terça-feira, 24 de agosto de 2010

INVENTANDO DONA DILMA

Se do lado da oposição, a campanha de Serra Nomuro deu 100% errado, no outro lado, os planos de Luiz Inácio revelaram-se corretos, nos detalhes.

Todas as últimas pesquisas só comprovaram isso.

Bastaram três dias de propaganda eleitoral para Dona Dilma disparar à frente de Nomuro: foi a 47%, e o tucano não passa dos 30%.
A diferença foi de oito para 17 pontos, e se ficarmos apenas nos votos válidos, a invenção do Luiz Inácio vai a 54%.
Se a eleição fosse hoje, Dona Dilma estaria eleita no primeiro turno.

Foto: Universal Pictures - Arte: Cláudio Nóvoa
Imagem do filme"A Noiva de Frankestein" (1935)

Dono de uma intuição primorosa, Luiz Inácio bolou sua tática eleitoral em oito movimentos, que, até agora, permanecem todos em pé:

1. Antecipando o calendário:
No Brasil, são três as evidências que dizem a um presidente que chegou a "síndrome do fim do mandato".
De uma hora para outra, sem aviso, o cafezinho vem frio.
Os aliados se afastam.
À sua volta começa um "cunversê" - que ninguém consegue parar - sobre a sucessão presidencial.

Com o atural presidente, tudo aconteceu ao contrário.
O cafezinho ainda vem tão quente como seus índices de popularidade.
O PMDB - nosso querido Partido Puteiro - ainda puxa o seu saco.
E sua sucessão foi antecipada em dois anos pelo próprio presidente, que colocou Dona Dilma na vitrine, já em 2008.

2. Rapidez no gatilho:
Ao impor Dona Dilma goela abaixo ao PT, Luiz Inácio censurou um debate interno que levaria o seu partido a uma briga de foice no escuro.
Neo-petista e ex-PDT, Dona Dilma não era a preferida de ninguém, nem do próprio Luiz Inácio, que pensou outros nomes.

Antonio Palocci, seu ex todo poderoso Ministro da Fazenda e o primeirão da fila, virou carta fora do baralho por causa do escândalo do caseiro Francenildo.
Antes dele, Zé Dirceu estava cotadíssimo, mas foi esvaziado no ralo do mensalão.
Quando petistas históricos, como Patrus ‘Bolsa Família’ Ananias e Tarso ‘Justiça’ Genro esboçavam os primeiros movimentos no tabuleiro, Luiz Inácio aplicou-lhes o xeque-mate.

No início de 2008, Dona Dilma apareceu nas pesquisas com percentuais ínfimos –2% a 3%.
Em maio daquele ano, já estava nos 10%.
No final do ano, FHC - a tia tucana invejosa da janela - dizia, no particular, que a presença de Dilma no segundo turno de 2010 era mais que certa, e que ela não teria menos do que 30% dos votos.

3. Desconstruindo Ciro Gomes:
Luiz Inácio decidiu que seu governo seria representado na campanha por um único candidato.

Nos bastidores, entregou-se à desconstrução de Ciro Gomes, primeiro mandando o cearense para a a disputa pelo governo de SP.
Ao perceber que Ciro resistia à idéia - mesmo tendo transferido seu domicílio eleitoral para São Paulo - Luiz Inácio cortou seu oxigênio.

De um lado, tirou dele todas as perspectivas de alianças com legendas governistas, e, do outro, acertou-se com o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente do PSB.
Torpedeado por sua própria legenda, Ciro ruiu como um " candidato Porcina", aquele que foi sem nunca ter sido.

4. Apostando no plebiscito:
A intuição do presidente lhe dizia que as eleições de 2010 repetiriam um embate que, desde 1994, submete as disputas presidencias brasileiras a um bipartidarismo de fato.
De um lado, o PT. Do outro, o PSDB.
Guiando-se pelas pesquisas que provavam a impopularidade da era tucana, Lula decidiu colocar FHC na rodinha.
Sua frase foi: “Seremos nós contra eles”.

Num jantar no Alvorada em dezembro de 2009, Ciro chegou a dizer a Luiz Inácio que sua estratégia estava errada, pois era um risco grande converter Dona Dilma em candidata, e assim fazer de Serra Nomuro o próximo presidente da República.
Luiz Inácio nem deu confiança, pois dizia, já nessa época, que a eleição seria definida num turno, a seu favor.

5. A megacoligação:
No início de 2010, enquanto a tucanada ficava no "uni-duni-tê" - do Serra ou Aécio? - Luiz Inácio cuidava pessoalmente de reproduzir ao redor de Dona Dilma a coligação de partidos que lhe dá suporte no Congresso.
Esperto, já pensava no tempo de TV, pois sabia que Dona Dilma, desconhecida, precisava de uma vitrine televisiva ampla.

Ao mesmo tempo, num movimento iniciado em 2008, Luiz Inácio arrancava Dona Dilma do gabinete, colocava a sua escolhida debaixo do braço e a levava às inaugurações de obras, por todo o país, onde a batizou de “mãe do PAC”, dando a ela musculatura política - a uma economista, técnica - que nunca tinha sido submetida ao teste das urnas.
Com seu prestígio pessoal, e incontáveis vezes passando por cima da lei eleitoral - é o recordista de multas no TSE - trouxe para o lado de Dona Dilma uma megacoligação de 11 legendas.


6. Priorizando o PMDB:
Na criação da aliança, Luiz Inácio deu prioridade ao PMDB, ordenou ao PT que não ambicionasse eleger muitos governadores, e deixou claro que o palanque nacional era muito mais importante que os estaduais.

Enquanto Serra Nomuro ainda dizia que não era candidato, retardando a formação dos palanques regionais da oposição, Luiz Inácio empurrava o PMDB goela abaixo do PT, sem nenhuma "branquinha", tão ao seu gosto, pra ajudar.
Impôs, em Minas, Hélio Costa, do PMDB, aos petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias.

7. Escolhendo um vice:
Lula demorou a aceitar o presidente da Câmara Michel Temer.
Assim que soube que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ainda tinha pretensões políticas, desaconselhou a filiação dele ao PP de Goiás, e mostrou a ele a porta do PMDB.
Queria fazer dele o vice de Dona Dilma.

Simultaneamente, Temer conseguiu o impossível: uniu o PMDB da Câmara - sob seu poder - ao PMDB do Senado - onde quem manda são os "Coronés" Sarney e Renan Calheiros.
Virou a concórdia de uma legenda pautada pela discórdia.
Depois, Temer mostrou suas cartas.
Luiz Inácio, mais uma vez, usou a sua intuição, e viu que não valia a pena pagar pra ver.
Em troca, entregou a Dona Dilma um PMDB unido como nunca antes na história desse país.

8. A despedida sob os holofotes:
No estágio atual da campanha, Luiz Inácio deu um nó na cabeça da oposição.
Consegue converter a emoção da despedida do presidente superpopular em arma eleitoral.
Chorou num ato de 1º de Maio, num comício em Curitiba e numa entrevista de televisão.
Virou o "paizão" que transfere o povo que o adora para o colo da grande “mãe”, uma ex-poste que transformou Serra Nomuro no mais preparado ex-futuro presidente que o Brasil já teve.

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