Dois dos maiores quadrinistas de todos os tempos estão no Brasil, participando da FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty/RJ.
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Fat Freddy, Freewheelin` Franklin e Phineas; trupe de hippies maconheiros em "Fabulous Furry Freak Brothers", de Gilbert Shelton |
Donos de traços livres, caricaturais e com temáticas até então vistas como tabu, os quadrinhistas americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton, revolucionaram o mundo das HQs no clima da contracultura dos anos 1960 e 1970.
Os dois se apresentam hoje na mesa "A origem do universo" da Flip, às 19h30, que discutirá a história dos quadrinhos.
"Fritz, the Cat" (Conrad), de Crumb, e"Fabulous Furry Freak Brothers"(Conrad), de Shelton, são histórias consideradas como marcos das publicações alternativas nos EUA.
A primeira, idealizada em 1964, traz a história de um gato intelectual, politicamente incorreto e mulherengo que vive em uma metrópole povoada por animais.
Já a segunda, criada em 1967, capta o estilo de sexo, drogas e rock`n`roll da época.
A HQ narra as confusões vividas por Fat Freddy, Phineas e Freewheelin` Franklin, uma trupe de hippies maconheiros e picaretas.
Em confronto direto com os valores de sua época, como o consumismo exagerado e o conservadorismo sexual e político, os trabalhos da dupla foram inicialmente publicados na revista alternativa "Zap Comix" (Conrad).
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auto retrato de Robert Crumb |
Entre as obras célebres de Crumb está "Mr. Natural" (Conrad), uma espécie de guru que por meio de seus conselhos e máximas, termina por satirizar muitos dos aspectos da sociedade pós-moderna.
O autor não tem um alvo específico: "perdedores", machistas, conservadores, moralistas e "almofadinhas", todos passam por sua crítica bem humorada.
Seus personagens são marcados pelos corpos desproporcionais, por vezes roliços e cheios de lascívia.
Em "Gênesis" (Conrad), inspirador do nome da mesa da Flip ("A origem do universo") e seu trabalho mais recente, o quadrinhista desenha sua própria versão da criação bíblica do mundo.
Com todos os estupros, guerras e momentos polêmicos do texto original, o artista não tem a intenção de satirizar e mantém o texto do livro religioso.
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"Gênesis" |
Crumb também realizou parcerias célebres.
A série "American Splendor" (sem publicação no Brasil), idealizada por Harvey Pekar e adaptada para o cinema em 2004, por exemplo, ganhou vida pela primeira vez nos traços do artista.
As vivências da dupla podem ser acompanhadas na publicação"Bob & Harv" (Conrad).
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O Fantástico Porco-Verruga frequentou alguns volumes da "Zap Comix" nos EUA |
O autor também já adaptou textos de escritores célebres, como em "Kafka de Crumb" (Desiderata), sobre o escritor Franz Kafka (1883-1924).
Gilbert Shelton é responsável por "Wonder Wart-Hog (the Hog of Steel)", realizada em conjunto com Tony Bell, uma sátira das histórias de super-heróis, principalmente do super-homem.
Atualmente, o artista trabalha na produção de um longa-metragem animado com os irmãos maconheiros.
Quase todos os anos a Flip reserva espaço para a chamada nona arte.
Em 2009 a arte sequencial foi representada pela nova geração de quadrinhistas brasileiros com Rafael Coutinho, de "Cachalote", os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, de "Meu Coração, Não Sei Por Quê" (Via Letras), e Rafael Grampá, que participou da coletânea "Bang Bang"(Devir).
No ano anterior foi a vez do cultuado escritor Neil Gaiman, autor da série de quadrinhos "Sandman" (Panini Comics).
Ele atraiu legiões de fãs que foram ao evento unicamente para vê-lo.
DOIS GÊNIOS EM PARATY
Depois de fugir durante três dias dos jornalistas em Paraty, o quadrinista norte-americano Robert Crumb finalmente deu uma amostra de seu humor ácido na coletiva de imprensa,ontem de manhã:
"É bizarro participar de uma festa literária. Me assusta o fato de as pessoas estarem levando histórias em quadrinhos a sério", disse.
Crumb, 66, que vive há mais de dez anos na França, mais uma vez reclamou dos Estados Unidos: "É um país fascista e corporativista. Estou envergonhado dele... Na verdade, estou envergonhado de viver no planeta Terra, mas fazer o quê?".
Incomodados com o tratamento de celebridade, pediram que os fotógrafos dessem uma trégua. Na entrada, Crumb mostrou o dedo do meio às máquinas.
As respectivas mulheres dos dois, Aline Crumb e Lora Fountain, contaram que foram elas que convenceram a dupla a vir ao Brasil.
"Ele está feliz por estar aqui", disse Aline, batendo nas costas do marido.
"Sim, querida", respondeu ele, fingindo estar sem graça.
"Você tem razão. Estou me divertindo muito."
Fã de música antiga, Crumb anunciou querer comprar discos de 78 rotações de canções brasileiras dos anos 1920 e 1930.
"Quem nos vender pode ser nosso amigo", brincou Aline.
E para comemorar a passagem dos dois gênios pelo Brasil, o repórter da "Folha" Ivan Finotti fez o roteiro, e o desenhista Rafael Coutinho conseguiu recriar os passos de Crumb e Shelton em Paraty, usando traços característicos da obra dos dois.
Ficou bem legal.
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