sábado, 25 de maio de 2013

FESTIVAL DE CANNES: POLANSKI E JARMUSCH ENCERRAM EXIBIÇÕES DOS CONCORRENTES À PALMA DE OURO


A lenda Roman Polanski surpreende mais uma vez.

Seu novo filme, "La Venus a la Fourrure", foi o último exibido na competição de Cannes, que neste domingo (26) anuncia seus premiados.

Depois de filmes em que parecia ter medo de arriscar, como "O Escritor Fantasma" e "Deus da Carnificina", "Venus in Fur" mostra mais ousadia.

É seu primeiro filme rodado em francês, com apenas dois personagens e todo passado dentro de um teatro, onde uma atriz, Vanda (Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski), chega atrasada para a audição de uma peça e encontra o diretor, Thomas (Mathieu Amalric), prestes a ir embora.

A peça é "Venus in Fur" - do austríaco Leopold Sacher-Masoch, a quem devemos o termo "masoquismo" - onde um homem pede à mulher que ama para que o torne seu escravo e inflija a ele todas as torturas que quiser.

Pouco a pouco, Vanda e Thomas começam a viver entre eles as perversões dos personagens.

Com seu jeito rabugento, o diretor fez os jornalistas gargalharem, pedindo a todo momento (em vão) que as perguntas não fossem só para ele.

"Me deram esse texto há exatamente um ano, aqui em Cannes. Eu tinha esse sonho de fazer um filme só com dois atores. Meu primeiro longa, "A Faca na Água" (1962), tinha apenas três personagens. Meu maior desafio era não entendiar o espectador", contou.

A atriz Emmanuelle Seigner beija o seu marido, Roman Polanski, hoje em Cannes - foto: The Guardian

Ao ser perguntado se teve que dominar os atores durante a filmagem, Polanski brincou:
"Claro que sim. O filme é sobre dominação. Mas na maior parte do tempo eles gostavam. Pelo menos nunca reclamaram".

O diretor do cult "O Bebê de Rosemary" (1968)  diz que a sátira dos sexos presente no texto o seduziu para o projeto.

"Gosto muito dessa idéia do macho que é despedaçado ao longo da história. Tentar nivelar os sexos como se faz hoje em dia é algo idiota. É uma pena, oferecer flores a uma mulher tornou-se algo indecente. Isso é o resultado do marxismo e do progresso da medicina. A pílula ajudou a masculinizar a figura da mulher".

Polanski é cético quando lhe perguntam se hoje em dia ainda se pode encontrar um roteiro tão genial quanto o de outro cult dirigido por ele - "Chinatown" (1974).
"Tem sempre algo bom por aí. Mas se vai cruzar o meu caminho, não sei dizer".

O diretor se ressente do lado ruim que a fama lhe trouxe.

"Venho ao Festival de Cannes desde que eu era estudante. Eu me divertia mais quando era um desconhecido, porque as pessoas não me incomodavam para pedir fotos, como alguns de vocês vão fazer assim que terminar esta coletiva".

E é humilde ao falar do próprio talento e lembrar a Palma de Ouro que ganhou em 2002 - por "O Pianista".

"Apresentei o filme em Cannes e voltei para Paris. No dia da premiação, meu produtor disse que eu devia voltar para cá. Achei muito estranho, porque já vivi o suficiente para saber que não sei dirigir um filme."

Se você não sabe dirigir, Monsier Polanski, então ninguém mais sabe!

Polanski dirige cena do filme - foto: divulgação

O último filme em competição é assinado por um queridinho da Croisette, o elegante diretor americano Jim Jarmusch, que "nasceu" no Festival de Cannes de 1984, onde seu primeiro longa, "Stranger Than Paradise" recebeu o Camera d'Or, prêmio para melhor primeira obra.

Em "Only lovers left alive", o cineasta se diverte ao deturpar os códigos de filmes de gênero, neste caso, os personagens de filmes de vampiros.

Entre uma estética acelerada e uma trilha sonora incrível, o cineasta passeia seus heróis - interpretados por Tilda Swinton, um vampiro muito elegante, e Tom Hiddleston ( o Loki da saga 'Thor'), versão impecável de um músico deprimido - por Detroit e Tânger, em uma parábola engraçada e cínica sobre o atual mundo humano e o sangue contaminado.

John Hurt, Tom Hiddleston, Jim Jarmusch e Tilda Swinton, hoje em Cannes - foto: AFP

O longa conta ainda com um fantástico desempenho da lenda John Hurt.

Confira cena de "Only lovers left alive":


DROPS DE CANNES

1.
Ainda hoje à noite, o festival prestará uma homenagem para duas lendas do cinema: a atriz Kim Novak - intérprete inesquecível de "Um Corpo que Cai", de Alfred Hitchcock - e o ator francês Alain Delon ("Plein Soleil" , "O Leopardo")

2.
Domingo, como de costume, o júri se reunirá na parte da manhã para deliberar.

A cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá a partir das 19h.

3.
A Semana da Crítica, uma das principais mostras paralelas do festival, encerrou na última quinta com a exibição de "3 x 3D", no qual três diretores experimentam pela primeira vez o formato em três dimensões: o francês Jean-Luc Godard ("Acossado", "Filme-Socialismo"), o inglês Peter Greenaway ("O Livro de Cabeceira") e o português Edgar Pêra ("O Barão").

Apesar de usar pouco o 3D, o de Godard é o mais interessante, seguindo a mesma montagem ensaística dos seus últimos filmes e de "História(s) do Cinema".

4.
"Salvo", primeiro filme dos italianos Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, levou dois dos maiores prêmios da Semana da Crítica – o do júri Nespresso, presidido pelo português Miguel Gomes ("Tabu") – e o do júri Revelação France 4, presidido pela diretora francesa Mia Hansen-Love.

O filme conta a história de um membro da máfia siciliana que precisa matar um homem, mas depois sente-se responsável pela irmã da vítima, uma moça cega, e a toma sob sua proteção, começando com ela uma estranha relaçãode amor.

5.
O canadense "Le Démantelement" (O desmantelamento), de Sebastien Pilotte, sobre um homem de mais de 70 anos que decide vender sua fazenda para ajudar financeiramente uma das filhas, levou o Prêmio SACD - da Sociedade dos Autores da França.

6.
Este ano, a lista de novos talentos mostrada em Cannes já conta com nomes como Emma Watson - a Hermione de "Harry Potter" - e Oscar Isaac, estrela do novo longa dos irmãos Coen, "Inside Llewyn Davis".

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Com Thiago Stivaletti (UOL), Reuters e AFP

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