todos os dias com um astro bonito do cinema", disse Sharon.
O catálogo para a noite de gala repleta de celebridades realizada no Hotel du Cap-Eden-Roc, em Antibes, perto de Cannes, revelou que DiCaprio e o vencedor estariam entre as primeiras mil pessoas a deixar o planeta.
O vencedor, Vasily Klyukin, de 37 anos, um russo que mora em Mônaco, disse que sempre quis ir para o espaço.
"Eu quero ser um pouco ousado", disse Klyukin, que trabalha no setor imobiliário, à Reuters.
"Vou ter que deixar de fumar agora, com certeza!".
Leonardo DiCaprio no evento da amfAR - foto: Getty Images
Após o lance vencedor de Klyukin - que também comprou um colar de ouro e diamantes por 400 mil euros - Sharon anunciou que dois outros lugares estavam disponíveis no voo - eles levantaram mais 1,8 milhão de euros.
No total, o leilão arrecadou 25 milhões de euros, mais do que o dobro dos 11 milhões de euros levantados no ano passado.
Desde 1993, esta prestigiosa festa, criada pela Diva das Divas Elizabeth Taylor - já arrecadou 62 milhões de euros - revertidos totalmente para pesquisas de tratamento e cura da Aids.
DROPS DE CANNES
1.
Os curtas brasileiros "Pátio" e "Pouco mais de um mês" marcaram presença em mostras paralelas do Festival de Cannes, concorrendo com outras oito produções.
"Pátio", de Ali Muritiba, retrata o dia a dia de presos que jogam futebol, dançam capoeira e falam sobre liberdade - a filmagem é feita de trás das grades do presídio e a produção compete com outras oito na Semana da Crítica do festival.
O Brasil também está representado na Quinzena dos Realizadores, com "Pouco mais de um mês", de André Novais Oliveira, que explora jogos de luz para contar a história de um casal que se conheceu recentemente, na vida real e na ficção - o cineasta prepara seu primeiro longa, "Ela volta na quinta".
2.
Apesar de não haver nenhum representante da América Latina entre os nove curtas que disputam a Palma de Ouro neste domingo, o Festival de Cannes exibiu criações de vários autores latinos em várias seções.
Além do Brasil, há filmes de Colômbia, Chile e Argentina - em alguns casos, são prévias de projetos cinematográficos mais ambiciosos.
3.
Além dos filmes que passaram pelas seleções oficial e paralela, há em Cannes o Short Film Corner, um fórum de discussões e contatos em estão inscritos centenas de curtas-metragens do mundo inteiro.
4.
Um poodle branco com catarata ganhou a Palma Canina: se críticos presentes ao prestigiado festival francês elogiaram muito Michael Douglas por sua interpretação do pianista Liberace - em "Atrás do Candelabro", de Steven Soderbergh - foi o chamativo cãozinho cego do pianista no longa, "Baby Boy", quem conquistou uma premiação.
A cerimônia de entrega da Palma Canina é realizada paralelamente à mostra oficial de cinema, todos os anos, para homenagear o desempenho mais memorável de cães no festival - o nome é uma referência bem-humorada à Palma de Ouro, principal honraria concedida pelo Festival de Cannes.
O organizador, Toby Rose, disse que as plateias ficaram extasiadas com a atuação de "Baby Boy", que, ao ficar doente, numa cena do filme, acaba reaproximando Liberace de seu novo amante.
5.
O homem que enganou celebridades, fotógrafos e organizadores do Festival de Cannes ao se passar pelo cantor coreano Psy é um francês de 34 anos, chamado Denis Carré, e que vive em uma área rural do país.
As informações são do jornal francês "The Local", que publicou que Denis começou a se passar pela estrela pop sul-coreana em 2012, após ter sido cercado por fãs do cantor em um clube noturno de Dublin.
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Com Thiago Stivaletti (UOL), AFP, Reuters e site do festival
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