Na TV desde os sete anos de idade, Mello negou que tenha fama de intelectual e disse assiste a vários programas considerados "toscos", como "Zorra Total", "Programa Raul Gil" e "Big Brother". "Torci muito para o Rafinha ganhar o 'BBB 8'. Mas não cheguei a ligar e votar."
Em "A Cura", Selton interpreta um médico, Dimas, que saiu de Minas Gerais ainda jovem, depois de ser acusado de matar um coleguinha de escola. Mais tarde, vai descobrir que consegue curar pessoas sem fazer uso da medicina tradicional.
UOL - O que te levou a aceitar fazer o Dimas de "A Cura"?
Selton Mello - Foi uma série de fatores. O texto dos autores João Emmanuel Carneiro e Marcos Bernstein é muito bom. Dimas é um grande personagem. E "A Cura" é um seriado diferente, porque as histórias não se encerram em episódios. Tem que acompanhar para entender. Voltar a trabalhar com o [diretor] Ricardo Waddington também me animou. A gente trabalhou junto em "Corpo a Corpo", em 1984. Além disso, a cura espiritual é um assunto que atrai o público. Eu tenho curiosidade sobre esse tem
UOL - Você acredita em espiritismo?
Selton Mello - Não sou um cara ligado em religião. Sou mais para cético, mas acho que Shakespeare tinha razão quando dizia que "há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia."
UOL - Se você é cético, então nunca fez uma simpatia sequer, certo?
Selton Mello - Ah! Já fiz simpatias [risos]. Mas não lembro qual. Minha mãe é que sempre apela para São Longuinho quando perde alguma coisa.
UOL - Entrar em "A Cura" não te dá vontade de voltar a fazer novelas?
Selton Mello - Sou muito preguiçoso e cinema dá mais agilidade. A gente termina um filme em um mês e meio. Em um ano, dá para fazer três filmes e ainda tirar férias. Na televisão isso não acontece porque as novelas são obras longas.
UOL - Foi por isso que você não aceitou fazer "Lado a Lado", a próxima novela de Gilberto Braga?
Selton Mello - Foi. Recusei o papel com muita pena. Eu quero voltar para a TV, mas ainda tenho essa preguiça. Acho que a televisão fala para muita gente. "O Cheiro do Ralo" [2007] foi um filme que adorei fazer, visto por 170 mil pessoas. A televisão fala com milhões de telespectadores e 170 mil é quase nada se comparado ao alcance da TV. A superexposição da mídia televisiva também me incomoda um pouco.
UOL - Mas você não costuma ser perseguido pelos paparazzi.
Selton Mello - Justamente por não estar tão exposto. Vivo uma vida mais mineira, sem fotógrafos na minha porta. Mas entendo porque todo mundo é um pouco voyer.
UOL - Você se inclui nessa categoria?
Selton Mello - Se eu estiver sentado no sofá esperando para ser atendido no dentista, leio revistas de celebridades. Eu também gosto de saber quem está com quem, quem pegou quem...
Selton Mello em "Meu Nome não é Johnny" (2008)
UOL - Você não namora?
Selton Mello - Estou solteiro, mas dou umas namoradas de vez em quando, é claro. Só que eu acho que o Rio de Janeiro não se resume ao Leblon. Sou um mineiro típico [risos]. Tem cinemas ótimos na Tijuca e restaurantes bem legais no Méier, por exemplo. Tenho amigos que reclamam porque foram fotografados. Mas estavam justamente no Leblon. Não dá pra reclamar, né?
UOL - Filhos e casamento estão nos seus planos?
Seltom Mello - Quanto mais velho, a gente vai ficando mais exigente [risos]. Fui me acostumando com carreira solo e agora acho difícil dividir o palco com alguém. Quanto aos filhos... O tempo do homem é diferente do da mulher. Posso ser pai aos 50 anos!
UOL - Você não acha que um contrato com a televisão dá mais estabilidade financeira do que viver de cinema?
Selton Mello - Minha liberdade não tem preço. E eu vivo bem com o cinema.
UOL - Você não teme deixar de receber convites dos autores depois de tantas recusas?
Selton Mello - De forma nenhuma. Esses anos todos eu tenho recebido convites para a televisão. Eu ia fazer "Paraíso Tropical" [2007], mas tinha o filme "Meu Nome Não É Johnny" no meio da novela. Como eu poderia falar para o Gilberto Braga que ia parar no meio da novela para fazer um longa? Não dava para eu aceitar o convite da novela porque queria muito fazer o Johnny. Além do mais, eu fui sincero quando disse que não queria contrato e a Globo entendeu. Não subi num pedestal nem usei de arrogância quando fiz essa escolha.
UOL - Você aceitaria fazer um papel na televisão fora da Globo?
Selton Mello - Se o personagem for bom, por que não?
UOL - Se atuar na TV está praticamente descartado de seus planos, pensa em estrear na direção de programas televisivos?
Selton Mello - Acho que esse pode ser o caminho. Gostaria de fazer adaptações da literatura brasileira para a TV, como o Guel Arraes fez na década de 90. [Entre 1995 e 1997, Guel fez a série "A Comédia da Vida Privada", com adaptações de textos de Luis Fernando Verissimo].
UOL - O que você vai fazer quando terminar de gravar "A Cura"?
Selton Mello - Vou finalizar o filme "O Palhaço", em que eu dirigi e atuei ao lado de Paulo José que, para mim, é um dos melhores atores desse país. Ele luta contra o mal de Parkinson, já fez várias cirurgias e tem uma vontade enorme de se expressar. Ele faz filme, faz peças e isso é bonito de se ver.
Entrevista a FÁBIA OLIVEIRA/UOL
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